“O Macaco” quer ser muitas coisas, e não é nenhuma surpresa dado a saturação no gênero do horror atualmente. Baseado num conto de Stephen King, não é difícil pensar em referências enquanto se assiste ao filme de Osgood Perkins, com uma dinâmica até similar a da franquia “Premonição”. No entanto, Perkins consegue deixar uma marca de que seu cinema é autoral independentemente dessas similaridades e de se tratar de uma adaptação. É a forma que se sobressai a qualquer conteúdo, ou melhor, é a forma que eleva o conteúdo aqui, pelo menos até certo ponto. É tudo muito inusitado, com uma energia que é, a princípio, bastante contagiante, tornando “O Macaco” numa obra estranhamente nostálgica, até porque é difícil localizá-la no tempo, e isso tem seus prós e contras. A história sobre os irmãos gêmeos que encontram um estranho macaco deixado para trás pelo pai que os abandonou tem uma série de chaves e viradas emocionais que refletem uma característica muito misantrópica, senão niilista do filme. Isso é quase a personificação da personagem da mãe dos gêmeos, interpretada por Tatiana Maslany, que encara a vida de maneira muito peculiar. E é esse tom que “O Macaco” assume, mas tudo começa a soar peculiar demais para que seja funcional.
Há um desencontro em alguns pontos principais de “O Macaco” que tornam o todo um tanto conflituoso, sendo denotado principalmente pelo tom, cuja humor negro que se faz imperativo parece querer que tudo acabe em piada a qualquer custo. Mas o ridículo do humor nem sempre funciona, deixando as coisas meio insossas e, ao mesmo tempo, não funciona uma tentativa de deixar as coisas constrangedoras, porque simplesmente não encaixam no restante do filme, como o completamente desnecessário personagem de Elijah Wood. Essa oscilação, além do tempo que leva a transição entre a adolescência e a vida adulta dos gêmeos, faz com que “O Macaco” fique enfadonho. É irônico, também, como na adolescência um dos gêmeos interpretados por Christian Convery incomoda por funcionar numa só nota, enquanto na fase adulta esse problema troca de personagens na interpretação de Theo James. Mas é num desses irmãos interpretados por James que parece ecoar o que funciona de melhor no tom e na estética de “O Macaco”, mas que é efêmero para que possa surtir muito efeito. Essa irregularidade também se reflete na estética, sendo que Osgood Perkins parece tão inspirado em alguns sentidos, mas deixando seu filme decair para soluções digitais para representar a violência, que inclusive deixa a sensação de que podia ser mais brutal e mais criativa, porque se no início a construção das sequências é algo que parece muito bem elaborado, depois Perkins parece desistir dessa criatividade. Por fim, “O Macaco” diverte em alguns momentos, mas seu tom desencontrado e tramas sem a solidez necessária fazem do filme uma jornada cansativa e, de certa forma, até decepcionante pelo que nos apresenta em sua introdução e o que nos entrega em seu decorrer.
“O Macaco” – Trailer Legendado:
“O Macaco” (“The Monkey”, 2025); Direção: Osgood Perkins; Roteiro: Osgood Perkins; Elenco: Theo James, Tatiana Maslany, Christian Convery, Colin O’Brien, Rohan Campbell, Sarah Levy, Adam Scott, Elijah Wood; Duração: 98 minutos; Gênero: Comédia, Terror; Produção: James Wan, Dave Caplan, Brian Kavanaugh-Jones, Chris Ferguson; País: Estados Unidos; Distribuição: Paris Filmes; Estreia no Brasil: 06 de Março de 2025;