“Família da Madrugada” (“Midnight Family”) tem em sua temática algo mais interessante que sua própria narrativa, nenhuma ofensa a família Ochoa, acompanhada de perto pelo documentário, e sim uma crítica ao trabalho de Luke Lorentzen, que consegue os tornar menos interessantes do que de fato são. Lorentzen opta por um certo distanciamento que faz seus personagens desprovidos de uma pessoalidade importante para que nos relacionemos com estes. Também se faz isento quanto ao formato utilizado pelo governo da Cidade do México para suprir a falta de ambulâncias para atender sua população. É um número absurdamente baixo para os 9 milhões de habitantes que, caso sofram algum acidente e precisem de auxílio urgente, geralmente passarão a depender de pessoas como os Ochoa, que passam a noite de plantão prontos para atender chamados que lhes rendem o ganha pão. Isso nas vezes em que são pagos, num cenário onde poucas famílias podem, de fato, arcar com despesas médicas e o transporte de atendimento emergencial particular, visto que o serviço público é completamente incapaz, literalmente, de suprir a demanda. O que ocorre é que tudo aqui que podemos encarar como fascinante é subjugado por Lorentzen, que tem um olhar um tanto mais simples da coisa.
Mais do que qualquer coisa, “Família da Madrugada” parece ser uma produção cuja intenção é entreter ao espectador, e Lorentzen parece mesmo tentar encontrar um certo viés de leviandade para fazer com que o público, inevitavelmente, ria entre um momento ou outro. O olhar indiferente do realizador, no entanto, constrói um filme que falha em lançar qualquer diálogo relevante sobre a situação ali. A corrida de rua em que implica diversas ambulâncias particulares à postos para prestar socorro, parece algo tremendamente lúdico à câmera de Lorentzen, chega até a ser desconcertante. Se é assim com as situações mais graves, também mostra certa indelicadeza no momento de explorar o ambiente familiar da família disposta a passar pelo perrengue em que se encontra em prol de salvar alguma vida. Ainda que algumas questões morais devam claramente ser levantadas quanto aos serviços prestados. Todavia, “Família da Madrugada” é um filme tão chapa branca que um sistema de corrupção estrutural e negligência médica são vistos de maneira completamente banal, sendo incapaz de tecer qualquer comentário acerca de tudo que se apresenta nessa realidade onde restam mais questionamentos sobre o sistema apresentado. Tudo isso porque Lorentzen teme em fazer as perguntas que mais machucam, mesmo sendo espectador das maiores tragédias causadas pela falta de respostas.
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