- Título Original: Sunday Bloody Sunday
- Gênero: Drama
- Direção: John Schlesinger
- Roteiro: Penelope Gilliatt
- Elenco: Peter Finch, Glenda Jackson, Murray Head, Peggy Ashcroft & Tony Britton
- Origem: Reino Unido
- Ano: 1971
- Duração: 110 minutos
“Sunday Bloody Sunday“, pode ser considerado um dos últimos grandes filmes do diretor John Schlesinger. Nascido em Londres, tem em sua filmografia alguns filmes de destaque da década de 60 – “Darling“, protagonizado pela bela Julie Christie e principalmente “Perdidos na Noite“, sua verdadeira obra-prima. Numa sociedade cada vez mais liberal para triângulos amorosos e relacionamentos abertos, em que se vive sobre a teoria de que cada casal deve ditar suas próprias regras entre quatro paredes, lá no início da década de 70, Schlesinger abordava sem frescuras o tema até então polêmico.
No filme, temos o médico judeu Daniel ( Peter Finch ) e a servente pública Alex ( Glenda Jackson ), que mantém um caso com a mesma pessoa, o jovem Bob Elkin ( Murray Head ). Mesmo sabendo da existência um do outro, os dois aceitam a relação dupla do parceiro, com medo de perdê-lo. Quando Bob decide se mudar do país, aflora nos dois o medo de ter que viver sem aquele que amam e a inevitável necessidade de se seguir em frente.
O que é visto aqui, é um triângulo amoroso bem menos romantizado e fantasioso se comparado com alguns que já haviam surgido anteriormente no cinema, incluindo os mais melancólicos como “Jules e Jim“. Na verdade, o jovem Bob é o único que parece viver uma relação entre três, desfrutando de todas as suas liberdades, enquanto Alex e Daniel estão aprisionados em uma paixão que da mesma forma que traz momentos de alegria, também lhes causa muita dor. Alex, com sua aparência de mulher madura, podendo ter todos os homens que desejar aos seus pés, revela-se a personagem mais frágil do filme, ou talvez só seja a que consegue se conter menos frente à situação. Tenta esconder o ciúmes, espera demais do parceiro e sempre acaba se decepcionado, mas tem medo de levantar discussões ou se expressar e ser vítima daquele abandono inevitável ainda mais cedo. Daniel Hirsh, o médico, é outro nitidamente apaixonado, que recusa a companhia de outros garotos e parece ter somente ao lado de Bob os seus momentos de genuína felicidade. Dois seduzidos pelos encantos de um jovem, em uma relação totalmente sem perspectiva de futuro. Vivem sobre outra teoria – “a dor de ficar sem quem você ama, é maior do que ter que dividi-lo”, ainda muito usada atualmente, fazendo deste um filme que resiste muito bem ao tempo e que se manterá assim por muitos anos.
“Domingo Maldito”, felizmente, não mantém suas atenções somente nos conflitos dessa relação ou dos sacrifícios amorosos e também busca abordar, nem que seja em pequenos detalhes, todo um contexto de mudanças ocorridas no início dos anos 70. A homossexualidade, poucas décadas atrás proibida na Inglaterra, começa a ganhar maior espaço na sociedade – uma prova relevante está no próprio filme, que teve a liberdade de ser o primeiro a mostrar um beijo entre dois homens com conotação sexual. Nas ruas, novos grupos começam a se formar, circulando nelas punks e hippies, em uma atmosfera já um pouco vista em “Perdidos na Noite“, que se passava em uma Nova York bem menos conservadora do que o habitual. Outra cena bastante polêmica, evidencia o uso da maconha, também dentro das famílias, mostrando as crianças fumando na frente de Alex e Bob, afirmando saber exatamente onde os pais a esconde.
No elenco, aparecem dois grandes nomes do cinema britânico da época – os oscarizados, Glenda Jackson ( “Mulheres Apaixonadas” e “Um Toque de Classe” ) e Peter Finch ( “Rede de Intrigas” ). Finch, interpreta de maneira bem contida e precisa seu Daniel, sabendo mostrar nos momentos exatos as frustrações e insatisfações do seu personagem, assim como a sempre impecável Jackson. Em um filme, onde esses sentimentos são mostrados em cenas silenciosas, na rotina, nas expressões e não tanto em diálogos ou cenas explosivas, interpretações contundentes são extremamente necessárias e Schlesinger se mostra inteligente na escolha de dois nomes experientes para eles. Como Bob, aparece Murray Head, ator de carreira curta no cinema, que faz um personagem carismático, apesar de todas as tristezas que deixa para trás.
O longa recebeu 4 indicações ao Oscars – Melhor Direção, Melhor Ator ( Finch ), Melhor Atriz ( Jackson ) e Melhor Roteiro Original, além de vencer o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. Falando em Oscar, uma das curiosidades é que o ator atualmente três vezes premiado, Daniel Day-Lewis faz uma ponta não creditada, aos 14 anos de idade como um vândalo. Ainda que bastante esquecido, “Sunday Bloody Sunday” é um drama feito de conflitos internos e personagens em contato direto com o espectador, afinal, quem nunca passou por dias nebulosos ou viveu um presente, sem perspectiva do amanhã?
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Dizem que a infância era o melhor da vida, mas não…
agora quero a companhia dele e eles dizem:
“Que Desperdício de tempo. Está bem sem ele.”
Eu digo: “Sei disto, mas eu sinto falta dele.”
E eles dizem: “Ele nunca o fez feliz…”
E eu digo: “Mas eu sou feliz, só que sinto falta dele…”
“Toda vida quis alguém corajoso… talentoso.
Ele não é nada disto. Mas é alguma coisa. Éramos alguma coisa.”
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