Meu Ex é Um Espião (The Spy Who Dumped Me, 2018); Direção: Susanna Fogel; Roteiro: Susanna Fogel & David Iserson; Elenco: Mila Kunis, Kate McKinnon, Justin Theroux, Sam Heughan, Gillian Anderson, Hasan Minhaj, Ivanna Sakhno; Duração: 117 minutos; Gênero: Ação, Comédia; Produção: Brian Grazer, Erica Huggins; País: Estados Unidos; Distribuição: Paris Filmes; Estreia no Brasil: 23 de Agosto de 2018;
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(Divulgação/Foto: Hopper Stone)

Meu Ex é Um Espião” parece não apenas por coincidência ter estreado nos Estados Unidos uma semana após “Missão: Impossível – Efeito Fallout”. Lógico que em parte é uma jogada mercadológica, com menor concorrência, mas não é apenas uma alternativa. Parece, também, um comentário sobre o filme protagonizado por Tom Cruise.

O fato de podermos traçar uma comparação entre ambos os filmes, completamente diferentes em suas propostas, não se dá também apenas pela semelhança visual encontrada aqui. Mesmo que em cidades diferentes, parece proposital que em uma perseguição automobilística “Meu Ex é Um Espião” de certa maneira emule a sequência nas ruas de Paris do filme de Christopher McQuarrie.

Fazer com que haja essa conexão, aliás, é um mérito louvável, pois ainda que em meio a percalços técnicos, é assim que temos ideia do quão funcional o filme consegue ser. O controle da diretora e co-roteirista Susanna Fogel nos transporta a uma sátira que é tão ciente de sua situação como do status quo do cinema atual.

Assim, o domínio de determinadas limitações unido a um autêntico storytelling, que sabe como utilizar e empregar à narrativa suas gags, faz desta uma das comédias mais deliciosas do ano, ainda que longe de ser perfeita, mas deveras competente.

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O que ajuda a fortalecer essa ideia de um pleno autoconhecimento é a personagem de Kate McKinnon (A Última Ressaca do Ano, Caça-Fantasmas), que não foge ao estereótipo do qual a atriz geralmente tem interpretado no cinema nestes últimos anos. Aqui, no entanto, a vencedora de dois Emmys de melhor atriz em série cômica tem como auxílio ao seu talento uma cineasta que sabe como aproveita-la.

Não à toa é a atriz quem parece ser a alma do filme, é o ponto central que faz todo o restante funcionar. Porque por mais que se mantenha em seu estilo de humor mais pastelão, Fogel integra isso de maneira brilhante ao filme. É sutil a maneira como certo personagem a trata, e quando diz que ela é sempre tão dramática, o conflito deixa de ser externo, passando a ser diegético.

É esse enfrentamento que o filme propõe, de uma personagem deslocada, que faz com que McKinnon tenha aqui seu melhor trabalho em longas-metragens até então. A maneira como Fogel trabalha isso acaba dando um viés literalmente dramático à personagem, um arco de desenvolvimento dedicado a alguém que, no fim, acabamos por nos sentir melhores amigos.

É uma pena, porém, que o embate dela com a genérica vilã de Ivanna Sakhno (Círculo de Fogo: A Revolta) tenha uma resolução que soe até preguiçosa, um momento que destoa dos demais.

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A própria Mila Kunis (O Destino de Júpiter), real protagonista do filme, parece compreender a força que McKinnon possuí dentro da narrativa e se coloca em seu lugar. Não de uma maneira diminuta, mas sim reconhecendo que não deve se exceder a ela.

McKinnon é a melodramática, Kunis é aqui o perfeito contrapeso, a personagem que nos atém ao choque de realidade constante do filme, de duas mulheres que se encontram em meio a uma trama internacional regada a mortes, conspirações e reviravoltas.

Algo que ajuda a reforçar o enfrentamento proposto, que questiona não só a legitimidade de suas situações, mas do próprio gênero num todo, e por isso mesmo usa mulheres como protagonistas. Há ali, ainda que de maneira tímida, um discurso feminista.

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(Divulgação/Foto: Hopper Stone/SMPSP)

Com base nisso, não só as duas protagonistas abusam da química em cena para realizar uma parceria extremamente funcional e divertida, mas Susanna Fogel tem o cacoete de ser pontual para tornar tudo o mais cômico possível.

Ainda que tenha suas limitações técnicas, alguns erros inclusive saltam aos olhos de maneira incomoda, Fogel constrói em “Meu Ex é Um Espião” um filme que funciona em diversas camadas, contando com uma decupagem certeira e inteligente, que imageticamente tira total proveito do que o elenco e um sagaz roteiro oferecem. Um Deleite completo!

Meu Ex é Um Espião – Trailer Legendado:

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