Um Dia de Chuva em Nova York (A Rainy Day in New York, 2018); Direção: Woody Allen; Roteiro: Woody Allen; Elenco: Timothée Chalamet, Elle Fanning, Selena Gomez, Jude Law, Diego Luna, Liev Schreiber; Duração: 92 minutos; Gênero: Comédia, Romance; Produção: Letty Aronson, Erika Aronson; País: Estados Unidos; Distribuição: Imagem Filmes; Estreia no Brasil: 21 de Novembro de 2019;
Há vários signos característicos entorno do cinema do cineasta Woody Allen: questões morais, vida e morte, existencialismo, observações sobre o cotidiano da sociedade, a arte e o homem, o divino não palpável, a inconsistência do amor… É um diretor de fácil reconhecimento, portanto soa comum a impressão de filmes repetitivos, mesmo embora as sutilezas de cada trama sejam a essência da sua originalidade.
Em seu novo longa-metragem, “Um Dia de Chuva em Nova York”, vemos um olhar do cineasta para a juventude: Seu alter-ego, o bon vivant Gatsby (Thimotée Chalamet) -a referência ao personagem de Fitzgerald não é por acaso – já frequentou inúmeras faculdades, detesta o estudo acadêmico, prefere investir seu tempo lendo e jogando cartas, fazendo apostas, ganhando dinheiro de forma própria. Ele namora uma aspirante a jornalista (Elle Fanning), uma caipira vinda do interior, que tem como oportunidade entrevistar, em Nova York, um diretor renomado para o jornal da faculdade. Gatsby, um nova iorquino, aproveita a oportunidade para passar um final de semana romântico com ela, apresentando o melhor da cidade que tanto ama e sente falta. As coisas saem de controle quando a jovem acaba por embarcar numa jornada com seu entrevistado, adentrando nos bastidores do cinema, conhecendo homens interessantes, tendo grandes oportunidades de ascensão. Gatsby, por outro lado, precisa fugir das responsabilidades impostas por sua mãe, que tenta fazê-lo comparecer em uma festa para lá de esnobe.
Trata-se de uma tragédia típica de Allen: Um jovem perdido, apaixonado, incompreendido por sua amante, acaba por ter uma jornada própria a fim de descobrir seu verdadeiro caminho. O alter ego está ali, os pares românticos também. Nova York nunca esteve tão cinzenta e majestosamente chuvosa -é um fetiche perpétuo do diretor. O pedantismo da burguesia também está presente, mostrando o quão esnobe é a classe, independente do meio ao qual frequente. O problema em questão é a carência de empatia entorno da personagem de Elle Fanning (exagerada nos sorrisos, caricata nas expressões), seu alpinismo social repentino soa tão aleatório, não agrega nada e torna sua jornada no filme redundante.
Por outro lado, o personagem de Chalamet (“Lady Bird“) é a cereja do bolo, o ator além de estar em estado de graça, consegue encarnar a persona de um jovem com sede de viver, mas com a taça vazia. É um olhar romantizado de um diretor sobre a juventude, na tentativa diária de tentar achar um significado na vida, seja com cursos, graduações, trabalhos rasos etc. Allen não comete o erro, comum entre cineastas ao falar dessa temática, em tentar emular a juventude, ele simplesmente retrata um olhar pessoal em ser jovem na modernidade, um argumento natural e crível. O diferencial desse filme é a entrada da personagem da mãe de Gatsby (Cherry Jones, deslumbrante), num embate quase edipiano, bastante instigante.
“Um dia de Chuva em Nova York” sofreu por sucessivos cancelamentos. Acontece que o diretor entrou no meio do furacão do movimento “Me Too”, reascendendo a denúncia antiga de assédio contra sua enteada – desmentida pelo diretor, inocentado anteriormente pelo tribunal. A Amazon, produtora e distribuidora do filme, cancelou o contrato com Allen e se recusou a lançar o filme, apenas após um longo processo judicial, que resultou o pagamento de quase 40 milhões ao cineasta, o filme está ganhando luz fora dos EUA, por onde continua com o status de inédito. A sensação no geral é muito barulho por nada, pois o filme consegue ser agradável, rende momentos agridoces, aonde conseguimos sorrir perante a melancolia da vida. Ao mesmo tempo, parece soar redundante, de um potencial perdido, encoberto entre polêmicas.
Woody Allen já está com o próximo filme garantido, ele está na Europa filmando, aonde deve permanecer nos próximos anos. Fica a expectativa de obras autorais mais instigantes, até mesmo pelo fato dele já ter mostrado conseguir se sobressair em trabalhos pouco expressivos, como este.