• Título Original: O Lobo Atrás da Porta
  • Gênero: Drama/Suspense
  • Ano: 2013
  • Direção: Fernando Coimbra
  • Roteiro: Fernando Coimbra
  • Elenco: Leandra Leal, Milhem Cortaz, Fabiula Nascimento, Juliano Cazarré, Thalita Carauta & Tamara Taxman
  • Duração: 100 minutos
  • País de Origem: Brasil

Fico feliz ao perceber que consecutivamente o melhor filme nacional do ano é dirigido por um rosto que estreia na direção de um longa-metragem. Ano passado, Kleber Mendonça Filho nos surpreendeu com o mundialmente aclamado, “O Som ao Redor”, um retrato da classe média dos grandes centros urbanos. Agora, nos surge Fernando Coimbra, diretor que têm experiência “apenas” na realização de curta-metragens. Em comum entre os dois, tem-se o fato de usarem abordagens ainda pouco exploradas no país. Ainda que o gênero suspense venha recebendo maior espaço, ganhando mais força após os ótimos “Trabalhar Cansa” e “Quando Eu Era Vivo”, ambos da também relevação Marco Dutra, o dinamismo e a condução da trama de Coimbra, é totalmente diferente dos já realizados .

O filme é livremente inspirado no caso “Fera da Penha”, o qual aconselho aos que não conhecem maiores informações, evita-las afim de não estragar nenhuma surpresa durante seu andamento.  No melhor estilo “Rashomon”, obra-prima do mestre Akira Kurosawa, cada um dos personagens conta a sua versão sobre o mistério que ronda o desaparecimento de uma criança. O pai ( Milhem Cortaz ), a mãe ( Fabiula Nascimento ) e a amante ( Leandra Leal ), são as principais figuras envolvidas.

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“O Lobo Atrás da Porta” é um filme direto e cruel. Nos primeiros cinco minutos, já somos jogados ao conflito que se seguirá durante toda a projeção, envolvendo uma trama de infidelidade, covardia e frustrações, nada agradável de se ver. Desconforto esse, que só cresce e ganha ainda mais força com uma acertada opção de Coimbra – a utilização da narrativa não linear. Casos parecidos com “A Fera da Penha” já viraram rotina, sendo acompanhados quase que diariamente nos noticiários e logo em seguida esquecidos em meio a novos que surgem. Evidência disso é que todos os personagens parecem ter um pouco de alguém que pelo menos já ouvimos falar algum dia. Simplesmente contar os fatos, seria cair em um drama convencional, tal qual ler uma noticia de jornal filmada ou assistir um episódio estendido do extinto “Linha Direta”, que inclusive o adaptou em um de seus programas .

O roteiro, escrito pelo próprio diretor, funciona como um colcha de retalhos a ser costurada na mente do espectador. As dúvidas e as expectativas vão aumentando conforme mais pedaços vão surgindo, em meio a idas e vidas no tempo, mentiras e verdades sendo contadas. Com ótimas influências do meio, Coimbra mostra total domínio no projeto, principalmente no que diz respeito ao suspense – aqui apoiado da trilha sonora densa de Ricardo Cutz, que até lembra algumas composições do argentino Gustavo Santaolla e da fotografia de Lula Carvalho. Quando a real versão dos fatos nos é contada, os momentos de tensão chegam a sua ápice e o filme consegue incrivelmente juntar todas as verdades já ditas, sem agora cair na repetitividade.

Acompanhar os últimos minutos é como prender a respiração e só solta-la quando sobem os créditos finais. Se constrói cenas que dão a impressão de irem mudar o curso da história a todo o momento, em uma espécie de paranoia, mesmo com o destino já sentenciado se aproximando. Situações bem sutis, assim como os simbolismos presentes, que sendo bem captadas se consegue ver toda a cuidadosa construção da obra de Coimbra. Uma das cenas mais simbólicas é quando perto de seu ato final, a personagem de Leandra Leal têm a sua frente dois caminhos para escolher qual seguir, mostrando toda a dúvida presente na personagem, mesmo com a aparência decidida.

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A ótima Leandra Leal, consegue reafirmar seu talento aqui, o mesmo já percebido em obras como “Nome Próprio“. Seu trabalho no filme foi um presente mútuo, para diretor e atriz. Ela ganhou o provável melhor papel de sua carreira no cinema e ele a atriz perfeita para interpreta-la. Sua voz doce, combina exatamente com a sua personagem, aquela que conhecemos quando vê pela primeira vez o personagem de Milhem Cortaz, mas que não conseguimos mais enxergar na última cena. Trata-se de uma atuação grandiosa por inúmeros motivos, desde a impecável forma como ela da vida a cada transformação de sua personagem, até a maneira como ela é exposta. A câmera de Coimbra, a todo momento foca-se nela, em suas feições e exprimi o seu emocional, uma peça chave do longa. Ainda assim, seria injusto cita-la e não destacar o resto do elenco, que está excepcional – desde o casal Fabiula Nascimento e Cortaz, até pequenas participações como Thalita Carauta, que têm sua veia cômica falando mais alto e consegue despertar uma risada nervosa no espectador em meio ao caos.

“O Lobo Atrás da Porta” é um suspense com contato direto com a realidade. Um filme para ver e se surpreender mais de uma vez, afim de reanalisar e compreender todos os seus detalhes. Vencedor já de importantes prêmios internacionais, demonstra mais uma vez o crescimento do cinema nacional, também reconhecido pelo mundo. Que criem coragem e chances mais diretores talentosos como Coimbra, afim de fazer cinema de verdade e saírem da área de conforto dos gêneros atuais, afinal, sempre serão muito bem-vindos.

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