“Gladiador 2” (“Gladiator II”, 2024); Direção: Ridley Scott; Roteiro: David Scarpa; Elenco: Paul Mescal, Pedro Pascal, Joseph Quinn, Fred Hechinger, Lior Raz, Derek Jacobi, Connie Nielsen, Denzel Washington; Duração: 148 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Drama; Produção: Ridley Scott, Michael Pruss, Douglas Wick, Lucy Fisher, Walter F. Parkes, Laurie MacDonald, David Franzoni; País: Estados Unidos, Reino Unido; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia no Brasil: 13 de Novembro de 2024;
“Gladiador” foi um sucesso absoluto, tanto para a indústria como na carreira de Ridley Scott (“Napoleão”), sendo este talvez seu maior feito em termos de lauréis, inclusive vencendo o Oscar de Melhor Filme. Contudo, diferente da franquia “Alien”, cujo primeiro filme também foi comandado por Scott, a produção de 2000 não dava qualquer indicativo de que poderia ter uma continuação, até porque como contava a história do Maximus de Russell Crowe de forma tão concisa, não parecia se fazer necessário, inclusive, talvez seu final tão definitivo era o que fazia o filme ter um impacto maior do que o esperado. Uma continuação, entretanto, foi cogitada por muito tempo, e 24 anos depois finalmente se concretizou e chega aos cinemas pelas mãos de um mesmo Ridley Scott, que agora é cada vez mais senhor de seus filmes e produções e que dificilmente encontra empecilhos em realizar o que deseja da forma que deseja, a não ser, obviamente, por limitações financeiras. O que não parece um problema, pois assim como em todos seus filmes recentes, “Gladiador 2” tem toda essa produção que aspira a grandeza de um épico e esbanja esses valores num cinema que tem ares de grandiosidade. Só que tanto tempo depois do primeiro filme, nada é mais o mesmo, nem o próprio cinema de Ridley Scott.
Parece ficar mais e mais evidente como o que importa ao cineasta é esse aspecto de produção de proporções épicas, uma pretensão auto indulgente em relação a toda abstinência de outros quesitos no filme. Se havia em produções anteriores do diretor algum quê de uma seriedade que se queria fazer sisuda, madura, “Gladiador 2” abre um pouco mão disso, se tornando também, talvez, o filme menos coerente de Scott em muito tempo. Algo que é ainda mais conflitante, porque é simultaneamente um blockbuster mais acessível, ainda que tente manter uma trama mais complexa, o que não só estende o filme para além do necessário, como parece dividi-lo em produções completamente distintas e cuja diálogo entre si é tão raso que, ao contrário do desejado, enfraquecem uma à outra. Perde-se muito do apelo daquela relação popular de Maximus que inspirava aos mais fracos, tanto pelos segredos do protagonista como pela demasiada atenção que é dada aos planos e maquinações políticas no alto escalão do Império Romano. É quase como se um filme fosse dedicado aos adultos e outro aos filhos que acompanhariam aos pais que assistiram ao original nos cinemas duas décadas atrás. Em ambos, porém, há uma faceta que toma contornos acidentais de pastiche.
Dentro dessa caricatura que se torna “Gladiador 2” quem brilha é Denzel Washington, porque o ator parece estar se divertindo mais que qualquer outro em cena, e suas maquinações são o que entretém, até certo ponto, e mesmo que ele pareça estar vivendo uma versão imperial de seu personagem de “O Gângster” (2007), ainda é o ponto alto do filme. Paul Mescal sofre por um roteiro que lhe dá uma dramaticidade que é muito pautada no melodrama, que destoa da postura na qual Ridley Scott, de fato, retrata o personagem. A forma como suas relações são retratadas não condizem com aquilo que o ator entrega em cena, o que influencia diretamente, também, no embate com o antagonista interpretado por um desperdiçado e subutilizado Pedro Pascal. Se um aspecto do filme original era a sutileza dentro de seu escopo épico, aqui isso é tudo esquecido, sobra apenas o exagero, seja ele no melodrama, seja na violência, para a qual “Gladiador 2” desanda de uma maneira que faz pouco sentido dentro do restante da proposta. São tons muito descabidos dentro do próprio filme que, por fim, após se estender sobre tanto, parece ter que se solucionar às pressas, resultando numa amálgama de acontecimentos que deixam tudo bastante constrangedor.