Edna” (2020); Direção: Eryk Rocha; Roteiro: Gabriela Carneiro da Cunha, Eryk Rocha, Renato Vallone; Elenco: Edna Rodrigues de Sousa; Duração: 64 minutos; Gênero: Documentário; Produção: Eryk Rocha, Gabriela Carneiro da Cunha; País: Brasil; Distribuição: –; Estreia no Brasil: –;

As estradas que ligam capitais e deixam diversos vilarejos às margens de qualquer protagonismo em um panorama nacional, é com essas imagens que “Edna” abre sua curta experimentação de formato. As imagens de mães que andam nas beiras das estradas para chegar em suas casas, pequenos lotes de terra cercados por terra não usada por grandes propriedades, ao som dos relatos difusos de Edna, uma senhora de idade. De certa forma, em questão de minutos, o filme torna sua entrevistada um avatar comum à nossa sociedade.

Com imagens muito mais focadas em trazerem um caos contemplativo daqueles espaços, “Edna” já se apresenta de forma diferente da maioria dos documentários convencionais. Como já foi dito, sendo aqueles em que a imagem existe apenas na camada superficial de ilustrar o que está sendo dito. Aqui, parece o inverso, o som ganha uma abordagem muito mais complementar às sensações da imagem. Visto que na mixagem do som, há um claro foco nos sons gerados nas ações do que nas falas, seja da entrevistada principal e aqueles que a circulam.

As imagens do caderno são complementadas por leituras dos relatos da personagem-título, em que houve uma confusão entre ela reaprender ou estar contando algo novo. Existe uma noção difusa na forma como o som dos pensamentos de Edna soam mais como ruídos do que as ações das imagens, como se sua consciência estivesse a todo momento sendo sufocada por um cotidiano tão primário que não a permite processar o que já ocorreu. Uma noção de caos que fica ainda mais explícita com a escolha de imagens ao final.

As queimadas ganham uma relevância não expressa anteriormente, por mais que as palavras do caderno permaneçam dúbias e evidentemente amplas de semântica, agora elas ganham tons de trauma muito mais severos que anteriormente. O tom do relato é o mesmo de antes, com a entrevistada mostrando dificuldades de se expressar, mas as imagens tornam tudo mais pesado. O maior mérito de Eryk Rocha está em não subestimar a capacidade da imagem em mudar a percepção do público.

Porém, ao final do longa, ele se sente na obrigação de tornar algo evidente: Dona Edna é mais uma das vítimas do regime militar, que se sentia mais confortável ainda em tratar camponeses como algo menos humano em comparação às cidades. A história de Edna não será nunca a protagonista de uma discussão sobre injustiças e crimes da ditadura, estamos focados demais em seguirmos à estrada para o próximo grande centro urbano. A história da resistência nos campos só se torna manchete quando atrapalha as chuvas das megalópoles, uma das mais verdadeiras faces dessa realidade imutável do país.

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