Feito na América (American Made, 2017); Direção: Doug Liman; Roteiro: Gary Spinelli; Elenco: Tom Cruise, Sarah Wright, Domhnall Gleeson, Jayma Mays, Jesse Plemons, Lola Kirke, Caleb Landry Jones; Duração: 115 minutos; Gênero: Aventura, Drama, Thriller; Produção: Brian Grazer, Brian Oliver, Tyler Thompson, Doug Davison, Kim Roth; Distribuição: Universal Pictures; País de Origem: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 14 de Setembro de 2017;
Confira a crítica em vídeo de Márcio Picoli, clicando no player acima! Aproveite e clique aqui para conhecer o nosso canal do YouTube.
Doug Liman é um ótimo storyteller e tem em sua manga trunfos que lhe permitem algum crédito quando lembramos de fracassos em sua carreira, como Jumper, por exemplo. No entanto, se há 15 anos atrás, quando começava a desbravar e se firmar em Hollywood, o cineasta já nos entregava algo que viria a reformular um gênero, com o início da franquia Bourne, projeto após projeto só se passou a ganhar mais segurança em suas empreitadas. É verdade que nem sempre são filmes memoráveis e muitos não passam de puro entretenimento, quase a maioria na verdade. O que não é problema algum, pelo contrário, pois a consistência que encontramos em seus filmes, como este aqui em questão, tornam esse entretenimento em algo admirável, elevando Liman ao posto no qual se encontra hoje e na posição para realizar um filme como Feito na América (American Made). Um filme que funciona plenamente como entretenimento durante suas duas horas, que se fazem um deleite no ritmo que é empregado e no desenvolvimento certeiro da narrativo. Contudo, é também um filme que demonstra uma problemática quanto ao que retrata, onde nem mesmo as tentativas estilísticas pelas quais são optadas disfarçam a incapacidade de se distanciar daquilo que realmente é.
Protagonizado por Tom Cruise (Jack Reacher: Sem Retorno), numa atuação que faz o suficiente para reassegurar o funcionamento do filme, mas que por si só não é um dos destaques principais, nos deparamos com temáticas que recente e continuamente foram e são exploradas em Narcos, série original da Netflix. Tanto é que Barry Seal, o personagem de Tom Cruise e uma figura real assim como a história na qual se baseia toda a produção, tem uma participação em um dos episódios da série. Por outro lado, o cartel de Medelín, com direito a Pablo Escobar (Mauricio Mejía), marca forte presença aqui, inclusive sendo esboçada uma conexão pessoal e amigável entre todas essas figuras históricas. Ainda que a produção da Netflix, mesmo com José Padilha no comando, não faça jus a uma visão sul-americana dos acontecidos, é importante ter essa parcialidade de outro ponto de vista quando encaramos Feito na América, porque há de se confrontar com frieza os fatos. Bem como se atentar a como minimiza as outras figuras que não o protagonista, até porque não é como se os norte-americanos tivessem qualquer crédito para se afirmarem como donos da razão. Portanto, uma brincadeira com o nome de uma região em um mapa pode ser encarada, no fundo, como um feitio ingênuo que não se dá conta da maneira na qual os próprios Estados Unidos encaram aqueles abaixo de si, no hemisfério, como inferiores.
Um dos grandes problemas de Feito na América reside aí. Porque há a clara tentativa de um diferencial através da frenética câmera que acompanha os impulsivos personagens. É aqui que a solidez de Doug Liman o traí, porque é tão bem estruturada a estética que conseguimos perceber o quão contido é o filme, sendo incapaz de imprimir por completo essa sensação de overdose, somente de dinheiro e adrenalina, a qual o personagem é submetido. Mesmo a paranoia subsequente com todos os acontecimentos é algo que soa como uma pedra cantada, ainda que não se possa dizer que há previsibilidade em uma história baseada em fatos. Apesar da constante variação de moralidade do protagonista, assim como a quebra da lei, a maneira como o personagem de Tom Cruise sempre resta imaculado reflete aquilo que percebemos no restante do filme. Salvo numa única piada, já exibida em trailers, sequer parece haver cocaína de fato na história. A crescente dos índices de violência então, acontecem como se nem sequer uma gota de sangue fosse derramada. As batalhas travadas durante a Guerra Fria, a ascensão de governos comunistas, ditadores e fascistas, o apoio e manipulação do governo Reagan naqueles ao seu redor, tudo ressoa nulo em um imutável Barry Seal. Se há algo que Feito na América faz bem, portanto, é demonstrar o que é ser feito ali, mas não porque quer, e sim porque é, incontestavelmente, um produto dessa América, do Norte e iludida com a crença em sua puritana soberania.
1 Comment
Pingback: Crítica | Missão: Impossível - Efeito Fallout - Cine Eterno