“As Preces de Delphine” (Les Prieres de Delphine, 2021); Direção: Rosine Mbakam; Roteiro: –; Elenco: –; Duração: 91 minutos; Gênero: Documentário; Produção: Geoffroy Cernaix; País: República dos Camarões, Bélgica; Distribuição: –; Estreia no Brasil: –;
“As Preces de Delphine” abre com sua protagonista falando quase ininterruptamente para a câmera por mais ou menos 13 minutos. Tempo no qual ela conta de onde veio, sua história e sua relação com a família. O filme todo segue nessa toada, enquanto Rosine Mbakam faz algumas intervenções -assim como os filhos de Delphine-, mas nada que mude a dinâmica do documentário. O que se destaca nesse início, porém, é o turbilhão de emoções contidas em Delphine e, enquanto ela despeja sua história de vida, não há outra opção senão ficar vidrado em cada detalhe. Responsável por isso é tanto quem está na frente quanto atrás da câmera. Mbakam se aproxima de maneira tão singular de Delphine que torna tudo de uma intensidade absurda. É preciso recuperar o fôlego para seguir em frente. E as duas seguem ali, numa conversa quase monólogo por aproximadamente 90 minutos. Há obviamente uma passagem de tempo entre um depoimento de Delphine e outro, mas nunca se perde a intimidade, o tom, a intensidade, a voracidade de tudo que ocorre ali. Assim, vamos mergulhando cada vez mais na vida de Delphine, que por mais que se torne, por vezes, algo desconcertante de tão íntimo e privado, segue em frente.
Delphine segue em frente porque sua conexão com Rosine Mbakam é algo especial. A maneira como as duas se encaram, mesmo sem nunca sequer vermos a diretora, é de um respeito e interesse mútuo. E Mbakam trata Delphine como a pessoa mais importante do mundo. E por toda a duração de “As Preces de Delphine” ela com toda certeza é. Essa aproximação, que traz um tom visceral e fortíssimo ao depoimento, é um dos elementos que torna o documentário em algo tão poderoso. A simplicidade de boa parte do mise en scène pode parecer banal, não fazer jus, mas de alguma forma destaca ainda mais Delphine e sua história, que é extremamente densa, trágica, sofrida. De levar às lágrimas. Pode-se até acreditar que em algum momento ou outro ela esteja encenando, mas é tudo tão orgânico que funciona com um embalo e fluidez que tornam tudo mais fácil de assistir. Contudo, o que essa mulher representa é a razão que Rosine Mbakam fica tão vidrada em sua história quanto seu público agora ficará. Depois de tanto tempo falando, a Delphine lhe é pedido que fique em silêncio por algum tempo -como se fosse possível. É esse o momento. Tudo fica claro, mas as palavras de Mbakam que vem a seguir são uma declaração de amor e admiração que as experienciar com o desenrolar do filme é sublime!