Deadpool 2 (2018); Direção: David Leitch; Roteiro: Rhett Reese & Paul Wernick & Ryan Reynolds; Elenco: Ryan Reynolds, Josh Brolin, Morena Baccarin, Julian Dennison, Zazie Beetz, T.J. Miller, Brianna Hildebrand, Leslie Uggams, Karan Soni, Eddie Marsan; Duração: 119 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Comédia; Produção: Simon Kinberg, Ryan Reynolds, Lauren Shuler Donner; País: Estados Unidos; Distribuição: Fox Film do Brasil; Estreia no Brasil: 16 de Maio de 2018;
Apesar de aparentar diferente, Deadpool há 2 anos atrás pouca novidade trazia, de fato, ao cada vez mais consolidado -e consequentemente saturado- gênero de super-heróis.
Estruturalmente era o mais básico feijão com arroz que se sustentava principalmente em suas tiradas cômicas extra diegéticas e metalinguísticas.
Tocar o terror, bem-humoradamente, com os clichês do gênero, o Universo X-Men estabelecido pela Fox, bem como do MCU da Disney, era um dos grandes alicerces que mantinham uma sensação de frescor.
Mas nenhum dos elementos ali aspirava a revolucionário, como se posava. Algo ainda mais grave quando tudo o que o personagem permitia levava a este caminho.
A trajetória foi bem-sucedida, entretanto, e o sucesso garantiu uma sequência que é maior em todos os sentidos, garantindo extravagâncias de uma figura que se tornou ícone pop.
Contudo, a criatividade, ou a falta dela, é uma repetitividade que já se vê refletida de imediato no título.
É no mínimo irônico, portanto, que o anti-herói não tenha sequer encontrado felicidade numa forma de intitular sua sequência com alguma irreverência.
Ainda assim, o que não era uma tarefa difícil se concretiza aqui, afinal David Leitch consegue entregar em Deadpool 2 algo que é superior ao original, ainda que menos disso.
É menos original justamente por apenas replicar muito do que deu certo no primeiro filme. As piadas e referências ainda são boa parte da base que o sustentam.
No entanto, é justamente por boa parte delas funcionarem que o filme se sobressaí ao seu antecessor, até porque, de certa maneira, é a única forma de suportamos outra empreitada de Deadpool 2.
Desde o início se abraça o melodramático, toda uma longa sequência de abertura parece estar ali para justificar as escolhas que serão feitas adiante.
Por causa disto o filme oscila em diversos momentos, quando passa a confundir completamente a tênue linha entre sátira e ser levado a sério.
Porque por mais que queira parecer não se levar a sério, em determinados momentos é bastante óbvio que sequer consegue evitar fazer isso.
O resultado são cenas tão verborrágicas que clamam por serem encerradas, todavia se veem arrastadas e retorcidas até a última gota do que quer que esteja em cena.
Enquanto Deadpool é, inevitavelmente, um personagem verborrágico, tais cenas tomam uma proporção que é simplesmente intragável.
Se em De Volta ao Jogo (John Wick), David Leitch ficou conhecido, junto de Chad Stahelski, como um dos principais diretores de ação na atualidade, com Atômica (Atomic Blonde) atestou isso sozinho, mas se mostrou frágil narrativamente.
Aqui se repete o feito, mas só da fragilidade narrativa, pois o viés melodramático hiper extensivo funciona quiçá num único momento derradeiro do filme. Até lá, no entanto, é meramente constrangedor e enfadonho.
Ademais a narrativa dá voltas e empaca em motivações simplórias até menos atrativas que em outros filmes do gênero. Porém, faz parecer diferente.
Quando encaramos diretamente o Cable de Josh Brolin (Sicario – Terra de Ninguém) fica bastante fácil denotar como, outra vez, não se foge do básico. Muito pelo contrário.
A expectativa pode decepcionar, até porque o personagem que se vê adaptado aqui está distante da premissa que se fazia prometer.
O tom dado ao personagem até se faz interessante, mas não funciona plenamente por não possuir gravidade alguma, seu peso é nulo na narrativa.
Josh Brolin consegue, entretanto, fazer um bom trabalho e se impor diante do protagonista, com Leitch se mostrando capaz, ao menos aqui, de extrair boas sequências de ação com Cable, mas nada memorável.
Das novas adições, é Zazie Beetz (de Atlanta) provavelmente a melhor delas. Seu carisma aliado ao que é desenvolvido para a personagem rendem alguns dos melhores momentos em Deadpool 2.
O retorno de Colossus é puramente uma extensão de mais do mesmo, enquanto a Negasonic de Brianna Hildebrand, acompanhada de sua namorada Yukio (Shioli Kutsuna), acaba extremamente subaproveitada.
A aguardada formação da equipe X-Force reserva surpresas hilárias, que ademais devem ser mantidas em segredo, bem como participações especiais cuja um piscar de olhos pode pôr tudo a perder.
Por fim, é o personagem Russell de Julian Dennison quem brilha e se consagra como grande revelação no filme. Com certeza é que mais arrancará risadas durante as sessões.
Contudo, em meio ao vocabulário chulo do garoto, sua paranoia e uma atitude pirralha irritante (propositadamente) há algo a mais.
E é inusitadamente que se constrói com ele o melhor arco no filme e, possivelmente, uma síntese perfeita de tudo aquilo que Deadpool pensa ser como filme.
Talvez seja hora de Ryan Reynolds ser o alvo de sua própria chacota, com um aparente estrelismo subindo a sua cabeça -ele também roteiriza e produz esta sequência.
É ao querer tomar para si a sustentação do melodrama em Deadpool 2 que Ryan Reynolds atinge o ápice de seu egocentrismo, mas lhe falta o carisma que é esbanjado por outros nomes do elenco.
Apesar disso, a violência gratuita -justificada de alguma forma- é entregue com louvor, o humor funciona e o todo diverte, com mais competência que o primeiro filme, ainda que fique devendo no quesito ação, dado o currículo de seu diretor.