“Rivais” (“Challengers”, 2024); Direção: Luca Guadagnino; Roteiro: Justin Kuritzkes; Elenco: Zendaya, Josh O’Connor, Mike Faist; Duração: 131 minutos; Gênero: Esporte, Romance; Produção: Luca Guadagnino, Rachel O’Connor, Amy Pascal, Zendaya; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 25 de Abril de 2024;
Luca Guadagnino (“Até os Ossos”) é um cineasta muito eclético e que vem construindo uma filmografia que demonstra sua maestria para transitar não somente entre os temas mais variados possíveis, mas também entre gêneros distintos que ajudam a realçar o universo específico no qual seus personagens existem em determinado filme. As duas coisas conversam entre si -cenários e personagens- e são o que definem a maneira como o diretor vai abordar cada uma de suas produções, o que acaba por demonstrar, também, como ele mergulha de cabeça para entregar algo que é sempre intrigante independentemente do que se trata. É como pegar uma “simples” partida de tênis e transformá-la em um filme de pouco mais de duas horas que atravessa os anos para contar uma história de um triângulo amoroso cuja tensão cada vez mais crescente cria um thriller erótico que não para de pulsar por um segundo sequer. É assim que “Rivais” estabelece uma dinâmica tão inebriante com seu trio de protagonistas que nos vemos vidrados com cada jogada numa quadra de tênis, mesmo que se tenha indiferença pelo esporte ou suas regras, porque Guadagnino fisga e hipnotiza o espectador de uma maneira que arrebata com cada virada de sua narrativa enquanto experimenta neste universo as relações entre o trio.
É importante ressaltar que “Rivais” opta pelo sensual ao invés do explícito e, dentro daquilo que o filme propõe, soa como uma escolha muito acertada de Luca Guadagnino. Não acredito que haveria problema em explorar tais cenas, inclusive penso que falta mais na relação entre os dois protagonistas homens, mas como o objetivo não é exatamente esse, o filme funciona muito bem. Porque da forma como é narrativamente construído, o caso entre os personagens de Zendaya (“Duna: Parte 2”), Josh O’Connor e Mike Faist (“Amor, Sublime Amor”), intercalado entre o tênis e suas interações pessoais, deixa muito explícito essa tensão sexual que permeia entre os três e é transmitida ao público através de uma sensualidade cuja qual, aí sim, é impossível de se dizer indiferente sob qualquer circunstância. É todo um trabalho que envolve uma série de decisões que respingam principalmente na direção de fotografia e edição do filme, comandadas respectivamente por Sayombhu Mukdeeprom e Marco Costa, porque a forma ou a luz sob a qual vemos esses personagens expõe muito bem aquilo que não precisa ser dito com palavras, e a libido e a sexualidade que envolve essas figuras centrais ganha uma força singular com tais elementos, assim como com simbolismos fálicos, óbvios ou sutis, com os quais os personagens interagem quase que naturalmente vez por outra.
Porém, é a trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross que dá a “Rivais” a pulsação incessante que se apresenta, porque é ela quem dita o ritmo e a dinâmica do filme a cada momento que se faz presente e é como se potencializam completamente as cenas chave. O trabalho da dupla, duas vezes vencedora do Oscar, têm suas características comuns, mas embrulhadas numa pegada tecno/eletrônica que nos levam ao limite da euforia e complementam as brilhantes atuações do trio de protagonistas. É difícil dizer qual dos três protagonistas está melhor em cena e, na verdade, talvez nenhum dos três esteja melhor que o outro, Zendaya, Faist e O’Connor nos conquistam igualmente e o quanto um personagem incita ao outro é capaz de fazer o mesmo conosco por conta dessas atuações. A atriz, no entanto, é o principal destaque por como a narrativa a retrata, e sua capacidade de se fazer a detentora das regras é o ápice da carreira de Zendaya e demonstra sua voracidade, num arco narrativo que se faz orgástico ao próprio espectador. Assim, “Rivais” é um filme de constante atração e irresistível devido a sofisticação na qual Luca Guadagnino envolve todos ali e torna o que vemos num objeto de desejo cuja sentimentos transcendem a tela.