Direção: João Jardim
Roteiro: Anne Rosellini, Daniel Woodrell, Debra Granik
Gênero: Drama
Elenco: Tony Ramos, Alexandre Borges, Drica Moraes, Marcelo Médici
Estréia: 1º de maio de 2014
Duração: 100 min.

O cinema nacional carecia de uma abordagem sobre o presidente Getúlio Vargas, uma das figuras mais contraditórias de nossa história, amada por muitos ao mesmo tempo que era igualmente odiado.  É possível que a ausência de obras sobre essa figura seja justificada pela falta de coragem dos colaboradores em fazer um retrato transparente e que sintetize a essência do grande presidente.

Infelizmente, “Getúlio” não atende a demanda por um retrato honesto de Vargas, se vendendo como longa biográfico, mas na realidade é sobre as intrigas e conspirações palacianas, em meio aos últimos dias do presidente. Este que, por incrível que poça parecer, decai para segundo plano.

A abordagem começa pelo fatídico episódio que se denominou “Atentado na Rua Tonelero”, no qual houve uma tentativa de assassinato ao opositor ferrenho e jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges), que conseguiu sair vivo, porém atinge fatalmente um major da aeronáutica. Tais fatos desencadeiam uma revolta por parte da mídia e de setores das Forças Armadas, querendo respostas imediatas para o mandante do crime, chegando a acusar o presidente Vargas (Tony Ramos) e sua família como responsáveis. A partir dai, inicia-se uma série de intrigas, conspirações e conflitos entre diferentes instâncias do poder, alguns com a finalidade de conter a crise, outros de intensifica-la a fim de derrubar o atual mandatário.

A maior deficiência é o roteiro que apenas foca no episódio específico e suas distintas consequências, há abordagem pífia a trajetória do presidente Getúlio. Na realidade, o Vargas que é construído pouco condiz com os relatos históricos, aqui temos um líder roliço, apático e indeciso, em meio a um cenário onde todos, até aliados, querem sua cabeça. A argumentação, além de falha, omite inúmeras informações relevantes, distancia o personagem título do público, soando extremamente forçado não haver nenhuma manifestação popular em prol do mesmo, se considerar seu apelo com o povo.

Como filme biográfico o filme é um fiasco, mas serve como retrato do episódio e da época, conseguindo mostrar -mesmo que sutilmente- pontos importantes para entender a história brasileira: Como a mídia sempre foi conservadora e agia em defesa de interesses de poucos (condiz com nossa realidade);  a dificuldade de adotar progressismo em um governo, devido ao sistema político brasileiro ter correntes reacionárias que impedem maiores conquistas (ainda vigente tal sistema). Ainda há uma humanização de Vargas que demonstra como foi necessário – e sanguinária- foi o Estado Novo, a fim de consolidar o Estado Nacional e impedir dominação estrangeira, tirando as sugestões que o presidente seria fascista.

A direção de João Jardim (nomeado ao Oscar pelo documentário “Lixo Extraordinário”) é esforçada, mas não foge em nenhum momento do convencional, tentando dar um ar teatral a trama, limitando-se apenas ao ambiente do Palácio do Catete -ex sede de governo da República-, mas que acaba se tornando cansativo, além de carecer de algum momento de grande ápice, o que realmente se torna um fato estranho se tratando de um presidente que além de ser considerado “pai dos pobres”, era um político singular com discursos marcantes -nenhum aqui aparece.

As atuações são extremamente limitadas, infelizmente. Tony Ramos se esforça, consegue ter uma grande similaridade com Vargas, mas há poucas oportunidades para ele desempenhar uma performance realmente chamativa. Mesma coisa com Alexandre Borges que apesar de ter bons momentos, nada acrescenta. O grande destaque fica por conta de Drica Moraes, encarnando Alzira Vargas, filha do presidente. A atriz consegue ofuscar seus colegas e ainda humanizar sua personagem, demostrando muito talento e esforço.

Infelizmente, Getúlio é uma frustante oportunidade perdida em retratar um dos maiores líderes populares da história do nosso país, o grande trunfo que se pode evidenciar é o retrato de elos conservadores que ainda acorrentam nossa sociedade, em pleno século XXI. Em tempo onde a nossa primeira presidenta luta para consolidar uma ampla e popular reforma política e enfrenta os mesmos reacionários que atacavam o progressismo imposto por Vargas.

Assim, mostra-se mais do que necessário a reformulação do nosso sistema político, para assim iniciar uma nova Era na História brasileira, o que irá aprimorar as conquistas sociais recentes, seguindo assim o legado deixado por Getúlio, João Goulart e Ulysses Guimarães. Infelizmente eles nunca verão este Novo Brasil que está emergindo e mudando, porém sua lembrança e sentimento sempre estarão gravados no coração do povo, o lugar mais sagrado da nossa nação.

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