Megatubarão (The Meg, 2018); Direção: Jon Turteltaub; Roteiro: Dean Georgaris e Jon Hoeber & Erich Hoeber; Elenco: Jason Statham, Li Bingbing, Rainn Wilson, Ruby Rose, Winston Chao, Cliff Curtis, Sophia Cai, Page Kennedy, Robert Taylor, Ólafur Darri Ólafsson, Jessica McNamee, Masi Oka; Duração: 113 minutos; Gênero: Aventura, Comédia, Drama, Ficção Científica, Suspense; Produção: Lorenzo di Bonaventura, Colin Wilson, Belle Avery; País: Estados Unidos, China; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 09 de Agosto de 2018;
Em tempos recentes, a Warner Bros. Pictures parece ter tomado apreço por um certo nicho de filmes, investindo em produções que tem como protagonistas “monstros gigantes”. Melhor ainda é como permite aos realizadores que tais filmes possuam características bastante autorais e flertem com diferentes gêneros. Apesar que, na sua franquia principal nesta linha, parece ter havido um certo ajuste dentre um filme e outro, com “Kong: A Ilha da Caveira” se atentando a reclamações feitas quanto ao “Godzilla” de Gareth Edwards. Contudo, foi este ano em “Rampage: Destruição Total” que o estúdio certeiramente cedeu ao lado mais lúdico da coisa.
Neste ponto já há plena noção de que Megatubarão aparenta não ter a mínima intenção de se levar a sério, com uma campanha de marketing que alude de maneira divertida à discrepância colossal entre homem e máquina de matar subaquática. Porém, enquanto a comicidade pode funcionar vez ou outra, o excesso é mais que evidente, mas não é por si só um problema. O filme protagonizado por Jason Statham sofre de uma crise de identidade, querendo assumir diversas posturas diferentes na tentativa de estar sempre um passo à frente, mas resultando numa colcha de retalhos de diferentes gêneros de filmes.
Não é, de forma alguma, dizer que não cumpra seu propósito. Mas fica aquém do que podia, até porque a direção de Jon Turteltaub é bastante limitada e pouco inventiva ou sequer inspirada. Quando assume uma postura que pende mais para o suspense, Megatubarão acaba detido a resoluções que são sempre mais do mesmo e que ainda sofrem com restrições por sua censura mais baixa, que não lhe permite partir para algo mais gráfico. Entretanto, Turteltaub também não encontra uma saída para isso, e fica mesmo no lugar comum do mais básico que o cinema hollywoodiano tem a oferecer.
É uma opção pelo seguro, então há um mínimo de acidez cômica autocrítica que torna alguns dos elementos mais mirabolantes bastante palatáveis. Porém, há uma sucessão de ideias das quais o filme parece abrir mão em seu decorrer. Há uma gag que se espera ver completada durante todo o filme e ela simplesmente nunca acontece, mas sua preparação reside lá. Parece, inclusive, que durante o meio do caminho há mudanças de planos sobre qual o melhor trajeto a se seguir, assim como o derradeiro embate, que dá indícios de estar prestes a culminar num ciclo completo, mas se detém na hora H.
O que, por fim, se sobressaí, é o carisma do elenco. Jason Statham já havia mostrado junto a Dwayne Johnson em “Velozes e Furiosos 8” como é capaz de reter a atenção do público, e aqui não faz nada diferente do que se espera dele. Chama para si a responsabilidade das principais cenas de ação e, mesmo que não sendo um ator de muito repertório, consegue fazer com que nos importemos com um personagem completamente genérico, até porque assume este tropo e o abraça com um sarcasmo que é pontual para o funcionamento do filme.
No entanto, só é possível também porque o restante do elenco de Megatubarão fica ligeiramente acima da média no que se obtém em filmes assim. Não há nenhum trabalho extraordinário, mas há uma autenticidade muito grande em como Bingbing Li e outros nomes do elenco, junto a Statham, conseguem construir uma união que esbanja química e soa bastante orgânica ao filme. Talvez aqui resida seu maior mérito, em ser capaz, mesmo que por um breve momento, em estabelecer uma conexão com o espectador. O melodramático também é tão característico à narrativa que compramos a ideia dessas relações, da luta em conjunto pela sobrevivência.
Não deixa de ser nada além de uma aposta segura, que almeja entreter tanto a públicos ocidentais quanto orientais que buscam um corriqueiro passatempo. Só é realmente uma pena que a embalagem seja muito mais “descolada” que seu conteúdo, que tem em seu imagético e desenvolvimento uma padronização e uma faceta bem clássicas, carecendo de uma visão que lhe emprestasse um pouco mais de ousadia. Consequentemente, Megatubarão vai entreter, mas ao longo de suas duas horas, pouco evoluirá com o espectador, ainda menos após a sessão.