The Boys – 1ª Temporada (Amazon Prime Video, 2019-); Criada por: Eric Kripke; Direção: Philip Sgriccia, Daniel Attias, Eric Kripke, Jennifer Phang, Stefan Schwartz, Matt Shakman, Frederick E.O. Toye, Dan Trachtenberg; Roteiro: Eric Kripke, George Mastras, Craig Rosenberg, Anne Cofell Saunders, Rebecca Sonnenshine, Ellie Monahan; Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr, Erin Moriarty, Dominique McElligott, Jessie T. Usher, Laz Alonso, Chace Crawford, Tomer Kapon, Karen Fukuhara, Nathan Mitchell, Elisabeth Shue; Número de Episódios: 8 episódios; Data de Lançamento: 26 de Julho de 2019;
Se enganam quem considera o maior problema de uma adaptação de uma obra pré-estabelecida a questão da fidelidade. O cerne da questão é a compreensão deste universo pelo qual se propõe adaptar imageticamente. Transpor uma obra literária para as telas, portanto, é tentar transformar a essência das palavras e imagens estáticas em imagens em movimento, respeitando as particularidades pelas quais isto demanda. Sequer conhecia a Graphic Novel “The Boys“, escrita por Garth Ennis e Darick Robertson, inclusive, na pesquisa a fim de escrever este texto, fiquei surpreso em saber que foi taxada pela própria editora como um produto pouco rentável, se tratando de uma obra considerada “depravada”. Me soa ainda mais surpreendente, portanto, que uma obra então renegada tenha rendido uma adaptação incrivelmente fiel, para além da estória em si, conseguindo juntar a essência do quadrinho e primordialmente, sua linguagem.
“The Boys” ou “Os Rapazes”, é mais um acerto da Amazon Prime Video, por ter conseguido sintetizar em oito episódios, de cerca de uma hora cada, um universo tão vasto, num diálogo ácido e atual com a sociedade e a indústria do entretenimento. A estória chega a ser banal: os super-heróis são endeusados, vivem uma vida de estrelato, como famosos, tendo uma grande corporação os agenciando. Num dado momento, uma contra-organização de pessoas afetadas pelos abusos desenfreados dos heróis acaba ascendendo, tentando desmascarar o mito dos heróis que acabam por tornar a sociedade refém de um Estado policialesco, em vez de um lugar de fato seguro e do bem estar.
O show tem como trunfo principal o modo de construção dos seus personagens. Os três primeiros episódios entregam uma construção preliminar de cada um dos heróis, fazendo o público ter empatia por alguns e antipatia por outros. No decorrer do seriado, toda essa construção é demolida, tudo aquilo que você achava sobre determinada pessoa é desconstruído, apresentando inúmeras camadas entorno dos heróis e os membros do the boys. Ou seja, há uma abrangência nas nuances aonde o ser mais puro é corrompível, enquanto o nocivo consegue ser humanizado, decorrente de ser um produto daquele meio nem um pouco saudável. A série também dá espaço para os dois grupos, contudo neste primeiro ano do show, os super heróis conquistaram mais simpatia, justamente por dentro da sua invencibilidade, serem seres tão frágeis.
É interessante perceber que a indústria de entretenimento norte-americana adotou, desde os anos 2000, uma exploração gigantesca dos universos dos super heróis, seja Marvel ou DC, todos os estúdios hoje querem uma franquia multibilionária com um personagem mascarado para chamar de seu. Inclusive, a própria série da Amazon é um produto derivado de uma HQ, ela se assume como isto, para massificar e atacar tal pensamento da indústria, da falta de originalidade e a oxigenação do sistema de entretenimento com produtos cada vez mais pasteurizados. Ou seja, é uma série que expõe um universo banal e corrompido, da qual a mesma faz parte, no entanto consegue trazer originalidade por tanta profundidade entorno de seus personagens e sua cinematografia.
“The Boys” finaliza sua primeira temporada de forma ímpar: apresenta e consolida seu universo, desenvolve os conflitos e seus personagens e ainda deixa um gancho instigante para a futura segunda temporada. É difícil imaginar se haverá o mesmo impacto futuro, entretanto o saldo ao término do primeiro ano do seriado é um gostinho de quero mais. A conferir.
“The Boys” – Trailer Oficial: