Em 1974, o equilibrista de rua Philippe Petit fez o feito de montar um arame para atravessar os dois prédios do World Trade Center, as Torres Gêmeas, de forma totalmente ilegal, com auxílio de seus amigos próximos. Tamanha proeza o fez se tornar um astro do equilibrismo, sobretudo por Petit nunca ter sido um artista circense, ele nasceu com o dom e tinha ambições de ir além do possível, ele se apaixonou pelo projeto das Torres quando viu em uma revista durante uma consulta ao destino, começando a acreditar estar predestinado para aquilo. Pode parecer tão absurdo que essa história de fato seja real, sobretudo por parecer tão improvável vários estrangeiros, “cúmplices”, montarem o esquema de atravessar duas torres símbolos dos Estados Unidos de forma ilegal, passando a perna nos demais órgãos e sem um motivo significativo. Chega a ser insano, mas a história de Phillip é mais uma de muitas que mostram que para sonhar não existe o limite do possível, sua vida já foi retratada anteriormente, mas agora ganhou uma versão mais ambiciosa, sob as mãos do premiado Robert Zemeckis (Mesmo de Forrest Gump). O filme aborda a trajetória do artista desde seus primórdios até seu ápice, o longa é todo narrativo, totalmente convencional e até um pouco cafona. Peca por não estar na altura de seu protagonista.

Joseph Gordon – Levitt é o protagonista, ganhou uma peruca e lente de contato que o deixaram com ar artificial e meio fake, porém longe de ser um problema, só uma perturbação estética.  A narrativa convencional, além de cansativa, é perturbadora por forçar o público a entrar na marra no filme, não temos momento de respirar e assimilar tudo que está acontecendo, principalmente pela vertigem causada pelas cenas de equilibrismo. A direção é competente nisso, em construir essa tensão,  sufocar o público e nos deixar sem fôlego, porém falha em proporcionar uma empatia entre os protagonistas, não conseguimos sequer reconhecer o motivo de Phillip querer ultrapassar as Torres Gêmeas, tudo parece ser egoísmo e egocentrismo vão dele. É perturbador também que a trilha sonora seja tão manipulativa e pouco inventiva, perdendo momentos de nos elevar aos ares, junto com os equilibristas, os efeitos visuais e a fotografia por outro lado são sublimes e aumentam a imersão, sobretudo numa tela IMAX de alta-qualidade, porém o sentimento maior é de frustração por termos uma fecunda história desperdiçada, diminuído em um mero propagandismo.

A argumentação é o calcanhar de Aquiles do filme, sobretudo por ser um propagandismo tão vazio e bobo do “Sonho Americano” e do “American Way Of Life”. É gritante a apelação em vender O Sonho, aqui representado pelas Torres Gêmeas em sucesso e glamour que apenas os EUA podem proporcionar, totalmente infame, tornando o filme mais sobre as Torres do que Phillip. É perturbador também a ausência de uma citação mais diminuta possível do Atentado 11 de Setembro, episódio sintomático do tombo da representação do sonho americano e de tudo que o capitalismo representa. Enfim, é um roteiro ambicioso, sério, pega pesado e nos dá momentos cômicos de alívio caricatos, sob a tutela do personagem de Ben Kingsley, que apesar de estar ótimo, é minimizado e reduzido drasticamente. Robert Zemerckis fez de seu filme anterior, “O Voo”, um longa convencional e moralista sobre alcoolismo, mas ainda assim com um personagem muito bem desenvolvido, algo que não ocorre em “A Travessia”, ao contrário, ele é simplesmente jogado ao público, empurrado e imposto. Não se dá pra entender seus motivos, suas ambições, seus sonhos e nem o motivo de nos aventurarmos com ele por mais de 2h numa jornada, no final das contas, de auto-ajuda barata.

TRAILER LEGENDADO

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