O Cão que Não se Cala” (“El Perro Que No Calla“, 2021); Direção: Ana Katz; Roteiro: Gonzalo Delgado, Ana Katz; Elenco: Daniel Katz, Julieta Zylberberg, Carlos Portaluppi, Susana Varela, Renzo Cozza, Valeria Lois; Duração: 73 minutos; Gênero: Drama; Produção: Laura Huberman, Ana Katz, Ramiro Pavón, Pablo Ingercher; País: Argetina; Distribuição: –; Estreia no Brasil: –;

Falar sobre depressão e demais doenças da contemporaneidade não é tarefa fácil. Mais difícil ainda é conseguir construir imagens que expressam tais sentimentos, sem soar vulgar ou desrespeitoso. Um dos méritos da cineasta argentina Ana Katz (de “Sueño Florianópolis”) é conseguir construir esse imagético de maneira criativa e contundente. Em seu mais novo filme, “O Cão Que Não se Cala“, ela aborda essa temática, usando de diferentes gêneros, como comédia e ficção científica, para expandir sua linguagem cinematográfica e expor da forma mais ampla sua visão.

O longa acompanha a vida de um homem (Daniel Katz, irmão da diretora) na faixa etária dos 30 anos, que não consegue se estabilizar em emprego algum, tem dificuldade em expressar verbalmente seu descontentamento e de manter vínculos afetivos. Seu maior vínculo é o cachorro do título, ao qual seus vizinhos reclamam incansavelmente por fazer muito barulho, ao ficar sozinho. Seus empregos não aceitam que ele leve o animal para o emprego. Apesar disso, ele não reclama, tenta seguir em frente, se reconectar com sua mãe, de presença impositiva. Em dado momento, contudo, seu mundo é atingido por uma estranha pandemia, que coloca em risco a humanidade. Ele precisa, enfim, se expor e impor os seus desejos.

É mais um bom uso narrativo da pandemia, transposto a expor a irracionalidade do mundo contemporâneo, numa crítica direta ao capitalismo. Como o sistema que vivemos nos usa e descarta, em prol dos interesses mais banais e escusos. O fato da passividade excessiva do protagonista representa essencialmente como esse mundo nos oprime e nos torna cada vez mais sem expressão, com vínculos protocolares, quase inexistentes de sentimentos. É um roteiro muito singelo, porém preciso. Os recursos visuais da cineasta, se apropriando de imagens de animação como forma de expressar os pensamentos e emoções dos personagens, são bastante assertivos, como também líricos.

O principal desafio desse tipo de filme é não ficar restrito a um certo nicho, de filmes “indies”, que certamente você já viu parecido. A cineasta procura das formas mais criativas, delinear imageticamente “O Cão Que Não se Cala“, tentando mostrar de que se trata de uma narrativa singular. Particularmente, apesar de achar algumas escolhas criativas um tanto supérfluas – ou mesmo bobas – vale salientar que é uma obra singela, poética, e assertiva, na forma de expor um universo particular de forma universal. No fim das contas, é um longa que pede ao espectador para se expor, não se calar, ousar. Nada mais justo.

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