Confira a crítica em vídeo de Márcio Picoli, clicando no player acima! Aproveite e clique aqui para conhecer o nosso canal do YouTube.

Recentemente ouvi de uma amiga uma reclamação verídica: o cinema raramente aborda a puberdade feminina, quando o faz opta por uma visão meramente simplista de tal passagem. De forma sútil e muito assertiva, o diretor Fábio Meira consegue dar um tratamento merecido para o tema com seu “As Duas Irenes”, onde retrata a jornada de uma jovem em busca do descobrimento de si mesma. Uma das Irenes do título (Priscila Bittencourt) vive com sua família numa pataca cidade no interior do Rio Grande do Sul. Totalmente deslocada do cotidiano de sua mãe e irmãs, acaba passando parte do dia atriz de algo para passar o tédio. Numa dessas buscas, descobre um bombástico segredo: seu pai (Marco Ricca) tem outra família, com uma filha de mesmo nome e idade que ela (Isabela Torres).

A “primeira Irene” vai se aproximando da irmã com o pseudônimo de Madalena, se identificando mais com a outra família de seu pai, entretanto lidando com o dilema de não saber como lidar com tal segredo. Em meio ainda a explosão de hormônios e sentimentos, desejando ter experimentações e vivências aos quais não imagina viver ao lado de sua família comum. A outra Irene, por sua vez, é desinibida e convicta de seus desejos e caminhos, servindo de uma figura de segurança para a meia-irmã.

É interessante como a narrativa visa construir a relação das duas Irenes em vez de optar por caminhos comuns, de focar na perspectiva do pai infiel, o julgando e induzindo o espectador a ter asco dele – pelo contrário, o pai de Marco Ricca é de uma sensibilidade ímpar. A direção é assertiva ao proporcionais diferentes nuances aos sentimentos das duas protagonistas, cada uma procura enxergar na outra o que falta em cada uma.

Apesar de ser uma temática sutil, a jornada do amadurecimento das duas meninas, em plena puberdade, é uma questão predominante na narrativa. Elas tem simples desejos: ir ao cinema e dar uns beijos, mostrar o corpo em desenvolvimento etc. É tudo de tamanha sensibilidade, pois reflete o singelo desejo de experimentação de duas jovens, algo incomum a se tratar de cinema –que geralmente opta por abordar tal temática com um personagem masculino.

Com um desfecho confrontador, sobretudo ao pôr em xeque o patriarcalismo falido que impõe as mulheres um destino arcaico. “As Duas Irenes” diz não a isso e propõe que cada Irene tem o direito de escolher seu próprio destino, seja qual for. Nada mais digno.

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