A Lei da Noite (Live By Night, 2016); Direção e Roteiro: Ben Affleck; Elenco: Ben Affleck, Elle Fanning, Brendan Gleeson, Chris Messina, Sienna Miller, Zoe Saldana, Chris Cooper; Duração: 129 minutos; Gênero: Ação, Drama, Policial, Thriller; Produção: Leonardo DiCaprio, Jennifer Davisson, Ben Affleck, Jennifer Todd; Distribuição: Warner Bros. Pictures; País de Origem: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 23 de Fevereiro de 2017;
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A Lei da Noite é um filme que soa profundo, ou assim tenta fazer parecer. No entanto, há pouco no quarto filme de Ben Affleck (Batman vs Superman) que ecoe algo assim. A forma está toda ali, mas não o suficiente para que se preencha o filme da maneira como é desejado. As nuances às quais Affleck aqui almeja são aquelas a que tanto aspiram e tanto inspiram em sua maioria diretores considerados grandes, ou que acreditam que assim são ou podem ser. Se atirando ao noir, o diretor assume o papel de um protagonista que apresenta os traços consagrados do gênero, inclusive utilizando a Primeira Guerra Mundial como cenário de fundo para delinear ainda mais os traumas que, supostamente, carregará consigo ao longo das aparentes intermináveis horas do filme.
Tudo isso parece, porém, ser falado mais por elementos de competência técnica, do que pela visão de Ben Affleck para o todo. Talvez, após uma visita ao Irã, o retorno do cineasta a terrenos familiares sejam uma jogada segura até por demais. Uma outra vez o cenário é Boston, durante boa parte e exercendo força incontestável sobre o restante da trama; outra vez se adapta uma obra de Dennis Lehane. Este último é, aliás, o fator que mais deposita inconsistência sobre o filme. Tudo por conta do conteúdo da obra original, que parece se exacerbar àquilo que as mãos (e a mente) de Affleck são capazes de adaptar. Se em seu primeiro filme atrás das câmeras, adaptando também uma obra de Dennis Lehane, ele tornava a personagem de Michelle Monaghan em um mero ornamento, aqui a medida estende-se a muitos outros nomes, numa busca por condensar a história.
Numa história de tal complexidade, a narrativa se divide em dois grandes períodos diferentes da vida do protagonista. Ao longo de cada um, pequenas outras passagens de tempo vão se dando com certa sutileza. Contudo, Ben Affleck precisa recorrer não só a um mastigar de informações através de narrações, mas a pontuações nas tramas que se não mostram-se piegas, então desandam em uma falta de força para gerar qualquer catarse. O motivo é que A Lei da Noite oferece pouco que não sua superfície. Quando enquadra Elle Fanning numa tentativa de gerar uma aura sobrenatural, idílica, tudo que se consegue é gerar algo prontamente caricato. Enquanto quer exibir sobriedade sobre certos elementos, acaba-se por não estabelecer nenhum com firmeza suficiente. Assim, recorre-se a saídas que são banais e que, no fim das contas, condenam o próprio filme.
Destoam mesmo os visuais, mas não por conta das locações paradisíacas que facilitam o trabalho do diretor de fotografia. Destoam, e destacam-se, os cenários idealizados e materializados pelos responsáveis do design de produção do filme; o belo trabalho dos figurinistas igualmente. Elementos que reconstituem com clareza uma época; elementos que são no mínimo fundamentais para o funcionamento, também ainda que mínimo, de A Lei da Noite. Qualidades inquestionáveis há em determinadas facetas, no todo, contudo, há pouco o que se possa elogiar ou que faça em prol de uma salvação do filme. Nem mesmo o amadurecimento, pelo qual o diretor passou com a tensa sequência de fuga em Argo, consegue aqui se ver imprimida nas grandes sequências de ação, ou até mesmo nas figurativamente explosivas reviravoltas.
Quando chegamos ao fim de A Lei da Noite, também outra vez, Ben Affleck tenta apresentar sua narrativa toda num nível de ambiguidade moral que não consegue funcionar. Seus feitos, condenáveis, teriam sido cometidos, portanto, em vão? Bate o vazio, da rejeição, da negligência. Justamente nesta tentativa, de se apresentar como uma obra profunda, A Lei da Noite se traí. Com a dispersão que se ocorre devido a densidade da história que se falha em contar, o que resta são símbolos intangíveis que acabam desconexos. Parece haver dois filmes aqui, um que Ben Affleck tinha em mente, e outro que ele, como produtor, moldou para agradar ao público. Pouco dos dois funciona, mas a ambição, nada pequena, continua em igualmente grande evidência. Por fim, o que resta é a constatação não só das limitações de Ben Affleck como ator, mas da falta de alinhamento do projeto que tinha em mãos.
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