Climax (2018); Direção: Gaspar Noé; Roteiro: Gaspar Noé; Elenco: Sofia Boutella, Kiddy Smile, Roman Guillermic, Souheila Yacoub, Claude Gajan Maull, Giselle Palmer, Taylor Kastle, Thea Carla Schott; Duração: 95 minutos; Gênero: Drama, Musical, Suspense; Produção: Edouard Weil, Alice Girard, Vincent Maraval; País: Bélgica, França; Distribuição: Imovision; Estreia no Brasil: 31 de Janeiro de 2019;
O cineasta francês Gaspar Noé se orgulha em ser um poeta do caos, abraçando ao máximo o exagero, deixando de lado qualquer tipo de sutileza em prol da catarse, ou seja, do clímax. Justamente esse o título de seu novo filme, “Climax“, um filme no qual o próprio diretor considera um exercício de gênero catástrofe, cinema ao qual ele reverência e tem maior apreço. Seu novo filme é literalmente um exercício do caos, sintetizado entorno dos jovens de diferentes classes e etnias, juntos e misturados numa França em plena cisão -não por acaso a bandeira do país estampa o poster do filme. É uma obra com muitas propostas e temáticas, rendendo bastante debates, talvez o seu problema seja justamente se levar muito a sério, além do que realmente é, pois seu discurso pode soar um tanto que hipócrita ou metido. No entanto, seu mérito de torturar seu público, até leva-lo à catarse, de um jeito ou de outro, soa bastante instigante.
No filme protagonizado por Sofia Boutella (“Hotel Artemis“, “Atômica“), um grupo de jovens dançarinos de uma companhia festeja num galpão isolado, eles bebem, dançam e se divertem. Contudo, a tensão começa a tomar conta do lugar após eles descobrirem que a bebida estava batizada com LSD, despertando em todos um lado bestial. Todas as amarras morais e convencionais caem por terra, fazendo da pista de dança palco para serem quem realmente são ou querem ser. É um filme catástrofe por mostrar como nós, seres humanos, despertamos nosso lado mais cruel e animalesco em busca de afirmarmos nossos próprios interesses, passando por cima de tudo e todos, deixando de lado o mínimo de humanidade. Noé sugere inclusive que o humanismo não passa de uma hipócrita convenção social, ao qual todos os homens e mulheres se forçam a adotar, porém no mundo alucinógeno do LSD, elas consideram uns e outros competidores do seu sucesso.
Há uma veia política no próprio ato de dançar, ser livre e lutar por si. De conquistar seu próprio espaço, doa a quem doer. Eles falam, em dado momento, que dançam pela França. Num grupo tão plural, em um país igualmente dividido como o nosso, soa até óbvio que o grupo acabe decaindo em brigas e na irracionalidade a fim de provar que uma só ideia está correta. É uma crítica social que tenta ser inovadora na forma a ser apresentada, porém soa um tanto que batida, sobretudo na falta de desenvolvimento de qualquer um dos personagens, não dá para sentir apreço ou mesmo antipatia por nenhum. Há um clima de indiferença aos dançarinos que contradiz um filme que emana tantos sentimentos, exceto a indiferença.
Se o roteiro capenga no lugar comum e até mesmo no moralismo, podendo até servir como um filme para uma campanha antidrogas de qualquer grupo de direita, a direção de Gaspar Noé é magistral. Variando entre planos sequências e vários cortes, ele consegue construir uma atmosfera de sufoco e do medo, aonde esperamos a cada momento o pior acontecer. O plano sequência de abertura é uma das sequências de danças mais sensacionais que já vi, pela sincronia e pelo domínio do diretor em movimentar a câmera com tamanha destreza, sabendo claramente aonde e como chegar. O problema é que, ao atingir o clímax, fica uma sensação de frustração, sendo que a preparação para tal foi melhor do que o dito cujo.
Pretensioso, arrogante, metido a cult, banal e com referências escancaradas, “Climax” pode não ser tão pertinente quanto queira, porém soa como uma grande experiência cinematográfica. E quanto mais sádica esta tenha sido, maior foi o excito de Gaspar Noé.