Crítica | Dolores

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Dolores (2016); Direção: Juan Dickinson; Roteiro: Juan Dickinson; Elenco: Emilia Attías, Guillermo Pfening, Roberto Birindelli, Mara Bestelli, Jandir Ferrari; Duração: 98 minutos; Gênero: Drama, Romance, Histórico; Produção: Juan Dickinson, Fernando Musa; Distribuição: Fênix Filmes; País de Origem: Argentina, Brasil; Estreia no Brasil: 06 de Abril de 2017;

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Dolores, co-produção Brasil e Argentina, se passa no período pré eclosão da Segunda Guerra Mundial, quando as tropas de Hitler invadiam a Polônia. Tudo isso, e alguma pouca reflexão de pano de fundo, são meras facetas superficiais que, pelo conhecimento que se têm delas, ecoam mais sobre o filme do que o próprio. A influência externa de acontecimentos, portanto, faz muito mais pelo filme do que ele consegue fazer por si. O que acaba revelando como há certa artificialidade na produção, que acaba falhando em muitos quesitos ao tentar nos transportar para uma época nostálgica a um de seus personagens. É uma dinâmica muito fragilizada que envolve o todo, também um reflexo muito preciso de quão mecânica é boa parte da produção. Entre outros quesitos de seu desenvolvimento, principalmente por conta daquilo onde insiste, falha também em conseguir construir um retrato mais sincero para com a época na qual retrata a Argentina, e o período econômico tanto da família como do país. Não é que haja sutileza, mas é algo tão suprimido em toda a narrativa que, no final das contas, se vê ainda mais distante dada as circunstâncias dos elementos que explora.

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Outra impressão desses elementos artificiais que compõem uma narrativa, também no todo artificial, está na descendência dos personagens. Escoceses, com nomes ou sobrenomes que destoam sobre os outros, o arriscar de uma ou outra fala em inglês é desconcertante. Tudo bem assimilar o fato de sua natividade argentina, mas mesmo o principal personagem que é culminante desse mote acaba por também não ser capaz de o tornar convincente. Aí apela-se para uma ou outra linha de diálogo em inglês que destoa completamente de todo o restante. O problema, no entanto, é bem evidente desde o princípio. Se é possível dividir Dolores em três atos, estes também destacam como é gritante a diferença técnica entre cada um deles. A direção inconstante faz com que as três partes soem muito diferentes umas das outras. Há momentos de pura beleza estética, mas isso não se comunica com o restante da obra, e na maioria das vezes não é bem este caminho que se opta por trilhar. Edição e fotografia parecem concordar com os diálogos do roteiro, e assumem uma postura didática onde somos jogados numa montagem que parece ter um corte a cada fala ou movimento dos atores.

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Alia-se a isso o fato de que as atuações são no geral muito aquém. Mesmo a protagonista Emilia Attías, disparadamente a melhor no elenco, tem dificuldade em criar algo numa personagem que é menos do que parece, sem sequer ter um desenvolvimento fidedigno. O pior é quando o que parecia ser um drama se estende para um romance e, posteriormente, abraça a ideia de um triângulo amoroso. Os belos pampas argentinos e até mesmo a coordenação melhorada da montagem, no segundo e terceiro ato de Dolores, são insuficientes para impedir que o filme caia em clichês novelísticos dos mais piegas. O que, reforçando, não é auxiliado em momento algum com o fraco trabalho apresentado pelo elenco. Todos os fatores acabam por fazer com que se culmine numa história desinteressante e inconstante, onde é evidente a falta de determinantes desenvolvimentos em elementos que permeiam a narrativa. Não há duvida alguma que sobre em Dolores as boas intenções do cineasta, mas há grande infelicidade na execução e um olhar muito ingênuo sobra a situação, há muito em Dolores que aspira a algo mais do que aquilo que é entregue. Ainda que não seja de todo o ruim, hermético e contido, falta ao filme um mergulho em suas próprias histórias com a coragem de explora-las ao todo.

Trailer Legendado:

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