“Creed III” (2023); Direção: Michael B. Jordan; Roteiro: Keenan Coogler & Zach Baylin; Elenco: Michael B. Jordan, Tessa Thompson, Jonathan Majors, Wood Harris, Florian Munteanu, Phylicia Rashad; Duração: 116 minutos; Gênero: Drama, Esporte; Produção: Irwin Winkler, Charles Winkler, William Chartoff, David Winkler, Ryan Coogler, Michael B. Jordan, Elizabeth Raposo, Jonathan Glickman, Sylvester Stallone; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 02 de Março de 2023;
“Creed – Nascido Para Lutar” foi um inesperado respiro de ar fresco à franquia “Rocky” e um novo olhar que se mostrou muito bem-vindo, ajudando a ascensão do cineasta Ryan Coogler e afirmação de Michael B. Jordan como uma estrela de Hollywood. Oito anos depois chegamos ao terceiro filme, mais uma vez sem Coogler no comando, o que prejudicou um pouco “Creed II”, e com o protagonista do filme agora também assumindo as rédeas da produção. Seguindo os passos de Sylvester Stallone, que infelizmente não retorna para seu icônico papel neste terceiro filme da nova franquia, o agora também diretor Michael B. Jordan mostra que estes personagens ainda seguem em boas mãos. “Creed III”, porém, é marcado por alguns extremos que deixam claro se tratar de um estreante na direção. O resultado do todo, no entanto, é mais que suficiente para se sobressair a qualquer pequeno deslize que se pode encontrar ao longo do filme. Na verdade, alguns desses mesmos defeitos se assumem posteriormente como virtudes que fazem deste, possivelmente, o melhor entre os três filmes até então, tirando total proveito do que foi estabelecido até aqui e sabendo muito bem lidar com a principal ausência, ainda que a presença de Stallone talvez se mostrasse a cereja no topo do bolo.
Só que a ausência desse personagem dá a Michal B. Jordan a possibilidade de conduzir a história com características ainda mais afro-americanas e isso é introduzido através de um personagem do passado de Adonis Creed. Entra em cena Jonathan Majors na versão adulta, no tempo presente, e Spence Moore II nos flashbacks. Os dois interpretam duas versões de Damien “Dame” Anderson que se colidem no desenvolvimento de “Creed III” para criar um antagonista que se vê refletido em diversos pontos da trama que traçam a relação entre Creed e sua família. Algumas alusões são óbvias, tanto que o próprio personagem faz questão de destrincha-las frente ao espectador, o equilíbrio que o diretor estreante encontra para tornar esse elemento funcional é tirar de seu elenco a credibilidade necessária, e demonstrar uma sensibilidade para trabalhar isso com uma sutileza que respeita seu espectador. Assume de verdade como parte de sua história essa característica, a torna crível e palatável e faz desses conflitos pequenas viradas emocionais que se acumulam e surtem efeito no desenvolvimento de todos os personagens, levam a narrativa em frente de maneira eficiente e, por fim, se conectam ao espectador no momento certo para entregar um resultado recompensador e sem descaracterizar seus personagens.
E emoção é uma palavra essencial em “Creed III”, porque o filme de Michal B. Jordan é, sim, recheado de sentimentalismo e encontra alguns de seus extremos justamente nessa pegada piegas que pode se esperar de um cineasta inexperiente. É passível, entretanto, quando esse mesmo cineasta se mostra maduro o suficiente para saber reconhecer esse excesso e contorna-lo, como acontece aqui. Assim se fazem grandes atuações, principalmente de Tessa Thompson, que mostra o alcance de todo seu talento quando está em cena, brilha como sempre quando tem a chance e se mostra cativante, ainda que lhe pareça faltar mais grandes momentos. Algo que há de sobra para Jordan e Majors, e os dois se entregam por completo para entregar ao espectador algo de tirar fôlego. Sinestesia é a palavra para descrever os melhores momentos dos confrontos, de diversas formas, entre os personagens interpretados por ambos. Ainda que algumas escolhas de Jordan soem cafonas, a forma como eles se entregam a esses papéis e os sobressaltos de excelência técnica do filme (a sequência da luta final é extraordinária!) nos momentos certos tornam “Creed III” numa experiência memorável e respeitável. Um filme que sabe e reconhece suas origens e, mesmo quando parece estar escapando do seu alcance, consegue comandar um retorno espirituoso e transformá-lo numa catarse emocional que diz muito respeito a uma questão de pertencimento. Uma conciliação que só é possível de acontecer desta forma, esta luta contra sua sombra do passado que não passa de uma própria reflexão sua. É a essência da franquia transmitida através de gerações que agora ganham sua própria voz, de que forma ela seja, para se afirmarem em suas posições com a chance que merecem.