“O Sonho do Inútil” (2021); Direção: José Marques de Carvalho Jr.; Roteiro: José Marques de Carvalho Jr.; Elenco: Douglas Santos, Aluã Topeira, Daniel Nascimento, Diego Ald; Duração: 72 minutos; Gênero: Documentário; Produção: Ninguém Filmes; País: Brasil; Distribuição: –; Estreia no Brasil: –;
“O Sonho do Inútil” é um título de certa maneira ambígua, pela brincadeira de seu realizador com o grupo de comédia que formara com os amigos quando jovens, pelo peso que carrega quando reencontramos esses amigos anos depois através do documentário. Em pouco mais de 70 minutos, José Marques de Carvalho Jr. faz um grande recorte de parte de sua juventude, o grupo de amigos que formou e a passagem da vida adulta deles até hoje. A princípio, o documentário parece querer seguir por determinado caminho, mas conforme o desenrolar das diferentes narrativas desses personagens, parece ganhar um rumo próprio. É algo que está ali e pede para ser explorado, é mais forte do que qualquer ideia inicial porque se faz maior do que qualquer personagem ali. E não porque se tornam desimportantes, pelo contrário. Naquele momento, eles atingem um ponto em que se tornam não apenas mais si próprios, mas uma representação, um símbolo, de uma juventude e uma geração, ou quem sabe até mais de uma, que facilmente encontrarão identificação com essas histórias, com essas vidas. Pessoas que sempre estiveram ali, próximas delas, de você. Com isso vem também uma miríade de sentimentos que são capazes de arrebatar qualquer um.
São sentimentos conflitantes porque falam não apenas de nostalgia ou lembranças reconfortantes, não é como se fosse lhes dado esse privilégio. Existe muita dor presente ali, e perda, quando “O Sonho do Inútil” atinge seus momentos mais pesados. Mas fala de uma realidade que é a realidade de muitos cariocas, muitos jovens da periferia, se aproxima do público, mas se mantendo fiel e pessoal a características desses amigos. É, também, uma carta de amor a eles. É também uma fabulação voraz sobre as oportunidades e sonhos podados de uma geração, de aspirações interrompidas e em como essas amizades e esses amigos resistem, ou tentam resistir, a isso. No todo, é efetivo e muito capaz, mas fica a sensação de que as tantas imagens recuperadas não estão assim tão sob controle do diretor quanto ele deseja fazer parecer. Até por isso o filme ecoa mais forte quando flerta e aborda tons mais trágicos ou até mesmo um pouco mais tristes. É onde o filme toma a rédea para si próprio e Carvalho precisar ir atrás para acompanhar. Quando funciona, “O Sonho do Inútil” funciona muito bem, mas fica a sensação de que o documentário poderia fazer ainda mais com tudo que consegue apresentar e representar nesses momentos…
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