Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” (“Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore”, 2022); Direção: David Yates; Roteiro: J.K. Rowling & Steve Kloves; Elenco: Eddie Redmayne, Jude Law, Ezra Miller, Dan Fogler, Alison Sudol, Callum Turner, Jessica Williams, Katherine Waterston, Mads Mikkelsen; Duração: 142 minutos; Gênero: Aventura, Fantasia; Produção: David Heyman, J. K. Rowling, Steve Kloves, Lionel Wigram, Tim Lewis; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 14 de Abril de 2022;

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(Imagem: Cortesia da Warner Bros Pictures)

Quando anunciada, a franquia Animais Fantásticos gerou muita comoção por ser um retorno a um Universo que marcou gerações, primeiro na literatura e posteriormente nos cinemas, se alastrando por tantas outras mídias para agraciar um público ávido por mais e mais conteúdo que aquilo criado por J.K. Rowling podia gerar. 6 anos depois do lançamento da nova franquia, o terceiro filme chega aos cinemas e com ele uma jornada marcada por muitas polêmicas que promoveram mudanças no andar da produção e que impactam diretamente no desenvolvimento da história, sem contar a recepção abaixo do esperado, especialmente do segundo filme, em relação a bilheteria. A sensação de nostalgia deu lugar a outro sentimento, até porque o que os dois primeiros Animais Fantásticos apresentaram foram uma crise de identidade e uma tentativa desordenada de estabelecer algo tão grandioso e impactante quanto foi Harry Potter. Passaram longe disso, muito por conta de como cada um desses dois filmes parecia apenas uma eterna prévia para o embate entre bem e mal. Com a promessa (atualmente dúbia) de 5 filmes na franquia, não era de se esperar que “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” resolvesse tudo, mas chegamos ao fim de uma agora trilogia ainda com a sensação de que só estamos vendo uma prévia de algo maior.

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(Divulgação/Imagem: Warner Bros. Pictures/Jaap Buitendijk)

Se havia qualquer potencial em Animais Fantásticos, em “Os Segredos de Dumbledore” resta apenas desgaste. 15 anos de David Yates comandando os filmes do Universo criado por J.K. Rowling tornaram toda a mágica em algo que é puro desencanto. A dupla, inclusive, parece trabalhar para eliminar qualquer possibilidade de empolgação com o filme, que apesar de não ter uma execução desastrosa, se mostra completamente enfadonho. O eterno suspense para construir o embate entre Dumbledore (Jude Law) e Grindelwald (agora Mads Mikkelsen) é estabelecido de tal maneira que a seriedade que se tenta implantar à narrativa não passa, na verdade, de uma burocracia sem qualquer graça e completamente superficial, incapaz de gerar qualquer real dúvida, tensão ou urgência ao desenrolar da história. Até porque mesmo com mais de duas horas, não há tempo hábil para contemplar os inúmeros personagens e suas tramas, então ninguém ali soa interessante o suficiente de se acompanhar, enquanto os antagonistas se tornam cada vez mais maniqueístas. Se estes escolhem o fácil ao invés do certo, J.K. Rowling e companhia fazem o mesmo em relação a este filme, fadando o espectador a algo que não só insiste nos mesmos erros de seus antecessores, mas parece andar para trás em relação à história.

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(Imagem: Cortesia da Warner Bros Pictures)

Se a narrativa parece emperrada, presa a convenções que sua criadora acredita cegamente serem as certas, como outras crenças suas na vida real, David Yates tem cada vez menos inspiração para conduzir o que está sendo desenvolvido. É tudo dirigido de maneira tão formal que parece robótico, é apático em maior parte do tempo e, não por coincidência, os pouquíssimos bons momentos são justamente quando o filme se aceita como ridículo. Só que de tão raros, passam completamente desapercebidos. E as sequências de ação, que parecem se fazer escassas para dar lugar a um suposto ar de seriedade e amadurecimento à narrativa, são tão insossas que se fazem completamente esquecíveis. Geralmente escuras e confusas, não se encontra ali qualquer criatividade, apenas soluções fáceis e banais. Não há sensibilidade ou vida, e os personagens estão condenados a arquétipos mecânicos, completamente dependentes do que seus intérpretes entregam. Mads Mikkelsen, por exemplo, se diverte sempre quando pode como Grindelwald, e é uma das poucas boas novidades de “Os Segredos de Dumbledore”, assim como a carismática Jessica Williams. Porém, não há material com o qual eles possam trabalhar ou a capacidade para se extrair do elenco algo além do carisma dos próprios atores, fazendo com que muitos estejam ali simplesmente no piloto automático.

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(Imagem: Cortesia da Warner Bros Pictures)

O mais surpreendente é que desta vez J.K. Rowling divide os créditos do roteiro com alguém, Steve Kloves co-assina “Os Segredos de Dumbledore”, ainda assim, de nada adianta. É um desastre a tal ponto que a resolução da narrativa neste capítulo se dá através de uma personagem cuja o filme negligência e, usando quase como um furo de roteiro, a alça a posto de Deus Ex Machina. É um exemplo de como falta criatividade e, consequentemente, uma vida pulsante ao filme. Não é como se o interesse romântico entre Newt (Eddie Redmayne) e Tina (Katherine Waterston) fosse algo funcional no filme, mas a prova desta última aparecer só nos minutos finais e não fazer a menor diferença mostra como falta algo que torne qualquer coisa no filme em vibrante. Há tantos personagens que podem ser explorados, mas o que vemos é um elenco convoluto onde pouco se tem a fazer, com uma narrativa tão abarrotada de subtramas e desenvolvida com simplicidade tal que a torna até ingênua. Assim, também não se desenvolve nenhum sentimento de verdade ou que não seja dependente de memória afetiva ou nostalgia. Quando um personagem brinca que a situação deles parece ter voltado à estaca zero antes do terceiro ato, enquanto outro concorda, porém, afirma que está pior, é como se víssemos um reflexo do feito negativo que Rowling, Kloves e Yates conseguem realizar neste “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”.

“Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” – Trailer Legendado:

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