A Favorita (The Favourite, 2018); Direção: Yorgos Lanthimos; Roteiro: Deborah Davis e Tony McNamara; Elenco: Emma Stone, Rachel Weisz, Olivia Colman, Nicholas Hoult; Duração: 119 minutos; Gênero: Biografia, Comédia, Drama; Produção: Ceci Dempsey, Ed Guiney, Lee Magiday, Yorgos Lanthimos; País: Irlanda, Reino Unido, Estados Unidos; Distribuição: Fox Film do Brasil; Estreia no Brasil: 24 de Janeiro de 2019;
O grego Yorgos Lanthimos não é nada sútil, na verdade ele gosta do exótico e do bizarro, a fim de usar de todos os maneirismos estéticos possíveis para chocar seu público. Isso se tornou uma marca pessoal, por mais batido que tenha ficado, conquistou uma legião de admiradores e prêmios ao redor do mundo. Contudo, sua proposta de cinema é bastante restrita, ao tentar provocar reflexão e debate do seu espectador em questões da modernidade, sobre diferentes aspectos desta, mesmo que este termine a sessão sem nenhuma conclusão ou mesmo com zero pensamento. Eis que o grego deixa um pouco de lado essa provocação e adere ao star system hollywoodiano, ainda que mantendo sua estética, fazendo seu filme mais acessível até então: “A Favorita“, baseado vagamente em fatos reais.
No filme, a rainha Anne da Inglaterra (Olivia Colman) tem como principal conselheira e, secretamente, amante, lady Sarah (Rachel Weisz). O país está em pé de guerra com a França, o povo em miséria, os nobres se esbaldando, os impostos subindo e a rainha no mundo da lua. A chegada da prima distante de Sarah, Abigail (Emma Stone), abala as estruturas palacianas, pois a aparente ingênua acompanhante acaba por se tornar uma competidora a altura das atenções e dos privilégios que a monarca pode dar. Diante disso, um conflito de intrigas e conspirações toma conta da corte em prol do favoritismo da rainha Anne que, por mais ingênua e infantil que seja, entra no jogo de incentivar a rivalidade das duas.
Ao longo de toda sua filmografia, Lanthimos nomeou seus filmes citando algum animal: “Dente Canino“, “O Lagosta“, “O Sacrifício do Cervo Sagrado“. Sua intenção, por mais clara que possa parecer, é exaltar imageticamente o lado bestial do ser humano vivendo na contemporaneidade. A exceção dessa animal no título de “A Favorita” não excluí o longa da regra, vide que cada uma das personagens é construída como um animal distinto; políticas, vorazes, carentes, guerreando por poder, amor ou mesmo o desejo puro de ganhar. As três são como os coelhos que a Rainha Anne tanto admira e cria, elas tem ávido desejo por fornicar e ao mesmo tempo de serem adoradas, lutam para uma sobressair perante a outra. Os pombos que Abigail e Sarah atiram por lazer nada mais são que o povo, os plebeus reféns do gozo dos nobres. Tentam voar, mas são facilmente abatidos.
Gosto particularmente como o filme se assume uma sátira, completamente cartunesca e cafona, com isso não se leva a sério e faz questão de usar o exagero ao seu favor. Se no longa anterior do diretor a pretensão em ser uma obra inteligente acabou por torna-la um filme esquecível, agora ele adere a chacota que é o próprio cinema, ou seja, Lanthimos ri do próprio Cinema. O excesso de grande angular -o famoso “Olho de peixe”- torna a experiência um pouco incômoda, se era para gerar alguma profundidade e uma crítica ao ridículo do excesso do castelo, acaba causando certo tédio. O diretor já mostrou o quanto ama tamanho recurso, porém o seu uso quase gratuito acaba por anula-lo como experiência visual. No entanto, o grego se destaca aqui principalmente no quesito de direção de atores, de fato é uma das maiores dinâmicas de elenco já vista nos últimos tempos. Todo o elenco está soberbo e entrega e alcança seu auge. Não dá para deixar de citar as três atrizes principais, Olivia Colman (“Fleabag“), Rachel Weisz (“A Luz Entre Oceanos“) e Emma Stone (“La La Land – Cantando Estações“). Elas não caem na histeria coletiva, mesmo entrando na pura catarse -principalmente Colman. Já Stone está no melhor momento de sua carreira até agora. Colman é um achado, expressiva, carismática e encontra a linha tênue entre a manipulação e antipatia. Weisz, que vem retomando os grandes papéis tem um tempo, finalmente encontrou seu destaque. Vale destacar também Nicholas Hoult, que atua caracterizado todo filme com peruca e maquiagem pra lá de ridícula e de forma bastante séria, o que por si só já é um triunfo, particularmente eu não imaginava que ele tinha um domínio dramático tão grande, uma surpresa.
O roteiro pode ser recheado de “malandragens” e críticas sociais um pouco usuais, o que incomoda. Ao término, resta uma dúvida do que se fica de “A Favorita” além do show de grandes atuações. De todo modo, ainda que não seja tão relevante quanto pareça, é um entretenimento inofensivo e bem vindo.
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