Diamantino (2018); Direção: Gabriel Abrantes, Daniel Schmidt; Roteiro: Gabriel Abrantes, Daniel Schmidt; Elenco: Carloto Cotta, Cleo Tavares, Anabela Moreira, Margarida Moreira, Joana Barrios, Maria Leite; Duração: 92 minutos; Gênero: Comédia, Drama, Fantasia; Produção: Maria João Mayer, Justin Taurand, Daniel van Hoogstraten; País: Portugal, França, Brasil; Distribuição: Vitrine Filmes; Estreia no Brasil: 20 de Dezembro de 2018;
O cinema português é bastante inventivo nas abordagens que faz sobre sexualidade, identidade e ainda a questão política do país e do continente europeu, que passa por uma grande recessão econômica, ascensão da movimentos separatistas e de forças políticas conservadoras, além da crise dos refugiados cada vez mais profunda. Um filme conseguir englobar tantas questões de forma exagerada, servindo como humor, é um mérito quase inédito, eis a principal força motriz de “Diamantino“, longa português que tem como personagem um jogador de futebol abobalhado, porém extremamente bom de bola, totalmente nos moldes de Cristiano Ronaldo, mas que é facilmente manipulado por suas irmãs e os políticos locais, que enxergam em sua imagem uma forma de ganhar politicamente.
Diamantino (Carloto Cotta) se afasta do mundo do futebol após um evento traumático, e acaba adotando um refugiado africano para tentar desenvolver a empatia e o amor ao próximo, ter um legado para além dos gramados. Acaba que, paralelamente, está sendo investigado por uma agência secreta por suposto desvio fiscal, paralelamente, passa a ser garoto propaganda do partido nacionalista de direita que tenta fazer passar um plebiscito favorável à retirada de Portugal da União Européia, uma espécie de Brexit. Toda a crença nesses absurdos e o modo que tudo é tratado com tanta jocosidade e liberdade, garante que o filme tenha uma cumplicidade com cada espectador, o que é essencial pra qualquer obra audiovisual. Tudo acaba parecendo mais uma novela da rede globo, sem compromisso além de entreter do que um filme de festival sisudo que fala demais e nunca sai do lugar quando tenta tratar de um temática importante. É nisso que o espectador consegue refletir o quão ridícula é a situação social e política que vivemos.
Outro fato curioso é como ele abraça algumas ideias plásticas extremamente bregas (algumas parecem wallpapers do windows) e ele as usa e descarta sem a menor preocupação, isso mostra uma certa liberdade de seu próprio mecanismo, onde qualquer elemento que vai entrar em cena (seja ele muito criativo ou muito bobo) surge apenas pra intensificar a proposta mais básica da obra: fazer uma releitura bem contemporânea e simples de um melodrama sobre vítima e enganador ao mesmo tempo em que ambos gradualmente se libertam de seus mundos sufocantes para abraçarem a felicidade entre os mesmos. Ou seja, é o filme que utiliza muito artifício para depois descartar todos a fim de experimentar os sentimentos mais básicos que todo ser humano busca: amor e felicidade.
Nos deméritos principais da obra, a abordagem da questão de refugiados na Europa, rendendo os momentos mais apelativos – como uma cena que um europeu resgata um barco de refugiados, em sua lancha. Como os diretores claramente não tem muito aproximação com esse universo, é bem-vinda a forma que eles usam mais como um veículo a fim de atacar o papel da mídia na manipulação das massas e como uma grande figura popular geralmente é só um boneco de gente muita poderosa e inescrupulosa.
“Diamantino” tenta abraçar vários gêneros (espionagem, aventura, ficção cientifica, melodrama) com tanta ingenuidade que até o momento mais bobo parece crível. Isso é importante, diante de tantas ideias (algumas inteligentes, outras bobas) é preciso dirigir o material com a crença dele para não parecer que estão por menosprezar o personagem. Ao final, temos a convicção que se trata de um filme que, diante de tantas propostas, tem como mérito principal ser uma ode à empatia. Algo extremamente necessário nos tempos atuais.