Dizem que estamos vivendo uma Era de Ouro na televisão, pelo fato da liberdade artística e criativa dos realizadores que podem dissertar livremente, sem executivos xiitas que tentam limitar o trabalho visando rentabilidade. É um veículo mais libertário em detrimento da caretice do cinema, preso às amarras da indústria.
Infelizmente esse ano foi bastante corrido, o que impossibilitou de conferir inúmeras das comentadas séries, como a aclamadíssima Mr.Robot. Tivemos esse ano o encerramento de vários shows queridos, como Mad Men e Parks and Recreations, retornos muito bem-vindos como Fargo e True Detective, além do início da parceria entre Marvel e Netflix, proporcionando as sensacionais estréias de Demolidor e Jessica Jones (fica a torcida pra parceria se estender à LucasFilms). Enfim, foi mais um ano plural para a televisão, cada vez mais moderna e inovadora, espero um dia pôr em dia as tantas séries que acumulam no HD, enquanto não consigo, fica aqui algumas opiniões daquilo que mais nos agradou na TV em 2015.
Desde já na torcida para que 2016 continue sendo um ano plural para a TV. E que eu consiga ter tempo pra tudo.
#Eduardo Gomes#
10. Veep (HBO)
Vou confessar que achei o quarto ano de Veep o mais aquém do potencial da série, porém ainda assim é uma das melhores séries de comédia da atualidade. É um House of Cards às avessas, satirizando o que a série da netflix faz questão de exaltar. Julia Louis-Dreyfus continua sensacional, uma das melhores comediantes da atualidade, sem a menor dúvidas. Mas com coadjuvantes que não ficam atrás: Anna Chlumsky rouba a cena, ao lado do sempre ótimo Hugh Laurie -sem o estigma de Dr.House.
O final da temporada mostra que nada é impossível se tratando de Veep, inclusive rasgar a Constituição, então é de se esperar que a quinta temporada seja ainda mais escrachada, fica a torcida para que Julia e sua série tenham muito a oferecer e honrem esse Emmy de melhor série de comédia. Fica aqui a torcida.
09. Masters of Sex (Showtime)
Terceiro ano dessa subestimada série, para quem não sabe, aborda os primordios do estudo da sexualidade humana pelo sexólogo Bill Masters e a psicóloga Virgínia Johnson, parceria essa que se estendeu na vida pessoal dos dois. É uma série, antes de tudo, humana, não só por tratar do ato sexual em si, mas se tratar do que significa o Sexo: Desejo, sentimento, influência, compaixão… Amor.
Enfim, a série tem um ritmo lento, talvez pecou nesse terceiro ano em dar relevância aos personagens menos recheados, mas nos proporcionou alguns dos momentos que salvou a temporada. Show de elenco, Lizzy Caplan é uma revelação, Michael Sheen um astro superestimado, participações incríveis de Alisson Janney, Beau Bridges, Caitlin FitzGerald. Desfecho que parece mudar tudo na próxima temporada. A conferir o que o Doutor Masters nos tem a dizer.
08. Downton Abbey (PBS)
Podem falar o que for dessa série, mas eu simplesmente amo Downton Abbey, seu universo e o que a série em si representa, como os tempos mudam e nós, muitas vezes, optamos por ficarmos estagnados, acompanhando apenas as mudanças ao nosso redor. É uma série de luxo, muito bem realizada, pelos cenários, figurinos e o charmoso elenco inglês, o dramalhão incomoda um pouco, talvez pelo excesso de tragédia no casal angelical bates ou pela fútil decisão de “com quem vou me casar” da filha mais velha dos Crawley.
Contudo, eu gostei como os realizadores conseguiram dar maior relevância, sem o menor maniqueísmo, para os personagens do mordomo e da governanta, eles são de longe os mais cativantes, ao lado da sempre memorável Lady Violet/ Maggie Smith. Pode não ser uma diversão para todos os públicos, mas pra mim é uma daquelas séries marcantes por mostrar que certas condições humanas são eternas, como da passividade, culpa, medo de amar e tomar decisões, ir contra a família e os valores pré-estipulados, o que torna cada vez mais necessário, trilharmos nosso próprio caminho, independente de nossas origens.
