O Menino Que Queria Ser Rei (The Kid Who Would Be King, 2019); Direção: Joe Cornish; Roteiro: Joe Cornish; Elenco: Louis Ashbourne Serkis, Dean Chaumoo, Rhianna Doris, Tom Taylor, Rebecca Ferguson, Patrick Stewart, Angus Imrie; Duração: 120 minutos; Gênero: Aventura, Comédia, Fantasia; Produção: Nira Park, Tim Bevan, Eric Fellner; País: Estados Unidos, Reino Unido; Distribuição: Fox Film do Brasil; Estreia no Brasil: 31 de Janeiro de 2019;
É meio inusitado ver Joe Cornish assumir como seu segundo longa-metragem um filme como “O Menino Que Queria Ser Rei”, muito pelo que é o projeto que, de certa maneira, serve até como um forte contraponto ao seu “Ataque ao Prédio” (Attack the Block). São vários os elementos que podem ser pontuados para se fazer essa comparação, entretanto, o mais simples deles e o que mais interessa aqui, no momento, é a violência. Enquanto no filme anterior o diretor britânico abusava do gore e do linguajar de seus personagens, aqui é completamente diferente, com uma história toda direcionada ao público infantil.
Há a clara intenção de conversar com os jovens sobre o futuro que está sendo moldado e como estes serão, no futuro, nossos líderes. Há aí, também, uma tentativa de estender o diálogo para com o público mais velho também, entretanto, é assim que começam a surgir problemas aqui e acolá, sendo que o entretenimento vem carregado de maneira muita descarada com uma batida lição de moral que se faz até bastante cansativa. Há um determinado momento do filme em que parecemos estar andando em círculos, muito por conta de como, no todo, a produção é em si muito ingênua.
Se, por exemplo, “Paddington 2” –um dos melhores filmes de 2018– mostrava que não era preciso ser factualmente bobo para se conversar com qualquer faixa etária, e que se pode ser leve e lúdico com uma narrativa inteligente, “O Menino Que Queria Ser Rei” vai justamente na contramão. Desacredita de seu espectador e o rebaixa ao se fazer extremamente didático e repetitivo, numa verborragia de obviedades que é, em dado momento, simplesmente insuportável, e completamente desnecessária quando levado em conta o conteúdo. É tudo bastante simplório para que se duvide a capacidade de compreensão de qualquer um que seja.
E a comparação que realizo aqui é apenas pelo quesito de ambas produções serem britânicas, apesar do filme de Joe Cornish receber boa parte do financiamento via Estados Unidos. No entanto, o que fica é como um filme consegue debater o mal-estar contemporâneo sem fazer dessa sua bandeira, enquanto o outro levanta todas as bandeiras possíveis, mas que é panfletário de maneira tão ignorante que se torna irrelevante justamente ao pensar ser o contrário disso. Sem falar que deixa de lado características que tornaram a estreia de Cornish na direção tão memoráveis, como abraçar a marginalidade de seus personagens, por exemplo.
Em “O Menino Que Queria Ser Rei” há um filtro muito grande, que impede que o filme atinja muito do seu potencial, mesmo que seja pouco. Muito porque com um orçamento de 60 milhões de dólares é chocante como parece um filme feito para televisão dominical em um horário ingrato de exibição. Com uma direção de fotografia cuja única preocupação é basicamente fazer os enquadramentos mais inanimados e fechados possíveis, para sanar gastos em efeitos visuais, que quando surgem como uma necessidade, principalmente durante o clímax do filme, são passíveis de uma vergonha alheia, o que, vendo o quadro todo, torna inacreditável o custo do filme.
O principal fator que talvez possa cativar é o carisma do grupo protagonista, mas independentemente do quanto o elenco tente, seus personagens seguem, igualmente ao restante da narrativa, ingênuos e a partir de dado momento redundantes, com o protagonista tendo tramas mal desenvolvidas e encerradas de maneira igualmente nada inspirada. O principal destaque é o Merlin de Angus Imrie, que por ser o mais caricato em todo filme e, também, o único ciente de sua própria condição, funciona perfeitamente e é o grande deleite do filme. Tal personagem é tudo que “O Menino Que Queria Ser Rei” queria ser no todo, mas que falha miseravelmente ao tentar.