Título original: Little Miss Sunshine

Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris

Roteiro: Michael Arndt

Elenco: Abigail Breslin, Greg Kinnear, Paul Dano, Alan Arkin, Toni Collette e Steve Carell

Produção: Albert Berger, David T. Friendly, Peter Saraf, Marc Turtleataub e Ron Yerxa

Estreia mundial: 2 de Julho de 2006

Gênero:  Drama, Comédia

Duração: 101 minutos 

Classificação indicativa: 14 anos

O filme “Pequena Miss Sunshine” oferece ao telespectador múltiplas faces do contexto social que vivenciamos. Com um roteiro limpo, direto e cativante, é possível notar leituras das representações psicológicas contemporâneas.  Um desses preceitos é o repertório de conjunto de conhecimentos que nas experiências sociais, estabelecem os valores de cada indivíduo. No filme há uma reflexão social dos anseios e ansiedades do homem contemporâneo na cena pós-moderna dentro da sociedade de consumo/espetáculo, que pode ser vista no papel do pai e da mãe, que estão sempre preocupados em alcançar estabilidade financeira e ter reconhecimento.

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De acordo com Bruno e Rosa (2004) ” A teoria do espetáculo deve ser compreendida num
contexto marcado pela expansão e radicalização do capitalismo. Onde o capitalismo
afirmava o fetichismo da mercadoria, responsável pela reificação de objetos e
experiências, então transformados em mercadorias e associados a seu valor de uso, as
encenações espetaculares produzidas pelas mídias de massa ampliariam esta esfera,
colonizando sentimentos e práticas humanas que ainda estariam fora do alcance do
mercado. Aqui, o mundo sensível encontra-se substituído por uma seleção de imagens.
Se o capitalismo havia operado a degradação do ser em ter, no espetáculo impera o
parecer, ou antes, o aparecer”.

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E possível analisar a citação de Bruno e Rosa principalmente pelos personagens do tio e do irmão. É visível a tristeza do tio em função da cobrança e expectativa que se tinha sobre ele, e também por ter sido trocado por outro alguém, e o quanto a sociedade cobra do ser humano, exigindo que ele esteja adequado as normas, senão é excluído dos grupos existentes no cotidiano . Do outro lado, tem-se como resistência contra as condições sociais do mundo capitalista , o irmão, que se exclui do âmbito familiar e do convívio com a sociedade.

Dentro dessa perspectiva apresenta-se a pequena Olive, que apesar de não estar nos padrões pré-editados pela sociedade, tem o sonho de participar de concursos de beleza. Como hoje  se dita o culto à beleza, a manipulação da mídia ajuda a estabelecer padrões geralmente inalcançáveis para a maioria das mulheres e homens. O que (pode) gerar  a competição de beleza, status, e falando de uma sociedade que vive conectada, também uma competição de “curtidas”,  o que faz com que as pessoas se isolem uma das outras. Nos é mostrado a individualidade como sinônimo de poder, e assim as pessoas cultivam a sua inserção na sociedade através do consumo de bens materiais e do potencial que a conectividade pode proporcionar, como tentativa de exclusividade.

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Um ressalve importante no enredo da história é a figura do avô que nos dá a visão da importância da consciência do envelhecimento saudável (diferente das características do avô que é apresentada no filme)  e também a exigência de cuidados necessários para amparo ao idoso. Pois além de vivermos na numa “sociedade do espetáculo”, também se faz presente a preocupação de remanejar estrategias de saúde e de direitos para atender uma população que apresenta alto índice de envelhecimento, no mundo, segundo o Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) o número de pessoas com mais de 60 anos deve ultrapassar a marca de 1 bilhão em dez anos.

Olive e sua família representam o estigma de “vencedores” e “perdedores” que é sugerido que a vida deve ser acordo com a moral, ética e cultura que é ditada nos canais de publicidade e do capitalismo. E esse preceito remete uma reflexão contrária do capitalismo, onde o famoso transporte amarelo da família  só funciona se todos ajudarem.

E concluindo sobre os personagens e suas ligações com os atores do cotidiano,  pensa-se então como a clínica deverá se posicionar, e segundo Zorzan e Chagas (2014) “a  clínica psicanalítica das novas subjetividades é uma clínica que deve constituir-se mais além do princípio do prazer, da busca de formas de estancar o mal-estar, ou, em outras palavras, ser irredutível à clínica do sujeito cindido. Isso porque, na era pós-moderna, o discurso publicitário, que atende a lógica capitalista, apresenta ao sujeito a via do consumo como solução da “falta-a-ser” que constitui o sujeito, expulsando da sua morada o sujeito do inconsciente”.

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