Downton Abbey está no seu quinto ano, ano que vem se finaliza já deixando saudades. Fica aqui minha torcida por um desfecho à altura do que foi a série: Um classudo entretenimento. Saudades já.
07. Demolidor (Netflix)
A primeira série da Netflix em parceria com a Marvel, foca nos personagens urbanos, menos infantis e mais “subversivos”, tendo como o Demolidor como o primeiro. A série tem um tom incrível, é séria, violenta sem ser apelativa, com uma construção de personagem das melhores que eu vi esse ano.
Foi uma surpresa, confesso, nada esperava dessa aqui, mas a surpresa não só veio na qualidade, veio sim em mostrar que o universo de super-heróis tem muito a dizer sobre a nossa realidade, principalmente sobre a decadência urbana que vivemos, representada sobre a figura do Wilson Fisk -soberba performance, inclusive. Que venha a segunda e os próximos projetos da Marvel-Netflix (Se Deus quiser, vamos ter Star Wars-Netflix).
06. The Muppets (ABC)
Sempre fui fã dos Muppets, acho eles carismáticos, divertidos, lunáticos, simplesmente encantadores. Depois de dois ótimos filmes, resolveram investir -finalmente- numa nova série própria pra eles. Minha surpresa foi pelo tom mais politicamente incorreto da série, o humor negro predominante, atacando tudo e todos relacionados à indústria. Para os fãs dos personagens, é uma nostálgica reintrodução, mas já os que não conhecem, uma ótima introdução, difícil não sentir empatia com eles.
A ideia central, em apresentar um programa de entrevistas é ótima, tendo os bastidores deste um ambiente que nos proporciona os mais incríveis momentos, os personagens continuam sensacionais e conseguem ter uma dinâmica muito natural com os convidados. É hilário, faz lembrar inclusive 30Rock, me deixou com gostinho de quero mais, que espero que venha numa segunda temporada.
05. Grace & Frankie (Netflix)
Jane Fonda mais Lily Tomlin, precisa falar mais? Grace & Frankie é uma daquelas séries onde facilmente assistimos toda sua temporada num dia só, passa tão rápido pela fácil conecção entre público e personagens, tem uma temática atual, mas não tem a pretensão de ir além de seu formato. O elenco é maravilhoso, Fonda e Tomlin mostram como ainda têm muito a oferecer, basta terem oportunidade.
Infelizmente, parece que não foi muito bem compreendida lá fora, apesar de ter sido renovada. Fico na torcida por um segundo ano tão bom quanto o primeiro, o que será que nos espera, vendo duas ex-esposas vendo os seus respectivos ex-maridos se casarem? Espero muitas risadas pela frente.
04. True Detective (HBO)
É quase que uma causa pessoal, visto a frustação coletiva com a segunda temporada de True Detective. Realmente, não entendi, pois, o ritmo devagar é o mesmo da primeira temporada, só sai o flerte com o misticismo e a temática mais filosófica por uma social e humana. O enredo -confuso, admito- gira em torno de uma corrupta cidade nos Estados Unidos, onde um homicídio de uma peça chave envolve nomes poderosos da cidade, fazendo três detetives investigarem de forma independente.
Reitero o cunho social forte, mostra que temos uma sociedade/ um sistema que reflete quem de fato somos, constatação desoladora, mas pertinente. Elenco incrível, direção precisa. Enfim, é uma daquelas séries difíceis mesmo de acompanhar e compreender, mas que vale a pena dar uma, duas e até três chances. É muito mais sobre quem nós somos de fato, como a barbárie e o senso de justiça comum nos toma conta ao ponto de sermos aquilo que criticamos.
03. Fargo (FX)
Desde que anunciaram uma série baseado no clássico filme dos Irmãos Coen, eu já botei meu pé atrás, o longa era tão fechado em si que não imaginava que se pudesse aproveitar aquele universo em uma série. Grande -e feliz- engano. A primeira temporada de Fargo foi uma das coisas mais sensacionais da televisão, a segunda não fica muito atrás. Continua com um elenco singular, de peso.
