Crítica | Iron Fist | 1ª Temporada

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Punho de Ferro (Marvel’s Iron Fist) (Netflix, 2017-); Criada por: Scott Buck; Direção: John Dahl, Tom Shankland, Miguel Sapochnik, Uta Briesewitz, RZA, Farren Blackburn, Kevin Tancharoen, Jet Wilkinson, Peter Hoar, Deborah Chow, Andy Goddard, Stephen Surjik; Roteiro: Scott Buck, Quinton Peeples, Scott Reynolds, Cristine Chambers, Dwain Worrell, Ian Stokes, Tamara Becher-Wilkinson, Pat Charles; Elenco: Finn Jones, Jessica Henwick, David Wenham, Jessica Stroup, Tom Pelphrey, Wai Ching Ho, Rosario Dawson, Ramon Rodriguez, Sacha Dhawan; Número de Episódios: 13 episódios; Data de Lançamento: 17 de Março de 2017;

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Iron Fist (ou Punho de Ferro, se preferir) é a última série antes da aguardada união dos heróis da parceria Marvel e Netflix em The Defenders (Os Defensores), que consistirá em 8 episódios previstos para estrear no segundo semestre desse ano. A última série antes disso já é o quinto fruto da parceria que começou de forma arrebatadora para os fãs, e consolidou-se com um sucesso talvez até maior do que esperado. Contudo, os três heróis até então explorados tinham em suas séries especificidades que falavam muito sobre seus personagens. Daredevil (ou Demolidor) tem um apelo muito maior às usuais adaptações de quadrinhos para as telas, servindo como uma porta de entrada até mesmo para a violência que a plataforma permite que estas séries tenham. Ainda assim, até aqui o percurso tem sido, na minha opinião, mais irregular do que se faz parecer, sendo que até prefiro Jessica Jones e Luke Cage pelas temáticas marginais que abordam, dando uma faceta mais complexa ao mundo cada vez mais padronizado dos super-heróis da Marvel. Tudo isso cai por terra, no entanto, quando chegamos nesta quinta série do Universo. Até porque, se não se invalida para o público o que foi visto até agora, então assim se faz para aqueles que produzem a decepcionante atrocidade aqui apresentada.

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Possivelmente um dos super-heróis menos conhecidos daqueles explorados até o momento, o Iron Fist de Finn Jones (Game of Thrones) tem origem e características que são comuns a tantos outros personagens que já caíram no gosto do público, portanto, não se apresentando como um empecilho. Porém, a história do garoto que perdeu os pais e foi resgatado, criado e treinado por monges guerreiros, se mostra um elemento mais complexo do que o esperado para os roteiristas da série. Antes de ser o tal Iron Fist, o protagonista era só Danny Rand, o jovem herdeiro de um império bilionário. Sua idade, antes de sua presumida morte, era por volta dos 8 anos, talvez até um pouco mais do que isso. Mas é um ponto crucial da narrativa, não só pelo tempo que o garoto passa longe de casa, mas por aquilo que um dos personagens ressalta ao repreender seu próprio filho durante o primeiro episódio, que décadas antes era o “melhor inimigo” de Danny Rand. A repreensão é simples, pois, devida a frustração no andamento dos negócios, o pai questiona o filho sobre suas atitudes, indagando se a idade que ele possui é aquela que, convenientemente, vimos sendo retratada num de seus últimos contatos com Danny Rand.

