“Máquina do Desejo” 2021; Direção: Lucas Wglinski, Joaquim Castro; Roteiro: Lucas Wglinski, Joaquim Castro; Elenco:–; Duração: 109 minutos; Gênero: Documentário; Produção: –; País: Brasil; Distribuição: –; Estreia no Brasil: –;
Um dos debates mais velhos da história do academicismo cinematográfico é a discussão entre forma e conteúdo. Críticos e teóricos se digladiam na busca de uma unanimidade se há uma hierarquia ou não entre os dois elementos que formam a arte. A premiação “mais importante” do meio, o Oscar, implicitamente tem sua resposta. Visto que as estatuetas sempre são dadas com o fator temática como um dos grandes agentes do lobby que reina as escolhas da academia.
Sem dúvida alguma o gênero que mais sofre essa sequela é o documentário, constantemente temos filmes do gênero que viralizam por possuírem debates ditos ‘muito importantes para nossa sociedade’. Uma hierarquia de temas que tornam determinados filmes mais reflexos de seus contextos que outros, um exercício de ego que a classe artística adora se pôr como juíza. A forma como esses filmes abordam esses temas, majoritariamente, não importam.
Por consequência, esses filmes se entregam a um vazio de ideias em suas imagens. Tornando a abordagem jornalística o padrão contemporâneo para tal, seja com o formato BBC ou próximo do Globo Repórter. Em ambas, a imagem apenas serve como ilustração do que está sendo dito, uma mise-en-scène que tem a mesma semântica de um podcast com imagens. Filmes que dão a impressão de estarem sendo vistos enquanto o espectador pode confortavelmente usar para ver enquanto lava a louça.
Independente do tema, a abordagem incomoda porque além de preguiçosa, tornou-se clichê a ponto de criar previsões das escolhas no inconsciente de quem assiste. Porém, em Máquina do Desejo – 60 anos do Teatro Oficina isso se agrava a um ponto raivoso. Isso se dá porque o documentário reconhece o caráter subversivo do seu objeto de estudo, mas não faz questão alguma de traduzir o mesmo para si. O que vemos durante quase 2 horas são apenas imagens de arquivo que servem como wallpapers para o que ouvimos daqueles que fizeram a história marcante do revolucionário grupo de teatro. Com exceção de negar-se a pôr uma famosa cartilha de créditos que aponta quem é o entrevistado da vez, o filme pouco desafia seu formato. Usando as entrevistas como único elemento digno de atenção em todo o filme.
Ainda assim, a linha narrativa do filme é muito branda para os eventos. Uma herança das biografias estrangeiras de que a melhor abordagem é fazer um compilado de melhores momentos dessas figuras extraordinárias. O filme cobre o espaço de 60 anos com uma velocidade e ritmo que ao mesmo tempo é frenético, cada secção das obras deve ter 10 minutos no máximo, mas ainda falta tornar engajante o suficiente. A vontade maior é procurar sobre o teatro em si, não rever o filme. Toda a força de resistência do teatro não está no longa metragem bem intencionado, ele apenas a noticia de tal forma que fica claro a admiração de quem faz o filme por quem está sendo retratado.
Não possuo dúvidas de que haja coração e respeito por parte da dupla de diretores, Joaquim Castro e Lucas Weglinski, mas isso não é suficiente. Não basta o documentário falar sobre o poder da arte enquanto resistência, é preciso que ele seja resistência de forma efetiva. Falta forças próprias para o filme que abre o Festival É Tudo Verdade tornar-se tão importante quanto o objeto de registro.