A Espiã Vermelha (Red Joan, 2018); Direção: Trevor Nunn; Roteiro: Lindsay Shapero; Elenco: Sophie Cookson, Judi Dench, Stephen Campbell Moore, Tom Hughes, Ben Miles, Nina Sosanya, Tereza Srbova; Duração: 101 minutos; Gênero: Biografia, Drama, Romance; Produção: David Parfitt; País: Reino Unido; Distribuição: Califórnia Filmes; Estreia no Brasil: 16 de Maio de 2019;
Considerando o cenário político mundial, afinal, a ascensão de poderes da extrema direita fascista não é um mal e um fardo a ser carregado apenas no Brasil, é o mínimo esperar de um filme que lida com temas tão delicados que se tenha consciência suficiente para se posicionar da maneira correta, sabendo ler não apenas a ambiguidade do retrato que constrói, e também a demonstrando, mas tendo noção de que eventos ocorridos ali, no caso do filme durante a Segunda Guerra Mundial, que deviam servir de lição, ainda ecoam de maneira negativamente influente no contemporâneo, onde se relativizam as atrocidades então cometidas.
De certa maneira, “A Espiã Vermelha” até evita se complicar nesse quesito, apesar de ter como pano de fundo eventos chave do período. No entanto, o filme de Trevor Nunn faz isso porque está mais interessado em explorar outros quesitos, ainda que a protagonista e pivô da história tenha envolvimento direto com as situações que fazem desta história uma das mais intrigantes ocorridas no período. Contudo, o roteiro de Lindsay Shapero parece satisfeito em se contentar apenas em observar os romances que fazem parte da vida de Joan Stanley, interpretada em sua fase jovem por Sophie Cookson e na fase idosa por Judi Dench.
Nunn também parece pouco interessado em ir além e dá ao filme uma faceta das mais quadradas possíveis. Não há interesse em criar algo realmente a altura do que é a história, restando ao público também se contentar apenas em ver desenvolvidos, da maneira mais singela e ingênua possível, os interesses românticos da protagonista. Elemento ao qual parecem ser reduzidas as motivações de Joan, numa história que apela ao romântico irremediável, quase platônico, para justificar muito do que se vê acontecer. Tanto é que, pano de fundo a parte, a maneira como se estrutura “A Espiã Vermelha” podia ser um outro romance qualquer.
O que se salva, e é muito pouco, são alguns momentos mais emocionais de uma Joan mais jovem, onde Sophie Cookson (“Kingsman: O Círculo Dourado“) se demonstra uma atriz bastante expressiva, num bom sentido, e consegue nos convencer dos dilemas da personagem apenas com suas expressões. Só não se pode dizer o mesmo de Judi Dench porque a ela é dado um dos piores elementos do filme, quando nos dias atuais sua personagem é interrogada. É pouco o que lhe é exigido e, mesmo nunca questionando a qualidade de seu trabalho –que bem conhecemos, a verdade é que esta é uma atuação entregue no piloto automático.
Principalmente porque é um filme que não pulsa, que não tem qualquer vivacidade. A estrutura, que divide o filme em cenas mais curtas no contemporâneo e os flashbacks, estes mais longos, que contam a história e os atos da personagem, é completamente mecânica. Não é um elemento que se difunde de forma orgânica e até chega a atrapalhar o envolvimento com o que se vê, onde a única tentativa que Nunn e Shapero encontram para tentar salvar “A Espiã Vermelha” são recorrer a clichês românticos, porque, desde o princípio, foi a isso pelo que optaram por limitar sua narrativa.