“Missão: Impossível” é uma franquia camaleônica tal qual seu protagonista Tom Cruise, e ao longo das décadas esses filmes assumiram a personalidade do diretor que comandava o projeto, sempre com nomes muito marcantes, para o bem e para o mal. Quando Christopher McQuarrie assumiu as rédeas no quinto filme, no entanto, as coisas mudaram radicalmente, porque a parceria do cineasta com seu protagonista fez com que a franquia tivesse um senso de unidade maior, se tornasse algo mais singular, quase uma entidade do cinema hollywoodiano onde Tom Cruise podia praticar suas “loucuras” a bel prazer como nunca antes. Os resultados foram 2 filmes excelentes, com “Nação Secreta” e “Efeito Fallout”, este último de tal desempenho que deixou difícil ou, se quisermos arriscar, impossível que o que viesse a seguir pudesse superá-lo. De fato, “Missão: Impossível – Acerto de Contas: Parte Um” deixou ligeiramente a desejar, muito porque a divisão em duas partes privou o filme de qualquer senso de urgência, que ainda gastava tempo servindo como uma ponte para qualquer pessoa que não fosse familiar com a franquia. McQuarrie tem bastante consciência disso e em “Missão: Impossível – O Acerto Final” o que não falta é senso de urgência, numa maratona de adrenalina onde o fim parece estar cada vez mais próximo.

Essa sentimento de urgência e finalidade que dá ao filme um ritmo alucinante desde o primeiro momento tem uma influência que não parte desta franquia, mas sim de outra protagonizada por Tom Cruise, porque aqui se bebe muito da fonte que fez de “Top Gun: Maverick” um sucesso absoluto principalmente nos Estados Unidos. Contudo, não é exatamente a ação que se empresta de lá, são fatores que mexem mais com o emocional, porque se esse filme serve como o final de algo, é necessário que o espectador se envolva com algum grau emocional acima do que qualquer outro “Missão: Impossível” foi capaz, até porque esse nunca foi o forte desses filmes, e isso não é nenhum demérito quando suas qualidades estão em outros elementos. Se importar com esses personagens não é uma parte fundamental da história, por isso há uma toada que torna este o filme mais melodramático da franquia, e é compreensível que isso vá incomodar muita gente, assim como algumas das ferramentas utilizadas para executar isso, porque o apelo à nostalgia e patriotismo são encontrados em abundância aqui, bem como no maior sucesso da carreira de Tom Cruise, porque ele e McQuarrie compreendem qual é a chave do sucesso em seu principal mercado.

Porém, “Missão: Impossível – O Acerto Final” ainda faz muitas concessões, porque Christopher McQuarrie não é um cineasta qualquer, há toda uma roupagem para diferenciar as coisas, tornar mais palatável, e muito se deve ao roteiro com rápidos diálogos e uma edição que deixa o filme com um dinamismo inquietante, com uma pulsação eletrizante e quase sem tempo de respiros, exceto quando o melodrama precisa surtir seu efeito. Há muita coisa acontecendo simultaneamente e sempre uma percepção de que tudo ali é épico, toda sequência urge a grandiosidade, mas nas entrelinhas há uma batalha que é bastante singular: uma estrela lutando por seu espaço em meio a cada vez maior ameaça da inteligência artificial. É impossível falar de originalidade em relação a uma franquia com oito filmes e adaptada de uma série de TV, mas Tom Cruise e McQuarrie sabem que há algo que é insuperável: autenticidade. Algo que aqui não se trata somente das peripécias do protagonista e a maneira como são filmadas, com uma qualidade acima da média do que jamais se viu em Hollywood, entregando ao público entretenimento com um selo de honestidade que foi feito o máximo para que você, como espectador, pudesse aproveitar.
Há uma razão pela qual tantas estrelas que conhecemos da TV estejam presentes aqui, ou que a equipe ao final do filme seja formada por figuras “desajustadas” quando pensamos em blockbusters. Há algo que nenhum executivo que acha que pode mandar uma máquina fazer o que ele quiser pode produzir, é esse talento que só essas figuras são capazes de entregar. Uma humanidade inerente ao que torna o cinema, ou o audiovisual, o que ele é. A quem pertence e a quem o ama. Tom Cruise definitivamente não é o grande salvador do cinema, mas com certeza é um dos que mais se empenha para tratá-lo como merece!
“Missão: Impossível – O Acerto Final” – Trailer Legendado:
“Missão: Impossível – O Acerto Final” (“Mission: Impossible – The Final Reckoning”, 2025); Direção: Christopher McQuarrie; Roteiro: Erik Jendresen & Christopher McQuarrie; Elenco: Tom Cruise, Hayley Atwell, Ving Rhames, Simon Pegg, Henry Czerny, Angela Bassett, Esai Morales, Pom Klementieff, Greg Tarzan Davis; Duração: 169 minutos; Gênero: Ação, Aventura; Produção: Tom Cruise, Christopher McQuarrie; País: Estados Unidos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia no Brasil: 22 de Maio de 2025;