“Planeta dos Macacos: O Reinado” (“Kingdom of the Planet of the Apes”, 2024); Direção: Wes Ball; Roteiro: Josh Friedman; Elenco: Owen Teague, Freya Allan, Kevin Durand, Peter Macon, William H. Macy; Duração: 145 minutos; Gênero: Aventura, Fantasia, Ficção Científica; Produção: Wes Ball, Joe Hartwick Jr., Rick Jaffa, Amanda Silver, Jason T. Reed; País: Estados Unidos; Distribuição: 20th Century Studios; Estreia no Brasil: 09 de Maio de 2024;
A trilogia “Planeta dos Macacos” da década de 2010, protagonizada por Andy Serkis, surpreendeu pelos rumos que tomou e a maturidade e seriedade, sem pedantismo, com a qual conseguiu desenvolver um arco dramático muito poderoso, bem acima da qualidade média dos blockbusters hollywoodianos. A história que começou com uma sementinha plantada por Rupert Wyatt em 2011, tentando modernizar uma franquia clássica adorada por Hollywood -mas estagnada há anos, terminou nas mãos de Matt Reeves (“Batman”) numa crescente que, ao contrário do comum, só melhorou a cada filme e superou as expectativas em diferentes formas, culminando num suprassumo do que o cinema amparado nos efeitos visuais era capaz de entregar. Um fardo nada fácil de lidar quando pensamos em continuidade, porque ter para onde ir ou o que fazer após uma trilogia tão bem amarrada e realizada é algo que exige muito de quem se dispôs a isso, e o nome da vez é Wes Ball, responsável pelos filmes da franquia “Maze Runner”. O cineasta, de até então uma nota só, assume a bronca de dar seguimento a história iniciada com César e entrega com “Planeta dos Macacos: O Reinado” um filme que direta e indiretamente discute questões envolvendo legado e suas disseminações.
Havia uma escolha a ser feita, e “Planeta dos Macacos: O Reinado” age de maneira ambígua quanto a isso, pois é claro que não se encontra uma maneira de distanciar-se dos filmes protagonizados por Andy Serkis, e a figura de César parece assombrar o filme de Wes Ball do início ao fim. Mesmo se passando gerações depois da história “original” não há um desprendimento completo porque o cineasta também falha em conseguir implementar uma identidade própria ao filme, o que faz com que ele pareça preso entre a necessidade de se sustentar no que eram as produções anteriores e uma pretensão que se faz incapaz de desenvolver o que imagina. São uma série de fatores que influenciam em algo que se torna uma mescla genérica de histórias já contadas e visuais batidos, que independentemente da qualidade de seus efeitos visuais tem pouco além disso para oferecer. Não é uma aventura falha por completa, mas é uma repetição de temas já explorados e aqui desenvolvidos de maneira protocolar e burocrática num filme que não consegue ter criatividade para ser mais do que uma emulação fajuta daquilo a que aspira ser, e isso em níveis tanto narrativos como visuais, até mesmo denotado na trilha sonora mais genérica de John Paesano.
Como tudo em “Planeta dos Macacos: O Reinado” é mecânico, quase numa espécie de ação e reação, não há espaço para uma sensibilidade ou delicadeza que tornem o filme em algo mais pessoal, que nos aproxime de seus personagens com uma delicadeza de detalhes como eram em seus antecessores, aqui é tudo muito formal e hermético e não há no texto, ou nas atuações também inferiores aos outros filmes, quaisquer resquícios de uma possível dubiedade que o filme presume possuir. Assim, suas reviravoltas soam vazias e os gatilhos narrativos não surtem efeito porque não há carisma suficiente para nos fazer simpatizar com quem deseja, e com a constante sombra do que recentemente foi a franquia pairando sobre o filme de Wes Ball torna questionáveis suas decisões em relação aos rumos das tramas, como se tivesse dificuldade em compreender o legado deixado por seus antecessores…