A segunda temporada segue os moldes de antologia, tem seu enredo independente em si, mas dialoga de certa forma com a temporada anterior, permanece com seus personagens grotescos e ainda assim cativantes, tem uma pegada que nos faz lembrar um pouco Hitchcock. É surpreendente, não é piegas e sabe dosar humor com drama, tem um tom satírico bem pesado, principalmente mostrando como definhamos e perdemos a racionalidade de forma tão fácil e progressiva.
Terceira temporada já anunciada, sem a menor dúvida que podem haver quantas forem, é um universo com muito para se explorar e oferecer. E que vale nos adentrarmos.
02. House Of Cards (Netflix)
Particularmente, tenho enorme fascínio pelo mundo de House of Cards, série essa atual e universal, vide os últimos assuntos políticos da semana. A relação de Frank Underwood e sua Claire ganha total evidência agora que eles representam o país, é interessante como o roteiro construiu a cumplicidade maquiavélica de ambos para agora iniciar sua desconstrução. Parece que agora Claire compreende o que de fato está acontecendo e entra em crise de identidade, já Frank está cada vez mais ciente de onde quer -e fará de tudo para- chegar.
É um retrato cru, realista, sobre a real política – não a ideal – aquela onde o Poder (Ou A Fortuna) é a essência e move todos daquele cenário -ou seria daquela selva? Desfecho em aberto deixa inúmeras possibilidades no ar, a única certeza é: ano que vem tem eleição. O que nos espera?
Kevin Spacey e Robin Wright soberbos. Os episódios da Rússia são incríveis, tendo a declaração que ambos são “sobreviventes”, fica claro que a política não é para fracos. E nem idealistas.
01. Trasparent (Amazon)
A Amazon resolveu investir em produções próprias, Transparent não é só um investimento, como uma jogada de risco. A série acompanha um patriarca que resolve se assumir travesti para sua família. Chocante? Que nada! O naturalismo da série é tão encantador, quebra o estereótipo de “tabu” e mostra o quão natural a temática deve ser tratada, sem preconceitos ou dificuldades.
Jill Solloway coloca humor, mas em nenhum momento apela pra chanchada, ela personaliza seus personagens, suas particularidades, dá chance para todos se expressarem e se defenderem, são personagens completos. Grande trunfo de Solloway e sua série é não se sustentar apenas em seu fascinante protagonista, desenvolve muito bem aquele universo familiar, o redefinindo de forma única, proporcionando um misto de humor, drama e emoção.
Elenco sublime, séries como essa que tornam a TV um ambiente tão maravilhoso para falar de temas aparentemente difíceis. Vem, ano 3!
#Junior Cândido#
10. Grace & Frankie – Season 1 (Netflix)
Me lembro que há alguns anos quando escrevi sobre o excelente filme chileno Glória, ressaltei o quanto a indústria norte-americana é reticente ao compor um panorama complexo sobre a terceira idade nas telas. Grace & Frankie, uma das boas estreias da Netflix no ano, foge completamente desse padrão. É um retrato muito sincero, ainda que sublimado pela comédia, das dores e prazeres de redescobrir a vida depois dos 70.
Um episódio: The Funeral
09. Sense8 – Season 1 (Netflix)
A criação de Andy e Lana Wachowski em parceria J Michael Straczynski foi sem dúvida um dos projetos mais ambiciosos do nicho em 2015. Com um trama passada nos quatro cantos do globo, Sense8 se reveste de ficção científica quase em clima de matinê pra falar com muita propriedade sobre temas universais como identidade de gênero, homofobia e solidão no mundo moderno.
Um episódio: What’s Going On?
08. Master of None – Season 1 (Netflix)
Obviamente a fonte que abastece séries como Girls e Looking continua rendendo bons resultados. A vez agora é de Aziz Ansari, recém saído de Parks and Recreation, pintar um crônica dos jovens adultos novaiorquinos em tons de cinza e com um humor muito afiado em Master of None. O tema pode ser batido, mas o olha perspicaz de Aziz sobre situações banais rende alguns dos momentos mais inspirados do nicho em 2015 (principalmente uma situação envolvendo uber + anticoncepcionais).
