Operação Big Hero (Big Hero 6)
Direção: Don Hall e Chris Williams
Roteiro: Jordan Roberts, Daniel Gerson, Robert L. Baird
Elenco: Scott Adsit, James Cromwell, Maya Rudolph, Ryan Potter, Daniel Henney, Jamie Chung, T.J. Miller
Estreia no Brasil: 25 de Dezembro de 2014
Gênero: Animação/Ação/Aventura
Duração: 102 min
Operação Big Hero surgiu como uma espécie de incógnita desde que seus primeiros teasers foram liberados e o filme fora anunciado como sucessor de um legado estrondoso deixado por Frozen. Como a Disney sucederia depois de quebrar barreiras não só monetárias, mas principalmente de ordem cinematográfica? Tendo nas aventuras das princesas Elsa e Anna um de seus produtos mais potentes e maduros a ganhar as telas em anos. A resposta é uma quebra de expectativas e vem através de uma história completamente despretensiosa que não nega a momento algum que o máximo que tem a nos oferecer é a pura simplicidade de se acompanhar por pouco mais de 90 min uma saborosa matinê.
Adaptado de uma série de quadrinhos lançada ao final dos anos 90 e que nunca chegou a atingir o grande público, Operação Big Hero sela de vez a parceria entre Disney e Marvel, arrematada pelos estúdios do Mickey há pouco mais de 5 anos. E não é a toa que o filme esteja muito mais próximo aos live actions da Marvel do que aos trabalhos mais recentes apresentados pela Disney. Sem a mesma ordem narrativa e subversiva que permeava Frozen e Detona Ralph (e em menor escala Enrolados, por que não?), Operação Big Hero aposta em tons mais claros, talvez até mais fáceis, mas nunca banais ou ofensivos. Remete a princípio ao recente Guardiões da Galáxia, pelo maneira charmosa com que ação, comédia e algumas gotas de uma irreverência cafona se misturam pra formar um todo muito carismático. Porém a saga de um adolescente superdotado e seu robô enfermeiro tem bastante personalidade própria.
Ambientado na fictícia São Fransókio, uma mistura dos subúrbios de São Francisco (principalmente nas sequências diurnas) com a frenesi em neon da capital japonesa nas cenas noturnas, qual o design de cena, talvez o trabalho de computação mais precioso do estúdio ao lado de Frozen, delimita e explora com bastante propriedade seus respectivas características, diga-se de passagem, o filme acompanha a história de Hiro e Tadashi Harada, irmãos órfãos que apesar de dividirem o amor pela robótica, possuem posições bem distintas sobre a ciência. Tadashi é um estudante universitário que coloca todo o seu esforço pra desenvolver um projeto de saúde e bem estar ligado a robótica capaz de lidar com qualquer enfermidade física ou psicológica, o que em poucas palavras explica muito de seu caráter altruísta e como essa virtude acaba sendo crucial acerca do seu desenrolar na trama, enquanto seu irmão caçula Hiro, um garoto superdotado de 13 anos, se porta com toda uma arrogância que se espera de um adolescente que acredita que ninguém ou nenhuma instituição pode ensiná-lo qualquer coisa que ele mesmo não tenha a capacidade de aprender sozinho.
Dentro desse meio acadêmico ainda somos apresentados ao grupo de amigos nerds de Tadashi, personagens engraçadinhos com participações marcantes, porém todos sem grande relevância narrativa, que mais tarde formarão ao lado de Hiro uma equipe de super-heróis afim de enfrentar um vilão também sem grande apelo, que compromete o filme com uma pretensão dramática qual a narrativa nunca é capaz de abarcar. E enfim ao robô Ben Max, um grande balão mecânico programado como uma espécie de enfermeiro deixado pelo irmão mais velho.
Dona dos momentos mais inspirados do filme, a interação entre Hiro e Ben Max se estabelece pra além do carisma e do alívio cômico. A sutileza com que as características de uma máquina projetada com a capacidade de prever e diagnosticar qualquer tipo de enfermidade vão se dimensionando pra uma esfera mais íntima e humana, com o Ben Max e sua natureza esterilizada de qualquer compressão moral, mas sempre dotada de boas intenções, a qual se mostra um guardião às avessas do processo de amadurecimento de Hiro, rendem pra mim as passagens mais bonitas de um filme de animação lançado esse ano (há um momento que remete ao clássico O Gigante de Ferro que é sem dúvida a minha preferida ao lado daquela sequência crucial de Como Treinar Seu Dragão 2 onde os personagens atiram flechas de fogo). E que confesso que, particularmente, me agradaria muito mais se essa jornada se colocasse num espaço que coubesse mais o intimismo do que a ação.
Porém, já se sabe de antemão que esse não é um filme de uma era mais madura, reflexiva ou mesmo obscura da Disney. Ou muito menos um trabalho da Pixar. Mas se você for capaz de abraçar aquilo que Operação Big Hero tem a oferecer, uma matinê que não se quer grande em dimensões dramáticas, vai encontrar aqui não só outro grande trabalho da Disney, mas também um filme de super-herói que não deve nada aos momentos dignos de nota da Marvel até hoje.
Ah! Como não poderia faltar, acompanha a sessão o curta-metragem O Banquete, um trabalho tão delicado e emocionante quanto ao que se tem posteriormente com Operação Big Hero.