“Azor” (2021); Direção: Andreas Fontana; Roteiro: Andreas Fontana; Elenco: Fabrizio Rongione, Stéphanie Cléau, Carmen Iriondo, Juan Trench, Ignacio Vila, Pablo Torre; Duração: 100 minutos; Gênero: Drama, Thriller; Produção: Eugenia Mumenthaler, David Epiney, Nicolas Brevière, Violeta Bava, Rosa Martínez Rivero; País: Suíça, França, Argentina; Distribuição: Vitrine Filmes; Estreia no Brasil: –;
O plano mais sagaz de Andreas Fontana é o seu inicial: Enquanto civis são hostilizados pelos militares, os protagonistas de “Azor” conseguem passar pela blitz de forma intocável. Eles apresentam algum choque mas não o suficiente para usar sua força e influência com intuito de mudar o destino daqueles proletários. O que resume bem o comportamento das elites perante regimes autoritários, por mais que haja uma noção das mazelas, não as comove além de um primeiro pensamento. A partir de então, o filme isola seus protagonistas do caos político, para inseri-los na dimensão paralela que os importa: Os campos e sítios dos portadores de grandes riquezas da Argentina.
Ainda assim, mesmo deslocando-os de forma tão abrupta, um elemento ecoa pelo filme todo: a ausência e a incerteza a respeito da mesma. Os filhos dos burgueses assim como o sócio do protagonista estão desaparecidos, por motivos desconhecidos, mas a presença deles torna-se um efeito cascata aos que ficaram para lidar com as consequências. É de certa forma, da mesma maneira que essa classe lida com a ditadura vigente, talvez seja necessário alguns ajustes mas nada que interrompa os negócios feitos. O protagonista tem que lidar ainda com o fantasma da sua figura paterna, que o deixou como herdeiro do banco e do seu sócio, é um personagem tomado pela insegurança de ter que assumir dois postos por pessoas de perfis diferentes.
As negociações parecem ser o grande foco da direção, os olhares e pequenas estratégias, como levar a mulher para a viagem por sua agradabilidade, porém falta dinâmica até mesmo para um filme tão minimalista e austero. Os personagens estão tão protegidos de perigo real através da sua classe social que falta perigo ou riscos à trama em si. Um microcosmo cujo aquilo que atinge se restringe à palavra apenas, nem o final, onde o personagem se envolve diretamente com o contrabando, parece que há algo a perder. Uma austeridade que castra qualquer engajamento além da dissertação sobre deslocamento da classe dominante, que como já foi dito, fica sintetizado a partir do primeiro plano.
Até há a tentativa de se criar um clima de Thriller político, a ausência do sócio que põe todos os sócios em risco de vida, abalando suas relações com o banco suíço. Mas falta materialização do mesmo, fica tudo muito pela paranoia da elite com relação aos subversivos, mais uma manifestação fantasmagórica do filme que não se manifesta nem enquanto susto para os personagens. O que pode ser dito como uma boa metáfora para os medos da elite com relação ao comunismo que forneceu seu apoio aos golpes de estado nos anos 60, mas ainda assim a dissertação interessante do diretor não se materializa em cinema.
“Azor” tenta ser um thriller político muito sagaz, a ideia que rege o filme através do omisso é interessante em teoria, mas falta cinema que concretize esses medos e anseios da classe deslocada da realidade. Um filme que fica majoritariamente entregue à seus diálogos, com alguns momentos de brilho através do gestual. Se a síntese entre forma e conteúdo do filme do suíço regular ao nível de seu plano inicial, teríamos o filme do ano.