“Segunda Vez” é um híbrido que reencena e questiona “happenings” do idealizador Oscar Masotta, que através de suas instalações artísticas regadas a psicanálise, política e estudo da arte geraram uma alteração ao panorama artístico de Buenos Aires no período que antecede a ditadura na Argentina. Assim, visto no todo o filme de Dora García pode ser mais complicado de digerir por não exatamente motivar ou dar um rumo às suas narrativas. É uma obra cuja as partes são muito isoladas, propositadamente, mas que acabam por, separadas, não tornarem claro o efeito que se almeja.
Até porque García, nas novas instalações que realiza, recriando o trabalho de Masotta, tenta gerar uma discussão, um diálogo, que se vê disperso, até mesmo deslocado, dentre os diferentes acontecimentos. O resultado é, no mínimo, confuso, ainda que isso não seja em si um problema para “Segunda Vez”, afinal a realizadora está mais interessada na experiência do público.
Aí se gera uma discussão até metalinguística, pois passamos a ser observadores daqueles espectadores. Assistimos ao público digerir informações semelhantes a que recebemos e, assim como em algumas instalações, somos privados de informações que auxiliem no complemento deste quebra-cabeça, ainda que todas as partes não pertençam a si organicamente. Mas o que parece uma coisa, é outra, e o que inicialmente pensamos ser uma reflexão sobre o que acabamos de ver é, também, uma experiência integrada àquilo, num jogo de impressões que falam sobre diferentes elementos.
É a intenção de García, questionar, tocar ao espectador de uma outra maneira, através de efeitos semelhantes ao que Masotta empregava. Não é, de maneira alguma, fácil de compreender. Com uma estética apurada, numa fotografia que calmamente nos situa dentro desses espaços que iremos ocupar, a sensação constante é a de que falta algo. O contexto histórico está ali, e dos personagens também, mas há uma ausência.
E aí é porque, talvez, “Segunda Vez” seja um filme que requer, mesmo, uma segunda vista. Porém, o que fica mais claro, sobretudo, é como este acaba por ser um filme demasiadamente teórico. Sem nos debruçarmos e aprofundarmos nos conceitos e textos bases que permitem a realização da diretor, esta segue sendo uma obra incompleta. De forma alguma dispensável, mas que, por si só, não funciona plenamente.
Confira aqui nossa cobertura do 8º Olhar de Cinema.