- Título Original: Tom à la Ferme
- Gênero: Suspense/Drama
- Direção: Xavier Dolan
- Roteiro: Xavier Dolan e Michael Marc Bouchard
- Elenco: Xavier Dolan, Pierre-Yves Cardinal, Lise Roy e Evelyne Brochu
- Duração: 98 minutos
- País de Origem: Canadá/França
- Ano: 2013
Xavier Dolan, começou a carreira precocemente, quando tinha em torno de 20 anos, com “Eu Matei Minha Mãe”, um drama sobre a conturbada relação entre um filho e a mãe. Um prodígio, serviu de referência e ajudou a alimentar ainda mais os sonhos dos jovens que também sonhavam em ser cineastas. Seus trabalhos apresentavam uma estética apurada, mas isso acabou o prejudicando demais no seu último trabalho, “Laurence Anyways”. Um drama pretensioso, de quase três horas de duração, que serviu para expor todos os seus delírios visuais, trazendo figurinos e cenas bastante ligadas a moda, mas se esquecendo um pouco de algumas características mais importantes para se fazer um bom filme. Talvez por isso, “Tom na Fazenda” seja tão oposto e seu filme mais simples nesse aspecto, mas nem por isso menos belo, mostrando uma maturidade nunca vista antes no seu cinema.
Nele temos Tom, um jovem redator publicitário, que viaja para o interior para o funeral de seu namorado, Guillaume. Chegando lá, choca-se com a realidade de que ninguém o conhece e nem sabem do relacionamento dos dois. Francis, irmão de Guillaume, um legítimo representante do machismo rural, a fim de preservar a identidade sexual do irmão, o confronta e o coloca em um jogo de mentiras.
Baseado na peça de Michael Marc Bouchard, inicialmente parece que o que veremos é um drama sobre problemas e revelações familiares, mas logo mostra-se ser um legítimo suspense psicológico, com momentos de terror e uma trilha sonora típica do gênero. Tom nitidamente era apaixonado por Guillaume, como mostra uma belíssima carta escrita no início do filme – “Hoje foi como se uma parte de mim tivesse morrido, pois não consigo chorar. Esqueci os sinônimos da palavra tristeza…” . Acaba indo até a fazenda a fim de dividir e receber consolo dos parentes dele, que compartilham do mesmo luto, mas acaba se envolvendo em um jogo sádico.
A ambientação escolhida pelo diretor para desenvolver os acontecimentos não poderia ser melhor, uma fazenda, afastada da cidade, uma vida rural que é novidade para o personagem, como um início, assim como os problemas que ele enfrenta e a identidade que ele é obrigado a assumir, contribuindo para seu clima de aprisionamento e sufocamento, transferidos também para o espectador. A fotografia auxilia nesse ponto, apresentando um local quase sempre nublado, carregado por um clima sombrio.
Tom é a figura ideal para preencher o lugar agora vazio na família. A mãe Aghate, faz dele o seu filho falecido e Louis, sem o irmão acaba tendo todas as responsabilidades de cuidar da mãe e da fazenda para si. Interpretado por Pierre Yves-Cardinal, uma verdadeira revelação, Louis é o personagem mais interessante e instigante da trama, que se focaliza na sua relação com Tom. Acaba ele se mostrando um personagem mais problemático que o próprio protagonista. Por oras um vilão, de comportamento agressivo, mas apresentando personalidade dúbia em alguns momentos, sempre com um ar misterioso, de quem esconde algo, acaba até confundindo o espectador, sendo possível se tirar dele diversas visões e interpretações. O próprio inclusive coloca algumas questões suas em xeque, como fato de já ter 30 anos, ser um homem bonito, capaz de satisfazer uma mulher em todos os aspectos e ainda morar com a mãe. Todas essas dúvidas a seu respeito, acabam ajudando na imprevisibilidade do filme, onde o espectador trabalha o tempo todo com hipóteses, para as verdadeiras revelações serem trazidas aos poucos. Sua perseguição excessiva por Tom, suas atitudes muitas vezes homofóbicas, acabam colocando até sua sexualidade em questão. Adiciona-se então um clima de tensão com apelo sexual, se aproveitando do perfil sedutor e viril de Louis e da sexualidade de Tom, tornando-o ainda mais interessante e chegando a ápice em uma cena de briga na plantação, uma das melhores do ano.
Premiado no Festival de Cinema de Veneza, “Tom na Fazenda” é um novo exercício narrativo e estético para o diretor. Sua obra-prima ainda não surgiu, afinal existe muito ainda para se aprender, mas fica claro que trata-se de um diretor dedicado, de personalidade e capaz de inovar. Agora é só aguardar para seu próximo filme, “Mommy”, que já será exibido no Festival de Cinema de Cannes desse ano.
http://www.youtube.com/watch?v=nO6PPKYpwPA