Oppenheimer” (2023); Direção: Christopher Nolan; Roteiro: Christopher Nolan; Elenco: Cillian Murphy, Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr., Florence Pugh, Josh Hartnett, Casey Affleck, Rami Malek, Kenneth Branagh; Duração: 180 minutos; Gênero: Biografia, Drama, Thriller; Produção: Emma Thomas, Charles Roven, Christopher Nolan; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 20 de Julho de 2023;

Oppenheimer 02
(Divulgação/Imagem: Universal Pictures)

Christopher Nolan têm seus interesses pessoais desenvolvidos de diversas formas ao longo de toda sua carreira como cineasta. Desde seu primeiro longa, “Following” (1998), ele vem trabalhando diferentes percepções do tempo e da lógica. Geralmente isso acontece através de histórias ficcionais, mas sempre muito fincadas numa espécie de “realismo”. Ponto de muita controvérsia quando levado em conta sua trilogia do “Cavaleiro das Trevas” e como ela influenciou, de determinada maneira, filmes de gênero similar ao seu. Ame ou odeio, a verdade é que fora das adaptações dos quadrinhos, Nolan se tornou uma referência pelas grandes produções bem-sucedidas e originadas a partir de roteiros/histórias originais, algo cada vez mais raro e escasso em Hollywood. É também um privilégio para poucos que se possa realizar produções como as que Nolan faz, tanto que bancar uma retomada aos cinemas em meados da pandemia com “Tenet” não se mostrou a melhor das escolhas. Rinha de bastidores de lado, seu filme anterior passou batido, aquela ficção, no entanto, era um tanto diferente do filme que lhe rendeu sua única indicação ao Oscar de Melhor Direção até hoje: “Dunkirk”. Esse, sim, um filme que indica muito mais o que Nolan tem a entregar quando se debruça sobre histórias reais.

Oppenheimer 03
(Divulgação/Imagem: Universal Pictures)

Assim, “Oppenheimer” é algo completamente diferente de tudo que o cineasta fez até aqui em sua filmografia. O espetáculo, a grandeza, está tudo ali, mas incluído na narrativa de outra forma. Não há grandes sequências de ação, mas existem ações de grandes consequências. E o tamanho épico da construção dessa realidade, ou melhor, da reconstrução de um passado que foi um ponto de virada na história da humanidade, é o que caracteriza isto. Espaço e tempo, literalmente, são fundamentais à história, portanto, o filme faz de tudo para nos transportar até ela e transformar numa experiência singular, regada a uma imersão baseada no que o cinema como produto audiovisual tem de melhor a oferecer. Só que “Oppenheimer” é uma imersão na vida pessoal de seu personagem título, aqui interpretado por Cillian Murphy, e a repercussão de seus feitos, principalmente em seu embate pós-Segunda Guerra Mundial com Lewis Strauss, interpretado por Robert Downey Jr., figura política proeminente nos EUA e ligado ao desenvolvimento de Energia Atômica no país. O embate constrói a narrativa através dos anos, nos conduzindo pela história de Oppenheimer e a sua criação, que deu à humanidade um dos seus capítulos mais sombrios, mas que é permeado de ambíguas questões morais.

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(Divulgação/Imagem: Universal Pictures)

Para chegarmos até o ápice disso, no entanto, “Oppenheimer” constrói aos poucos uma tensão, em um filme em boa parte de tribunal, que usa todos os artifícios possíveis para ser tão eficiente e impactante quanto é. Christopher Nolan comanda sua equipe numa jornada que através da técnica, eleva o discurso narrativo, onde as duas se unem para criar algo que seja, no mínimo, um vislumbre do extraordinário que as mentes como a do protagonista foram, e são capazes, de conceber. A narrativa se faz mais intrincada pelo desenvolvimento através dos diferentes períodos de tempo, que se intercalam numa colcha de retalhos montada meticulosamente para realçar uma miríade de sensações, impulsionando cada uma delas. Esse realce da sensação se dá, também, através do som e imagem como elas se apresentam, tanto na direção de fotografia de Hoyte Van Hoytema, que torna tudo mágico, mesmo quando claustrofóbico ou desolador. O som é outra peça chave e fundamental, seja pela construção dos ruídos, ambiências e dos sons do filme propriamente ditos, como da fusão deles com a trilha sonora de Ludwig Göransson, que em determinados momentos se misturam construindo uma sinfonia de pessoas. Ou então, estabelecendo o grande momento do filme, a Experiência “Trinity“. A culminação de todo o trabalho dos personagens do filme e da equipe técnica, o evento que mudaria o curso da história e que em “Oppenheimer” é uma experiência assombrosa!

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(Divulgação/Imagem: Universal Pictures)

Oppenheimer”, porém, conta um dos lados da história, o lado que menos sofreu, e que foi culpado, mesmo que indiretamente, pelo ataque em Hiroshima e Nagazaki. E seria vazio e prepotente se Christopher Nolan não tivesse a sensibilidade de permear seu filme com personagens cujas questões morais e sentimentos preenchessem a tela. Por isso, não é o ato da atrocidade cometida pelos Estados Unidos que mais uma vez choca ou comove, mas o momento em que mentes brilhantes se deparam como o caminho que traçaram para todos os outros que habitam o planeta. E Nolan faz isso sem rodeios, coloca em pauta a política, o amor e a vaidade que faziam parte da vida de Oppenheimer, vivido aqui por um Cillian Murphy em atuação sublime, que vai da fisicalidade aos mínimos trejeitos, constituindo seu personagem com características únicas. Sua justaposição é Robert Downey Jr., em um dos melhores momentos de sua carreira. Entre eles está a compreensão, acima de qualquer personalidade, não somente sobre a coisa certa a se fazer, mas como ela impacta primeiro a cada um, e depois aos outros. É devastadora a reflexão promovida, e talvez ela seja um retrato daquilo que nós somos. Ou do que nos tornamos quando falhamos com nós mesmos. Porque, como Carl Sagan disse em “Pálido Ponto Azul”, “(…) Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar de nós próprios.” Somos só nós, e aquilo que desejamos uns aos outros e a si próprios…

Oppenheimer” – Trailer Legendado:

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