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A verdade é que a escassez de desenvolvimento do personagem, durante seu tempo em K’un-Lun, parece se fazer ecoar em todo o restante do roteiro da série. É como se Danny Rand tivesse simplesmente congelado no tempo e, ao invés das usuais piadas com as tecnologias além de seu tempo, surgissem conflitos dignos da idade de quando partiu, ainda garoto. Não foi sem alarde que expressei minha constatação enquanto assistia aos episódios. Tudo que era falado pelos personagens parecia vir de crianças de 8 anos. Inclusive, estava quase convencido de que realmente haviam sido crianças de 8 anos que fizeram essa série. Aqui, portanto, devo admitir que a contragosto concordo com as declarações de Finn Jones, de que a ascensão do atual Presidente dos Estados Unidos ao poder tenha causado uma rejeição muito grande por parte dos críticos. Mas ora, os dispersar dessa maneira é algo que seu personagem, assim como aquele a quem o ator culpa, faria sem qualquer receio. O problema não está nas semelhanças que se possam constatar entre a elite da vida real e a ficcional retratada em Iron Fist. O problema está em como ela é mantida com a mesma infantilidade, que ao invés do ingênuo, desponta e culmina aqui para o que é puramente idiota.

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Ou seria, também, um misto de preguiça por parte das mentes por detrás da produção? Afinal, a introdução da personagem de Rosario Dawson, que fragilmente conecta as diferentes versões de Nova York onde vivem os super-heróis, se faz um equívoco gritante. O que a atriz vive aqui parece uma persona completamente diferente daquela que havia ganhado um desenvolvimento decente em Luke Cage. Pior, sua introdução entre os meandros da narrativa do protagonista com seus vilões chega a ser risível, tornando quase inacreditável até mesmo a tentativa de se justificar a presença (desnecessária sempre) da personagem em determinados, e constrangedores, momentos. O cúmulo vem, no entanto, quando se pensa que a simples menção repetidas vezes de uma frase de um personagem de uma outra série é suficiente para mostrar que estes são os mesmos mundos, uma mesma Nova York. O medo que Iron Fist, assim como as outras séries da Marvel até aqui, exalam em tocar na existência de outros eventos desse Universo passam a se tornar irritantes, até mesmo ilógico. Dois anos já consolidados num universo dramatúrgico estabelecido e há um receio sem cabimento de se aprofundar conexões.

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De quebra, há pouco que Iron Fist ofereça que possa agregar positivamente na união dos heróis. A espera por lutas que replicassem batalhas empolgantes com artes marciais continua só em expectativas, delatando a própria infelicidade da qualidade técnica da série. As pobres coreografias são ainda mais prejudicadas com a montagem completamente mutilada dos episódios, que falham até mesmo em estabelecer arcos narrativos coerentes. Há episódios em que sequências sem sequer quaisquer correlações servem de início a algo que não dá em lugar algum, quando a simples introdução da abertura tema da série faria o serviço de intercalar duas linhas narrativas paralelas que, em dado momento, não precisavam estar apresentadas em conjunto. É linguagem cinematográfica e narrativa básica, que os responsáveis por Iron Fist demonstram não ter sequer o mínimo domínio. Não fazem errado, mas pouco parecem entender daquilo que estão por fazer.

O que indiretamente culmina na própria pobreza que são os personagens. Que David Wenham é bom ator, sabemos, mas há pouco que ele possa fazer quando roteiro e direção parecem exigir constantemente que se crie algo caricato. Seria o mesmo com o Ward Meachum de Tom Pelphrey, se o trabalho do ator não fosse um completo desastre. Assim como acontece com a Joy Meachum de Jessica Stroup, onde os irmãos são jogados num drama corporativo desinteressante e ainda menos carismático quando a atuação de ambos acabam sendo as mais fracas dentre todo o elenco. Já Finn Jones ao menos tem a Colleen Wing de uma esforçada Jessica Henwick para se sustentar, o que não é muito, ainda mais quando a infantilidade de seu personagem persiste em se fazer presente a todo o momento, até fazendo válido o discurso contra apropriação cultural. O problema é que isso diz muito sobre a série em si, Iron Fist tenta se sobrepor a algo, assim como seu protagonista, mas não oferece nada em troca, ou sequer tenta justificar-se. É apenas o ego de uma criança mimada clamando por um lugar sem querer contemplar as consequências.

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