Um episódio: Parents
07. Looking – Season 2 (HBO)
Desde a primeira temporada já era possível prever que Looking não teria uma vida muito longa. Não pela falta de qualidade no retrato que Andrew Haigh pinta sobre as desventuras amorosas de três amigos gays de São Francisco, mas por falar para e sobre um nicho queer tão distinto e específico. Uma pena, visto que Haigh vem se tornando um dos grandes cronistas sobre as relações amorosas nos dias de hoje.
Um episódio: Looking for a Plot
06. The Walking Dead – Season 6 (AMC)
Entre altos e baixos ao longo das suas temporadas, The Walking Dead retornou pro seu sexto ano com fôlego ímpar e entregou um dos mid-seasons mais empolgantes desse ano. A divisão de uma grandiloquente sequência de ação dividida entre inúmeros pontos de vista e episódios rendeu alguns dos grandes momentos da história da série.
Um episódio: Thank You
05. Unbreakable Kimmy Schmidt – Season 1 (Netflix)
O humor nonsense e ácido de Unbreakable Kimmy Schmidt encontrou espaço num momento em que Parks and Recreation encerrava sua temporada final e Modern Family perdia sua hegemonia no gênero com sua pior temporada até então. O texto afiado de Tina Fey é sempre um certo, mas se tem um legado que essa série já deixou pro mundo foi a descoberta de Titus Burgess interpretando o melhor personagem saído da tv em 2015.
Um episódio: Kimmy Goes to School! (Peeeeno Noooiiirrr)
04. Better Call Saul – Season 1 (AMC)
Better Call Saul é uma prova inconteste que: 1. ainda que não estamos prontos pra nos desapegar do universo fascinante que Vince Gilligan criou em Breaking Bad, 2. esse universo continua rendendo frutos maravilhosos. Acompanhando a vida do advogado picareta Saul Goodman em eventos pré e pós-BB, a temporada foi esperta o suficiente pra conservar a linguagem sofisticada que tornou Breaking Bad um clássico, mas sabendo quando e onde impor uma identidade própria.
Um episódio: Five-O
03. Daredevil – Season 1 (Netflix)
Depois de uma adaptação fracassada no cinema (que rendeu um spin-off ainda pior), o Demolidor havia caído no limbo do universo Marvel. Ainda que encarado com suspeita desde que fora anunciado, não podia haver casa melhor que o Netflix pra que o personagem limpasse sua imagem. Isso porque a série da cabo de um personagem complexo, lidando com problemas do mundo real. A série reune num só pacote ambição, violência e tridimensionalidade e é certamente a melhor incursão da Marvel no meio audiovisual até então.
Um episódio: In the Blood
02. Parks and Recreation – Season 7 (NBC)
Ao longo de 7 anos, eu sempre tive a sensação que a recepção que Parks and Recreation teve de público, crítica e premiações é praticamente uma síntese de Leslie Knope, sua protagonista. Manteve-se positiva, lutou arduamente, mas nunca chegou lá. É sem dúvida um dos produtos mais subestimados, instigantes e engraçado já feitos sobre a cultura norte-americana, com um elenco de ponta encarnando alguns dos melhores personagens da tv nos últimos anos. Os prêmios nunca vieram, mas o lugar cativo continua guardado nos nossos corações.
Um episódio: One Last Ride – Part 2
01. The Leftovers – Season 2 (HBO)
A pergunta que fica ao final de cada episódio de The Leftovers é sempre a mesma: “Como eu vou sobreviver depois disso?” Se no primeiro ano Perrota e Lindelof se debruçaram a estudar cada ponto e contraponto do que seria o mundo depois do ato do arrebatamento, não se preocupando tanto com os porquês, mas sempre com o “como prosseguir?”, a segunda temporada aplicou um tanto de mistério, se tornou mais palatável, porém sem deixar de aplicar uma descarga de energia a cada nova pergunta apresentada. Poucas vezes uma série de tv nos confrontou a ideia de encarar a existência com tamanha potência e estranheza.
Um episódio: International Assassin