O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (Terminator: Dark Fate, 2019); Direção: Tim Miller; Roteiro: David S. Goyer & Justin Rhodes e Billy Ray; Elenco: Linda Hamilton, Mackenzie Davis, Natalia Reyes, Gabriel Luna, Arnold Schwarzenegger, Diego Boneta; Duração: 128 minutos; Gênero: Ação, Ficção Científica; Produção: James Cameron, David Ellison; País: Estados Unidos; Distribuição: Fox Film do Brasil; Estreia no Brasil: 31 de Outubro de 2019;
Por mais que o envolvimento de James Cameron agora seja direto, com este atuando como produtor de “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio”, o discurso se assemelha demais ao realizado quatro anos atrás, quando uma nova tentativa de reviver a franquia chegava aos cinemas para sofrer um fracasso de crítica e público, mesmo com endosso de Cameron. O mais impressionante, no entanto, é como as lições deixadas pelo filme protagonizado por Emilia Clarke (“Game of Thrones”) são ignoradas com gosto por este novo filme, comando por Tim Miller (“Deadpool”), e mais uma vez vemos a saga se repetir de maneira enfadonha.
A princípio o filme até quer passar a impressão de que seguiu em frente, mas já em seu início se pode perceber o quão conflitante todo o restante será. Um dos sintomas de roteiros hollywoodianos convolutos pode ser notado ali, quando encontramos 3 introduções diferentes da mesma história em uma questão de poucos minutos, numa tentativa desesperada de conectar pontos no que, posteriormente, sabemos se tratar de uma enorme desconfiança no espectador, onde constantemente os realizadores sentem que é preciso mastigar de maneira didática e verborrágica cada mínimo detalhe da narrativa, mesmo que esta, em nenhum momento, se faça de qualquer forma minimamente complexa.
Até porque é um erro bastante comum o próprio filme mostrar certa confusão com a censura que recebe -no Brasil é 14 anos, nos Estados Unidos, entretanto, é 17 anos-, e acreditar que isso o torna, de alguma maneira, detentor de qualquer maturidade em qualquer sentido, mas, principalmente, narrativamente. É exatamente o que acontece em “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio”, que não exatamente faz jus ao enquadramento na faixa etária, como promessa de entregar algo mais atrativo para um público alvo mais velho. Sendo que, tanto em sua narrativa como em suas cenas de ação, pouco se encontra de qualquer maturidade, de fato.
Alguns palavrões estão ali, mas surtem quase nenhum impacto. Assim como a violência, que em raros momentos é realmente explícita. Mais importante, porém, é como ela não tem qualquer peso narrativo e não exerce qualquer influência dentro do filme, é não só uma ameaça velada, mas tão banal dentro do Universo do filme, e não num sentido positivo, mas numa maneira de consumo tão corriqueira, que o mesmo se faz incapaz de identificar o que, realmente, se apresenta como uma ameaça e qual a gravidade desta, ainda mais com personagens como os que apresenta e utiliza para conduzir a narrativa.
A questão de representatividade é uma bandeira que “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” ostenta sem qualquer significado, até mesmo porque o desconhece. Há união do protagonismo feminino ao protagonismo latino americano, mas nenhum dos dois encontra uma reflexão verdadeira durante o filme, onde vemos estruturado um discurso que é completamente vazio, ainda que queira usar frases de efeito que pareçam possuir algum peso, mas um útero ser uma ameaça é logo substituído por uma afirmação tão certa de si que, em sua ingenuidade, relega esse protagonismo a uma mera sombra exatamente daquele contra quem esse discurso se devia fazer valer.
É pedante, quando não clichê, a maneira como trata suas personagens, e como acredita estar fazendo de forma completamente oposta. Tim Miller e seu trio de roteiristas, no entanto, são apenas 4 homens brancos, e o que podia se esperar de personagens como as de Natalia Reyes e Mackenzie Davis, além de estereótipos sem qualquer profundidade e cuja desenvolvimento, em momento algum, lhes dá alguma característica marcante? O resultado é exatamente sob a medida da encomenda, o problema é como seus realizadores se sentem na posição de contar uma história sob a qual não tem qualquer consciência. Pedir algo minimamente competente, neste caso, é remar contra a corrente.
E onde “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” mais consegue empolgar, se é que isso é possível, é quando entra em cena Linda Hamilton, reprisando seu papel como Sarah Connor. Mais uma vez a tentativa de empoderamento feminino, ou de utilizar esse discurso. Entretanto, não há discurso algum ali. É apenas o apelo a nostalgia dos dois primeiros filmes, aliada a uma tentativa de tirar proveito do momento atual no cinema. Dito isso, é Hamilton um dos poucos alentos no filme e, com ou sem nostalgia, é muito bom vê-la em ação dentro do que é possível, seja pelas limitações da idade da atriz, seja pelas limitações do cinema de Tim Miller.
Porque não há nada que passe uma mínima impressão memorável no filme, a ação e os efeitos visuais são tão cafonas como de filmes dos anos 80, é realmente lamentável como a produção parece estar desalinhada com o contemporâneo. Sem falar que, assim como em seu primeiro longa, Miller se mostra um realizador sem qualquer personalidade, optando por cenas de ação genéricas e que acabam confusas em meio a tantos cortes, além disso, no restante se alinham perfeitamente aos discursos vazios do filme, são imagens sem vida, que em momento algum são capazes de transpassar qualquer sensação ou sentimentos por si próprias. Um desastre completo!