Hebe – A Estrela do Brasil, 2019; Direção: Maurício Farias; Roteiro: Carolina Kotscho Elenco: Andrea Beltrão, Marco Ricca, Danton Mello, Gabriel Braga Nunes, Caio Horowicz, Karine Teles, Claudia Missura, Daniel Boaventura, Danilo Grangheia; Duração: 112 minutos; Gênero: Drama, Biografia; Produção: Clara Ramos; País: Brasil; Distribuição: Warner Bros; Estreia: 26 de Setembro de 2019;
As cinebiografias são gêneros bastantes celebrados pelo grande público nacional, seja sobre figuras emblemáticas do cenário histórico nacional ou figuras do imaginário mundial com alguma relevância. A grande problemática de tais filmes se dá pelo fato de um longa metragem, de em média duas horas, não conseguir sintetizar o recorte de uma vida inteira de uma pessoa tão grandiosa ou com vivências curiosas. Os exemplos genéricos não faltam: “Chacrinha – O Velho Guerreiro“, “Minha Fama de Mau“,”Elis“… enfim, vira e mexe vemos algo verdadeiramente autêntico, pra não dizer até subversivo, como “Bingo – O Rei das Manhãs“. Caminhando entre o modelo conservador convencional e a inventividade, “Hebe – A Estrela do Brasil” é uma surpresa. Assertivo em querer focar em um extrato da vida da apresentadora Hebe Camargo, não querendo contar toda sua longa trajetória em mais de 50 anos trabalhando como apresentadora de programa de TV. A ênfase é seu início no SBT, conflitando com a censura e as polêmicas, em meio a um Brasil traumatizado, pós ditadura, passando um processo lento de redemocratização.
Hebe era uma figura tão autêntica e excêntrica que sua encarnação não poderia ser diferente. Para os não familiarizados com sua trajetória, personalidade ou mesmo seus programas, fica a curiosidade ao término em procurar o que é factível e o que é dramaturgia. Aliás, há uma preocupação no roteiro de ser mais verossímil possível, sem parecer forçado. As situações são dramatizadas, claro, contudo os episódios são reais e fizeram parte de um momento drástico da apresentadora, quase censurada pelo governo brasileiro supostamente democrático. Outras questões são pinceladas, atiçando a curiosidade do público, como a amizade e apoio irrestrito de Hebe ao então governador de São Paulo, Paulo Maluff, político atualmente preso e envolto em inúmeras denúncias de corrupção – a apresentadora sempre acreditou em sua honestidade.
Andréa Beltrão consegue encarnar, de fato, a apresentadora, seja seus tiques ou suas expressões corporais. Carece, entretanto, de momentos dramáticos mais desafiadores, pairando no lugar comum. É um tipo de interpretação correta, porém não consegue atingir um ápice ao qual, geralmente, esse tipo de filme exige do ator. Apesar disso, consigo admirar bastante o trabalho de Beltrão, pois ela consegue desaparecer na personagem, uma pena que a direção comandada por Maurício Farias não consiga aproveita-la por completo. Fica o lamento por Marco Ricca, vivendo a mesma persona há pelo menos uns 5 anos – seu trabalho na novela das 18h, “Órfãos da Terra” tem mais nuances. O achado fica em Caio Horowicz, vivendo o filho da apresentadora, conseguindo dar uma profundidade e expressão a um personagem, tecnicamente, inexpressivo. A direção de Maurício Farias tenta se desprender de um ar convencional, falta um pouco de tato para conseguir aproveitar uma cinematografia mais refinada. Consegue ser um longa que foge ao “filme de estúdio”, soa orgânico e bastante instigante.
Hebe é uma figura intrigante, consegue captar essa essência e nos fazer procurar extra tela quem foi essa figura, como ela vivia, seus feitos, polêmicas e méritos. Dava para fazer muitos outros derivados retratando outros recortes da sua vida, então dá para dizer que “Hebe – A Estrela do Brasil” é um grande pontapé inicial, ao menos pelo fato de honrar sua biografada e agregar ao gênero nacional.