Filme Paisagem – Um Olhar Sobre Roberto Burle Marx (2018); Direção: João Vargas Penna; Roteiro: João Vargas Penna; Elenco: Amir Haddad; Duração: 72 minutos; Gênero: Documentário; Produção: André Carreira; País: Brasil; Distribuição: Elo Company; Estreia no Brasil: 15 de Novembro de 2018;
“Filme Paisagem – Um Olhar sobre Roberto Burle Marx” é um filme estático, mas também completamente inquieto. Há toda uma calmaria na pouca mais de uma hora de duração do documentário, contudo o que presenciamos aqui é bastante tocante no que diz respeito ao que movimenta as vidas, ou a vida. Isto é algo essencial ao olhar, tanto sobre Burle Marx, como o do próprio Burle Marx, seja pelo momento que atualmente vivemos, seja por sua contribuição histórica ou, então, pela maneira como ambas as coisas se veem intrinsecamente conectadas e dizem respeito uma a outra, culminando numa espécie de premonição.
O paisagista Roberto Burle Marx projetou algumas das mais conhecidas praças públicas, tanto no Brasil como no mundo, e o documentário traça um olhar sobre esses lugares. O diretor e roteirista João Vargas Penna tenta sintetizar em forma de homenagem, e descoberta para aqueles que desconhecem a figura, algo que reflita a faceta poética com a qual Burle Marx acabou por empregar em seus trabalhos, visto que, como explicitado ao longo do filme, sempre demonstrou muita preocupação na maneira como seus projetos integrariam e influenciariam no cotidiano daqueles que frequentam suas paisagens, gerando uma conexão onde é preciso, basicamente, uma interação, mesmo que subconsciente.
Com tudo em seu lugar, talvez o que soe mais deslocado no documentário é justamente uma tentativa de dramatização dos tempos de juventude do paisagista. Felizmente são poucos tais momentos, sendo que de maneira alguma encontram um encaixe orgânico com o que se vê, assim destoando com bastante discrepância do que soa tão gracioso no restante de “Filme Paisagem”. Soar é algo também bem importante, afinal a narração de Amir Haddad, em sintonia com a belíssima trilha sonora de composição da O Grivo, faz as palavras de trechos de textos escritos por Burle Marx soarem como um alento apaziguador, até dado momento.
Durante a jornada percorrido no filme somos apresentados ao processo inverso que Roberto Burle Marx fez para descobrir a riqueza da flora nacional. Exaltada lá fora, privilegiado que foi em uma viagem à Alemanha, Burle Marx teve a chance de entrar em contato com a porta que abriria no Brasil para ele próprio elevar o status do que havia aqui e, por conseguinte, fazê-lo se tornar uma parte integrante da sociedade no todo. Um reconhecimento das raízes que vai muito além de discursos patrióticos rasos. É com sutileza que João Vargas Penna traça esse panorama de abandono da feição cultural mais natural, do combate contra ao que realmente torna o Brasil no que é e nos deixa, por fim, com uma premonição de temores que atualmente vivemos como realidade. Contudo, serve como contraponto e, assim como Roberto Burle Marx, na medida do possível, fez na Rodovia Transamazônica, resistimos. Resistiremos!