Não há dúvidas que Wes Anderson é um cineasta dos mais originais e autorais entre os estadunidenses desde a virada do milênio, com uma identidade autêntica e que se reconhece a partir dos primeiros minutos de qualquer obra que se assista dele. Contudo, essa marca também parece ter se tornado um vício, com seu ápice vindo ali entre 2012 e 2014, com “Moonrise Kingdom” e “O Grande Hotel Budapeste”, com o realizador posteriormente tendo dificuldade em acertar no todo com seus filmes, porque por mais irregulares que sejam, há sempre algo que sobressai, algo que torna o cinema de Wes Anderson especial, mas recentemente há um desencontro, com filmes sobrecarregados de tramas e personagens, resultando no subdesenvolvimento de ambos e tirando foco e, principalmente, a força de protagonistas da narrativa, sendo “A Crônica Francesa” com certeza a maior vítima disso, mas vindo dali um dos melhores trabalhos de atuação sob comando de Wes Anderson. Não é à toa, portanto, que Benicio Del Toro retorna como protagonista em “O Esquema Fenício”, que tira algumas lições das empreitadas anteriores do diretor, mas ainda assim fica aquém do que sabemos que ele pode entregar e ao que o próprio filme apresenta ter como potencial.
As primeiras impressões empolgam, porque “O Esquema Fenício” mostra o diretor afiado e no que aparenta ser sua melhor forma, com um foco bastante claro no protagonista e na relação deste com sua filha distante e que em breve se converterá em uma freira, mas que ele quer que assuma os negócios da família em eventual caso de sua morte enquanto tenta completar o esquema mais ambicioso de sua carreira. Assim, temos aqui uma abordagem bem mais individualizada, e o estrelado elenco, diferente de “Asteroid City”, não carece de tanto tempo em cena, pois são, de fato, meros coadjuvantes, com exceção de Michael Cera que tem uma participação maior e merecidamente, afinal se mostra um dos pontos mais altos (e engraçados) do filme. Essas escolhas fazem com que este seja o filme mais conciso de Wes Anderson nos últimos tempos, e isso devia fortalecer a conexão do espectador com o protagonista e sua história, mas há um distanciamento. Ocorre é que parece haver uma repetição de coisas que o cineasta já fez melhor antes, não acredito que ainda seja uma paródia de si mesmo, longe disso, mas falta a energia e a eficácia que tornavam suas narrativas mágicas.
O ritmo de “O Esquema Fenício” vai se esvaindo aos poucos e entre idas e vindas, perde sua força e mal consegue concatenar sua catarse da maneira devida. Esbanja simpatia, mas falta uma resolução melhor mesmo tendo esse foco todo, porque fica a sensação de que saímos do nada para lugar nenhum, andando em círculos pelo que a imaginação de Wes Anderson é capaz de construir, mas há anos não é capaz de entregar em sua totalidade. Acho que desta vez até vai pelo caminho certo, se é que existe tal coisa, mas seus vícios repetitivos entram em ação e a história principal parece ficar em segundo plano. Há beleza de sobra aqui, assim como diversão, mas a sensação de que se está diante de algo tão efêmero é sempre maior, e no fim das contas “O Esquema Fenício” deixa esse gostinho de algo saboroso, mas enjoativo, que com certeza podia ser melhor, mas faltou o tempero certo.
“O Esquema Fenício” – Trailer Legendado:
“O Esquema Fenício” (“The Phoenician Scheme”, 2025); Direção: Wes Anderson; Roteiro: Wes Anderson; Elenco: Benicio del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera, Riz Ahmed, Tom Hanks, Bryan Cranston, Mathieu Amalric, Richard Ayoade, Jeffrey Wright, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch, Rupert Friend, Hope Davis; Duração: 105 minutos; Gênero: Aventura, Comédia, Drama, Policial; Produção: Wes Anderson, Steven Rales, Jeremy Dawson, John Peet; País: Alemanha, Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 29 de Maio de 2025;