Crítica | The Get Down – Parte 2 | 1ª Temporada

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The Get Down (1ª Temporada – Parte 2) (Netflix, 2016-); Criada por: Baz Luhrmann, Stephen Adly Guirgis; Direção: Lawrence Trilling, Ed Bianchi, Clark Johnson; Roteiro: Stephen Adly Guirgis, Aaron Rahsaan Thomas, Nelson George, Seth Zvi Rosenfeld, Sam Bromell, Jacqui Rivera; Elenco: Justice Smith, Shameik Moore, Herizen F. Guardiola, Skylan Brooks, Tremaine Brown Jr., Yahya Abdul-Mateen II, Jimmy Smits, Jaden Smith, Giancarlo Esposito, Zabryna Guevara, Noah Le Gros; Número de Episódios: 5 episódios; Data de Lançamento: 07 de Abril de 2017;

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O texto contém spoilers.

Já havia me decepcionado com a primeira parte da temporada de The Get Down, lançada pela Netflix em Agosto do ano passado. Mas a curta continuação que é esta segunda parte, e uma possível sensação de finitude ao que tinha visto, me fizeram retornar à série. Entre bastidores turbulentos, onde a produção desde o início enfrentou problemas e inclusive viu o orçamento subir cada vez mais, até a guilda dos atores acionar judicialmente a produção por manter os atores em estado de espera por períodos excedentes aos previstos contratualmente, o resultado final acaba chegando ao público incerto, contando no todo, inclusive, com um episódio a menos que o previsto. No entanto, é impossível afirmar que não houveram mudanças drásticas entre as duas partes. Aliás, acredito que houveram alguns cortes ferrenhos, além da exclusão de um episódio inteiro, e possíveis refilmagens de algumas sequências, bem como inserções de outras novas sequências que, por consequência dos problemas com o orçamento, foram substituídas por sequências animadas para complementar algumas partes da história. Parece haver nesta parte final da temporada uma tentativa de realinhar parte da proposta da série, sendo que até personagens com participação pequena, mas cruciais para algumas tramas, aqui são praticamente deixados para trás, onde o Bronx se torna ainda mais coadjuvante.

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Há intenção de focar no futuro dos jovens protagonistas, até porque, posso estar bastante equivocado, mas ao final da temporada a sensação é de que estamos diante mesmo é de um series finale. Para alcançar um posicionamento que seja ambíguo, é deixado implícito o futuro dos personagens, enquanto também se deixa pontes para aquilo que já havia sido tornado explícito através do principal elemento de The Get Down: as canções. É verdade que há tramas que não encontram conclusão alguma, o que no mundo das séries é algo comum em cancelamentos precoces, mas há uma sensação de resolução entre o que ansiava Ezekiel Figuero e aquilo que conquistou, o que descobrimos ao sermos introduzidos aos episódios geralmente com flashforwards do personagem de Justice Smith. Tal toada, contudo, vai deixando de lado a cena política e mais séria apresentada na primeira parte, com o desenvolvimento da trama do Papa Fuerte de Jimmy Smits rechaçada a uma parcela bem menor de tempo, geralmente com apenas ligeiras menções através de noticiários, estes que até por vezes figuram somente num segundo plano da cena. O mesmo acontece com o personagem de Giancarlo Esposito (Better Call SaulJogo do Dinheiro, Maze Runner: Prova de Fogo) e a empreitada de sua igreja, nesta segunda parte muito mais presente em menções dos personagens. Ambos, porém, protagonizam o que há de mais infeliz na série.

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A estética da série é outra de suas grandes virtudes, mas a construção visual não é, no todo, tão orgânica quanto se quer fazer parecer. A transição para a época, nos meados dos anos 70, conta com ótimos cenários práticos e figurinos exuberantes, condizentes com o que se espera em qualquer produção que envolva o nome de Baz Luhrmann. Tais elementos, no entanto, já haviam provado seu valor, a si próprios e ao público, na primeira parte, ficando evidente a qualidade do trabalho feito ali. O problema reside no que esse visual preenche ou com o que é preenchido. Porque o melodrama não consegue ser convincente, e há um excesso que parece ser uma tentativa de compensar, tudo porque não há nesse quesito, do próprio roteiro e desenvolvimentos dos personagens, a mesma intensidade que há nas rimas de Justice Smith. A exemplo do personagem de Jaden Smith e as histórias que “retrata” nesta segunda parte. Ele assume um posicionamento de observador, fazendo com que continue a sina de seu envolvimento com o personagem de Noah Le Gros como um elemento que The Get Down parece encontrar uma barreira, e até certa timidez, em explorar. O que se deixa implícito ali faz falta por demais ao desenvolvimento de ambos os personagens, numa relação que acaba soando deveras superficial.

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Mas quando retornamos aos adultos, onde fica tudo explícito através dos corriqueiros excessos, também vemos como o estilo ao qual se apela, que fala claramente com aquilo que é o cinema de Baz Luhrmann, não encontra uma funcionalidade prática no todo. A execução não é das mais meticulosas, e enquanto funciona para as cenas musicais, onde a frenética de The Get Down não só pode, como deve falar mais alto, não é o mesmo para os demais momentos (melo)dramáticos. Ainda que um erro de continuidade não seja o suficiente para destituir toda uma produção, quando a briga entre o pastor, personagem de Giancarlo Esposito, e sua esposa, personagem de Zabryna Guevara, expõe o que é um certo desleixo, com a maquiagem dos ferimentos, que a personagem ainda receberá após descontrole do marido que chega ao ponto de bater nela, surgindo antes do acontecimento. É um erro grotesco, que não faz The Get Down ser dispensável, mas que evidencia que os menores deslizes também não podem passar despercebidos, pois aqui, sim, há uma cadeia orgânica, onde o funcionamento -ou não- de um elemento pode contagiar o que vem a seguir. Quando o erro é gritante, é bastante fácil criticar, mas o que há na série é que os menores deslizes técnicos também saltam aos olhos, mas até então se assimila a tais como uma consequência do estilo.

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Falta sobriedade a The Get Down, que é cativante por aquilo que tem de melhor, mas sem saber compensar todos os anseios que tem, ou então torna-los dinâmicos num desenvolvimento em conjunto. As músicas, as rimas, a musicalidade e a sonoridade continuam excepcionais nesta segunda parte, mas falta o equilíbrio para que The Get Down se concretize como o que quer, e ao que se propõe, tomando para si a responsabilidade de se tornar a voz de uma geração, mas sem saber ao certo como exatamente fazer isso. Distante do que podia conquistar, desperdiça-se o talento do jovem elenco, bem como o de alguns atores mais veteranos, em tramas supérfluas e que inflam desnecessariamente a narrativa. É bonito ver a tentativa de se representar toda a cultura que delineava algo cuja culminação viria a ser sem precedentes, portanto revolucionária. Há muito aqui do que é e porque merece se ressaltar essa cultura marginal, e relegada assim por puro preconceito, mas falta dedicar a ela a própria sinceridade com a qual se criou o que The Get Down tenta capturar. A essência do que o grupo representa provavelmente se encontra na série, mas fragmentada e perdida em meio aos devaneios excessivos de uma produção que não reconhece seus próprios defeitos.

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