“Tipos de Gentileza” (“Kinds of Kindness”, 2024); Direção: Yorgos Lanthimos; Roteiro: Yorgos Lanthimos & Efthimis Filippou; Elenco: Emma Stone, Jesse Plemons, Willem Dafoe, Margaret Qualley, Hong Chau, Joe Alwyn, Mamoudou Athie, Hunter Schafer, Yorgos Stefanakos; Duração: 164 minutos; Gênero: Comédia, Drama; Produção: Ed Guiney, Andrew Lowe, Yorgos Lanthimos Kasia Malipan; País: Estados Unidos, Grécia, Irlanda, Reino Unido; Distribuição: Disney; Estreia no Brasil: 22 de Agosto de 2024;
Depois de “Pobres Criaturas”, lançado no início do ano no Brasil e vencedor de quatro categorias no Oscar, pode até ser redundante falar sobre o que ou como é o cinema do grego Yorgos Lanthimos, no entanto, é inevitável o debate quando ele já está de volta aos cinemas com seu novo filme. “Tipos de Gentileza”, também protagonizado por Emma Stone é, contudo, muito menos estilizado ou sequer de perto tão fantasioso quanto o filme anterior do cineasta, que retorna ligeiramente ao estilo de suas obras mais “mundanas”, ainda que nada de ordinárias tenha nelas, e no cinema de Lanthimos em geral. Mas há essa maneira na qual o mundo funciona em sua visão, e aqui ela é imprimida através de 3 histórias diferentes, majoritariamente co-protagonizadas por Stone e Jesse Plemons -vencedor do prêmio de Melhor Ator em Cannes. Entre as histórias e os personagens de cada segmento existem alguns paralelos, mais ou menos perceptíveis, que nos fazem refletir sobre se há alguma conexão, se eles estão co-habitando aquelas histórias ou se é simplesmente tudo um delírio. Coisas que também reforçam o limiar entre questões intrinsecamente humanas e a absurdidade que constantemente pautam o cinema de Lanthimos.
A cada novo capítulo em “Tipos de Gentileza” o nível do absurdo parece se fazer maior, ainda que dentro de cada história o que pode ser considerado absurdo varie de acordo com várias concepções. Mas é a intenção de Lanthimos desafiar a lógica de alguma forma e, para isso, ele não mede esforços, e vai instilando crescentes reviravoltas à sua narrativa e o quão lúdicos são seus elementos, ainda que se atenha a temas que são queridos a ele, quase que numa eterna contemplação freudiana, bem como romântica, porque no fundo o cineasta é, sim, um apaixonado. De alguma forma é por isso que há qualquer fagulha de humanidade em seus personagens, algo que ele tentou justapor em seu filme anterior através de diversas figuras completamente discrepantes, praticamente “criaturas”, mas aqui há uma certa “naturalidade” dos protagonistas que geralmente compartilham uma característica em comum: estão perdidamente apaixonados por alguém. É a partir disso que surgem esses tipos de gentileza, das coisas que se faz por quem ama ou que limites se cruzaria para provar seu amor. E a brincadeira com um ciclo vicioso se dá através da repetição do elenco interpretando diferentes personagens ao longo de cada história, sendo também o que torna o filme mais interessante.
“Tipos de Gentileza” é um filme intrigante porque estamos buscando constantemente entender o que se passa, a isso se deve algum mérito ao roteiro co-escrito por Lanthimos e Efthimis Filippou, contudo, quem torna isso ainda mais atrativo são os atores, porque independentemente de qualquer coisa é a disposição de cada um ali -especialmente o quarteto Plemons, Stone, Willem Dafoe e Hong Chau, e a entrega a seus personagens que torna tudo tão magnético quanto possível. Plemons, por exemplo, muda da água para o vinho, como pede cada um de seus personagens, e é um deleite vê-lo em cena. Só que nada disso importa quando tudo no filme soa de forma tão mecânica e os atores são tanto uma engrenagem como qualquer outra parte ou elemento dessa máquina que podemos ver girando e maquinando alguma reviravolta da mais mirabolante possível para que Yorgos Lanthimos possa, a qualquer custo, chocar o espectador. Não há estética que possa esconder o óbvio em relação a esse mecanismo que é “Tipos de Gentileza”, que nos conduz sempre ao ponto em que uma história será mais chocante, mesmo que sem necessidade. Como se fosse uma característica inerente ao ser humano que Lanthimos precisa explorar de forma redundante, assim, não importa a roupagem em que vem essa exploração, pois ela sempre se tornará cansativa.
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