Nosferatu 06

Crítica | Nosferatu (2024)

Nosferatu 03
Divulgação: Universal Pictures

Há um possível debate se Robert Eggers pode já ser considerado um mestre do horror, num misto de euforia causado pelos lançamentos de “A Bruxa” e “O Farol”, enquanto pareceu ficar claro com “O Homem do Norte” que, em seu cinema, impera a técnica acima de tudo. Não é à toa, portanto, que em seu quarto longa-metragem ele optou por realizar uma nova versão de “Nosferatu”, filme e figuras que significam e representam tanto para o cinema. Eggers também não tem medo de esconder suas referências, e mesmo com similaridades ao original e a outras releituras, “Nosferatu” tem sua própria identidade. O que torna isso capaz é a forma como o realizador e sua equipe nos transportam para os cenários que constituem essa macabra história que já perdura por séculos de forma imperativa, e encanta aqueles que têm alguma aspiração de grandeza. Assim, fazer jus a ela é difícil e pode ser uma armadilha, da qual este filme se safa, mas não sem cicatrizes para serem exibidas, pois, apesar de ser um filme recheado de trunfos, esse nova releitura de “Nosferatu” ainda tem alguns pontos que podiam ser melhor trabalhados, mesmo dada sua já longa duração. O resultado, contudo, é merecedor de atenção.

Nosferatu 04
Divulgação: Universal Pictures

Se é a técnica que impera no cinema de Eggers, isso nos é evidenciado desde o prólogo de “Nosferatu”, onde somos introduzidos a atmosfera que tomará conta dos melhores momentos do filme. A maneira como se consegue demonstrar um controle para criar esse clima soturno e assombrante é o que se faz um dos pontos altos, e constantemente dão ao filme um ritmo empolgante e instigam para o desenrolar da narrativa, mesmo que já se saiba que fim levará está história. É a forma como nos envolve nestes momentos que se faz um grande filme e Robert Eggers, por sua vez, se mostra aquele diretor que nos preencheu de expectativas. Visualmente é um filme de beleza macabra, com elementos técnicos que constituem uma obra de horror que funciona tanto com uma faceta clássica como moderna, resgata referências já conhecidas e às traveste como novas, se faz senhor das trevas quando brinca com as sombras e a escuridão, como poucos filmes hoje são capazes, porque sua devoção em contar a história deste personagem se encontra com uma competência extraordinária de Eggers e toda sua equipe de produção, onde até mesmo clichês na ótima trilha sonora de Robin Carolan ganham um sentido que se faz efetivo.

Nosferatu 02
Divulgação: Universal Pictures

Se é no horror que “Nosferatu” se sobressai, é no romance que falta algo, e não é que as atuações de Lily-Rose Depp ou Nicholas Hoult estejam aquém, pelo contrário, nos momentos mais “aterrorizantes” do filme eles entregam trabalhos excelentes, assim como Emma Corrin em uma participação relativamente pequena. São as questões mais mundanas, como a verborragia do personagem de Aaron Taylor-Johnson (“O Dublê”) ou o romance deste com a personagem de Corrin, assim como o romance dos protagonistas, que não funciona. São relações tão protocolares e, por vezes, que parecem tanto como uma exposição de roteiro que se fazem uma burocracia que precisa ser vencida pelo filme. O romance protagonista não ser plenamente funcional também tira do filme uma eficácia que podia ser ainda mais contundente, com dilemas que fariam se sentir mais e teriam um impacto que, aí sim, inquestionavelmente tornariam “Nosferatu” em um dos grandes filmes de horror da década, ou quem sabe do século. Porque toda vez que o Nosferatu de Bill Skarsgård (“Contra o Mundo”) entra em cena o filme toma uma forma de grandiosidade que é de arrepiar, com uma abordagem por parte de Eggers para com o personagem que torna a experiência numa quase que literal elevação sobrenatural, onde a figura sorrateira parece se fazer, de fato, presente perante o espectador. Ao final, esse lado sombrio é o que traz a beleza poética que falta a todo restante e que faz valer a pena essa releitura.

Nosferatu” – Trailer Legendado:

Nosferatu” (2024); Direção: Robert Eggers; Roteiro: Robert Eggers; Elenco: Lily-Rose Depp, Bill Skarsgård, Nicholas Hoult, Aaron Taylor-Johnson, Emma Corrin, Willem Dafoe; Duração: 133 minutos; Gênero: Suspense, Terror; Produção: Jeff Robinov, John Graham, Chris Columbus, Eleanor Columbus, Robert Eggers; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 02 de Janeiro de 2025;

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.