Título Original: Lucy
Direção: Luc Besson
Elenco: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-Sik Choi
Estreia no Brasil: 28 de Agosto de 2014
Gênero: Ação
Duração: 89 minutos
Se fosse para definir 2014 em uma atriz, sem a menor dúvida, essa seria Scarlett Johansson. Desde “Encontros e Desencontros (2003)”, ela demonstrou potencial a ser uma profissional de gabarito comparável a outras estrelas. Entretanto, demorou até Scarlett entrar em sintonia de projetos compatíveis com seu talento, até que este ano a atriz consegue impactar o público de múltiplas formas. Logo de início, nos apaixonamos por seu desempenho vocal em “Ela“, depois vibramos com sua Viúva Negra em “Capitão América- O Soldado Invernal”, para então sermos arrebatados com “Sob a Pele”. Depois dos três, eis que chega aos cinemas “Lucy“, seu novo projeto na qual consegue misturar os efeitos anteriores passados ao público, acrescentando ainda empatia de uma personagem reformuladora do sentido de “Femme Fatalle”.
A estória consegue ser bastante simples e facílima de embarcar, entretanto não é simplória. Pelo contrário, abre espaço para fecundos debates em relação a condição humana no mundo moderno. Na trama, Lucy (Scarlett Johansson) é uma americana residente em Taiwan, após uma noitada, acaba no meio de um esquema de tráfico internacional de drogas, orquestrado pelo mafioso Mr. Jang (Min-sik Choi). A jovem é forçada a ser “mula” de uma nova e potente droga, na qual o usuário fica em estado de alienação, porém durante o processo Lucy acaba ingerindo grandes quantidades do entorpecente, adquirindo capacidade de seu corpo, aumentando, progressivamente, o potencial do uso cerebral, de máximos 10% naturais do homem, até 100%. Assim, Lucy desafia a máfia na ânsia de passar por um processo de evolução plena e auto-descobrimento do ser humano.
A narrativa do longa condiz com a obra em si, é frenética, exagerada e insana. Pode soar forçada em determinados momentos, mas em nenhum deixa de ser instigante ou tedioso. O roteiro contém inegáveis falhas, típicas ao gênero, como situações um tanto que superficiais ou atitudes -ou falta delas- incompreensíveis. Entretanto, os defeitos ficam em segundo plano, principalmente aos que procurem aproveitar a essência do argumento. É interessante também como o diretor Luc Besson propõe múltiplas analogias, servindo de contraste em relação ao homem moderno ao primitivo, sendo o primeiro aquele obstinado em conquistas materiais e o segundo em apenas sobreviver as adversidades. Mesmo os homens, hoje, aparentemente pareçam evoluídos, suas ambições medíocres não o distinguem dos antepassados rudimentares.
Outro mérito do filme é conseguir fazer a junção, quase inédita, do gigantismo visual com o de ideias. Em tempo, recordamos o fraquíssimo “Transcendence”, sendo “Lucy” tudo aquilo que o longa de Johnny Deep tentou ser, conseguindo, inclusive, ir além. Aproveita a brecha deixada pelo “Sob a Pele”, projeto anterior de Scarlett, em relação ao papel feminino nesta sociedade machista moderna, propondo o oposto desta: reafirmando o clamor feminino por mais espaço, além de certa submissão por parte dos personagens masculinos.
No que se refere ao elenco, Scarlett é o corpo e alma do longa, aproveitando ao máximo a oportunidade concebida, reafirmando sua competência como atriz com muito há oferecer, ainda sendo carismática e tornando personagens difíceis nos mais empáticos possíveis Morgan Freeman, apesar de estar no automático, nos seus últimos projetos, funcionada qui e acrescenta didatismo nos momentos mais “reflexivos”.
Contudo, “Lucy” é uma agradável surpresa do ano, servindo como adendo ao gênero de ação, com irreverência ao mesmo tempo que ideias. No qual, o potencial da existência humana é posta em cheque, onde os indivíduos hoje procuram meramente ter e não ser, justificando nossa sociedade cada vez mais deformada, insensível e individualista. Só pelo fato de chegar a tal conclusão num filme curto (89 min) e despretensioso já valeria o ingresso, mas ele é instigante de momento em momento, não apenas em sua conclusão.
TRAILER LEGENDADO