“Happy Hour – Verdades e Consequências” (Happy Hour, 2018); Direção: Eduardo Albergaria; Roteiro: Eduardo Albergaria, Fernando Velasco, Ana Cohan e Carlos Artur Thiré; Elenco: Letícia Sabatella, Pablo Echarri, Luciano Cáceres, Chico Díaz, Aline Jones, Letícias Persiles, Pablo Moraes, Marcos Winter; Duração: 105 minutos; Gênero: Comédia, Drama; Produção: Leonardo Edde e Vanessa Ragone; País: Brasil, Argentina; Distribuição: Imovision; Estreia no Brasil: 28 de Março de 2019;
O quanto um escritor tem ciência de sua própria narrativa? A princípio, é preciso conhece-la nos mínimos detalhes, de cor e salteado. Ou assim, presume-se. Deixar aberto a interpretações é sempre uma bem-vinda opção, mas até para fazê-lo parece ser necessário conhecer muito bem o todo, e saber muito bem por onde andas. Ter noção das tramas pelas quais trilha é importante para que a narrativa não se encontre abarrotada e congestionada por ideias que parecem demasiadamente dispersas, isso quando o andamento destas recebem o devido desenvolvimento para se fazerem valer dentro ou com o todo da narrativa. Certamente é complicado.
Ao menos, é isso que dá a entender “Happy Hour – Verdades e Consequências”, que parece insistir em todas as escolhas caminhos que só influenciam o filme de maneira negativa, onde mergulhado numa ambição enorme acaba, por fim, afogado, seja em sua pretensão narrativa, seja em sua pretensão de fazer sua narrativa ser um comentário relevante em relação ao estado sociopolítico contemporâneo. A verdade é que o filme de Eduardo Albergaria quer dar conta de tanta coisa que perde completamente o foco no que realmente devia importar. Pior é como falha em ao menos estruturar os elementos de sua narrativa com uma qualidade digna.
“Happy Hour” se dá cheio de arroubos, é um daqueles filmes que tem a pretensão de ser de forma metalinguística a obra-prima de seu protagonista escritor, algo há muito batido. Adiciona a isso elementos suspostamente regionais, situacional a um Rio de Janeiro que vive distante do cotidiano do Estado. Não que seja um erro, mas pelo discurso que o filme deseja construir seus argumentos são completamente superficiais, e extremamente deslocados. Mais do que uma discussão, ou o princípio de uma, confirmam apenas a bolha em que parece se dar toda a narrativa do filme ou daqueles que o realizam.
As paródias nas televisões ao fundo, geralmente em segundo plano no filme, emulando programas sensacionalistas populares no Brasil, são a representação perfeita de como o filme encara o Estado onde se passa: através de uma tela sem qualquer filtro sobre o que é verídico. É ainda mais gritante quando vemos inserida na narrativa uma trama política, que denota ainda mais esse distanciamento da realidade, escancarado a superficialidade presente onde não devia existir qualquer ingenuidade, especialmente quando se vive um momento tão delicado como o contemporâneo. No fim das contas soa de maneira boba considerando tudo que vivemos nos últimos 4 anos.
Não o suficiente ser ingênuo e chapa branca em sua vertente política, fazendo uma espécie de política de “boa-praça”, é também ignorante -muitos podem considerar até estúpido- na forma como trata as mulheres em sua narrativa. É uma faceta que tenta se provar “desconstruída”, no entanto, o resultado é um machismo que se salienta até de maneira irracional, sendo que o filme acredita estar seguindo exatamente no caminho oposto. Este é, talvez, o maior problema de “Happy Hour”; a dificuldade em se distanciar de si próprio e encontrar a capacidade de analisar seus defeitos. O resultado, se não catastrófico, é então lamentável.