“Shazam! Fúria dos Deuses” (“Shazam! Fury of the Gods,” 2023); Direção: David F. Sandberg; Roteiro: Henry Gayden e Chris Morgan; Elenco: Zachary Levi, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Rachel Zegler, Adam Brody, Ross Butler, Meagan Good, Lucy Liu, Djimon Hounsou, Helen Mirren; Duração: 130 minutos; Gênero: Ação, Aventura; Produção: Peter Safran; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 16 de Março de 2023;
De 2019 para cá vivemos tanta coisa que “Shazam!” parece ter sido lançado até em outra vida. O filme já vinha na toada de reformulação do Universo da DC nos cinemas, se Henry Cavill (“Missão: Impossível – Efeito Fallout”) continuaria a ser o Super-Homem era uma incógnita que ficou ainda mais confusa alguns meses atrás, com mais outra reformulação que chacoalhou, literalmente, a hierarquia do estúdio dos quadrinhos em seu escopo de cinema, televisão e streaming. Assim, “Shazam! Fúria dos Deuses” chega aos cinemas quatro anos depois de seu antecessor, preso entre o que foi a DC nos cinemas e o que será no futuro. Há, contudo, uma certa individualidade na forma como esse filme existe dentro desse universo, ainda que cite -e conte com participação- de personagens que deram, ou não, certo nos cinemas. No fim isso acaba por influenciar muito na identidade do filme, que tem um tom bastante específico e funciona em determinados momentos, a maioria positivamente dentro da proposta maior do filme, mas que se encontra, em outros momentos, atrelada a escolhas do passado e a falta de inventividade, ou ousadia, de quem está no comando. É um passatempo, sem sombra de duvidas, mas por grande parte de suas mais de duas horas parece estar aquém de seu próprio potencial.
É a velha história de que para um filme ser caracterizado para o público infantil ele não precisa, necessariamente, ser por si infantil. Algo que já era um problema no primeiro filme e que em “Shazam! Fúria dos Deuses” se faz ainda mais forte porque, por vezes, é a solução para o fraco desenvolvimento dos personagens. Mesmo que o tempo ali tenha passado menos do que na vida real, os personagens seguem quase que parados no tempo. Essa infantilização em excesso dificulta que se tenha alguma, ou qualquer, complexidade na construção narrativa que tenta desenvolver, o mínimo que for, a família de Billy Batson (Asher Angel). As características deles continuam as mesmas e seguem apenas como alívios cômicos, até quando um dos personagens se assume gay, um grande momento para o cinema do gênero, mas que se perde por conta do tom da narrativa. O que resta são figuras unidimensionais e, no caso das vilãs, maniqueístas.
O emocional nunca atinge seu ápice porque os sentimentos no filme nunca soam reais, é tudo muito protocolar e burocrático e, por incrível que pareça, principalmente quando o elenco adulto está em cena. Quando em suas versões jovens, os personagens têm o apoio de um elenco jovem que esbanja carisma e naturalidade interagindo entre si, ainda que tenham pouco tempo de tela em família, são eles quem oferecem alguns do momentos mais divertidos do filme. Em contrapartida, Helen Mirren (“Velozes e Furiosos 8”) e Lucy Liu parecem estar em um filme completamente diferente, e inclusive parecem levar a sério o texto de suas personagens. Mirren ainda oferece algum alívio cômico ao filme, mas distante do ideal justamente pelo texto desenvolver sua personagem de maneira muito confusa. Lucy Liu, coitada, é o próprio maniqueísmo em personagem. As duas até tentam, mas há pouco ou nada que possa ser feito com o roteiro que “Shazam! Fúria dos Deuses” lhes dá. Rachel Zegler (“Amor, Sublime Amor”), então, parece completamente perdida, atuando em um filme que está completamente deslocado de todo o restante.
Por fim, durante quase toda a primeira hora e meia de filme, “Shazam! Fúria dos Deuses” é uma produção feia de se encarar. Os efeitos visuais deixam a desejar, a simplicidade dos cenários é risível e tudo parece de isopor, quase que de uma peça escolar. Mais próximo ao clímax do filme, algumas coisas melhoram, principalmente os efeitos, mas não há nada que possa ser feito ou salvo quando no comando está alguém como David F. Sandberg. O cineasta entrega um filme muito pobre visualmente, com claques cansativas e óbvias. Quando precisa pôr em ação, de fato, a ação, há muita dificuldade em se criar algo que faça jus aos poderes dos super-heróis no filme. Por mais que seja uma produção sem as ambições de outros filmes da DC, é uma decepção que se contentem aqui com um passatempo tão banal e inócuo, digno de esquecimento e que, com certeza, se fará tão passageiro quanto o primeiro filme.
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