“Os Rejeitados” (“The Holdovers”, 2023); Direção: Alexander Payne; Roteiro: David Hemingson; Elenco: Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph, Dominic Sessa, Carrie Preston, Naheem Garcia; Duração: 133 minutos; Gênero: Comédia, Drama; Produção: Mark Johnson, Bill Block, David Hemingson; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 11 de Janeiro de 2024;
O que me salta aos olhos nos filmes de Alexander Payne é uma certa simplicidade que eles aparentam ter, mas que aos poucos se desconstroem como algo muito maior e complexo. Mas é esse núcleo de simplicidade que serve de partida e a maneira como o cineasta o desenvolve que torna sua filmografia tão especial, e recheada de personagens e consequentemente atuações tão marcantes, seja ele também roteirista ou não. Último caso como é aqui, em “Os Rejeitados”, onde apesar de não assinar o roteiro, sua identidade exerce uma força tremenda, numa sintonia perfeita com a escrita de David Hemingson, onde um parece favorecer e engrandecer o trabalho do outro, se completando de forma a tornar a jornada dos personagens aqui em uma aventura completamente graciosa e tocante, numa narrativa que apesar de simples, é recheada de contornos que, conduzidos como são, se revelam detentores de uma miríade de sensações e uma potência emocional arrebatadora, capaz de amolecer qualquer coração. É tudo parte desta jornada e como ela molda os personagens, mas também como ela é sempre honesta para com o público, sem truques, numa história que é envolta em nostalgia, e faz seus personagens e cenários parecerem familiares, algumas vezes até demais.
Por motivos diferentes, os personagens de Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph e Dominic Sessa se veem “presos” juntos e sozinhos no internato da Academia Barton durante as festas de fim de ano. O primeiro, professor, como um castigo por ter reprovado um aluno de evidência, sendo obrigado a ficar de babá. A segunda, cozinheira, buscando um novo rumo enquanto enlutada. O terceiro, aluno, deixado para trás por sua mãe, conforme ela se adapta ao seu novo casamento. Unidos quase a contragosto, os “rejeitados” precisam lidar com seus próprios problemas e dilemas e as barreiras que criam entre si, até que compelidos a compartilhar suas experiências um com o outro e, por consequência, compreender ao próximo. Existe algo mais natalino do que isso? Mesmo a premissa e as dinâmicas sendo, como eu disse, simples, Alexander Payne torna “Os Rejeitados” em algo para muito além disso, desde sua abordagem na maneira como filma se esta fosse uma produção dos anos 70, ainda que sem qualquer pudor de se fazer sentir moderno. O que concede ao filme uma beleza de cores e imagens que saltam aos olhos e, por muitas vezes, se tornam aconchegantes. O principal, no entanto, é em como as emoções são extraídas.
Em “Os Rejeitados” tudo surge e flui com muita naturalidade, independentemente do quão óbvias sejam a sucessão de acontecimentos. Os sentimentos ali, portanto, soam reais e se fazem extremamente sensíveis através da direção de Alexander Payne, que também retira o máximo de seu elenco. Da’Vine Joy Randolph é quem tem o arco emocional mais evidente, e como ela interpreta sua personagem é comovente, não só pelo fardo da tristeza, mas em como ela abrange também um carinho materno a qual grande parte da graciosidade do filme é de sua responsabilidade, como se acolhêssemos um ao outro. Sempre que entra em cena, o filme é seu, até mais que do próprio protagonista. Contudo, a dinâmica entre Paul Giamatti e o estreante Dominic Sessa também é excelente, e vale destacar o talento inesperado de Sessa quando o ator, em seu primeiro papel, faz frente a atuação de Giamatti aqui. Porque o veterano ator entrega um trabalho recheado de nuances, e talvez seu maior mérito seja conseguir demonstrar uma vulnerabilidade de maneira sucinta, que rendem as camadas que compõem seu personagem e são desconstruídas ao longo do filme. O resultado é algo que sintetiza as sensações que nos contagiam ao assistir “Os Rejeitados”, que parecem encontrar um lugar no coração do espectador e arrancar lágrimas, sejam elas de alegria ou não.
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